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2 de setembro de 2014

Uma possível fórmula para o combate à depressão

Há algumas semanas, o mundo ficou perplexo com a morte do ator hollywoodiano Robin Williams. Convivendo com uma forte depressão há alguns anos, o ator, que encantou o mundo com seus papéis cômicos e dramáticos, (ao que tudo indica) decidiu dar fim à própria vida.Paulo_Sousa-200

Embora a morte de Williams tenha ganhado repercussão por ser ele uma figura notória, a depressão é uma doença que, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta mais de 350 milhões de pessoas de todas as idades em todo o mundo, sendo que anualmente cerca de um milhão de pessoas cometem suicídio em razão da doença.

Os três níveis de depressão

Num contexto geral, a depressão é classificada em três níveis: sintomas, síndrome e doença. Quando se trata de sintomas, o paciente pode viver normalmente, sem ter suas atividades cotidianas comprometidas. No segundo caso, a rotina já pode ser afetada, inclusive por sintomas fisiológicos, como dores de cabeça ou irritações. No último caso, há o comprometimento geral da vida do infectado, tanto da rotina diária como do próprio organismo.

No terceiro nível, uma das principais intervenções é o uso de antidepressivos, que podem ser de dois tipos: triclínicos e inibidores de recaptação de serotonina*. Mesmo com efeitos colaterais em alguns casos, remédios baseados em inibidores de recaptação de serotonina são considerados menos prejudiciais ao organismo, e os mais indicados para depressão. Ao serem ingeridos, tais remédios atuam nas enzimas que promovem recaptação de neurotransmissores, incluindo a própria serotonina.

Pesquisa para aprimoramento dos antidepressivos

Com todas essas informações em mente, o estudante de mestrado do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Paulo de Sousa Carvalho Júnior, sob orientação do docente Javier Ellena, Paulo_Sousa-_box_diminuir_DENTRO_DO_SITE_para_tamanho_400tem realizado um estudo básico que tem como objetivo desenvolver novas fórmulas sólidas desses inibidores. Mas, por que isso é necessário?

A maioria dos antidepressivos atuais são pouco solúveis e estáveis. O trabalho de Paulo vem para sanar esses dois problemas, buscando maneiras novas de obter formas sólidas de elementos que compõe os antidepressivos, através da caracterização de sais ou cristais que possam apresentar propriedades melhores do que os atuais. “Os antidepressivos mais conhecidos tiveram suas fórmulas desenvolvidas na década de 80 e, desde então, poucas estruturas têm sido reportadas até o momento”, explica Paulo.

Através de técnicas cristalográficas, Paulo tem feito a caracterização de alguns elementos para, posteriormente, realizar a análise de suas propriedades. “A metodologia desse desenvolvimento consiste em trabalhar numa síntese supramolecular, uma vez que analiso fórmulas já existentes e, a partir daí, obtenho novas fórmulas similares ou com comportamento semelhante”, elucida o mestrando.

Por desenvolver a forma sólida antecipadamente em laboratório, há uma preciosa economia de tempo na etapa final, que é o desenvolvimento de um novo fármaco. “Por ter estrutura igual a outra forma sólida já existente, os testes clínicos, por exemplo, que são muito demorados, podem ser dispensados”, afirma Paulo. “A partir do momento que se tem o entendimento sobre a estrutura em termos de conformação, configuração e arranjo supramolecular já é possível inserir modificações. No caso de um novo antidepressivo, será possível diminuir-se efeitos colaterais, além da melhora da solubilidade e estabilidade”.

Etapas básicas

O objetivo final do trabalho de Paulo, portanto, é desenvolver e caracterizar novas formas sólidas com propriedades otimizadas, como já dito anteriormente. Mas, até lá, algumas etapas precisam ser concluídas. “Por mais que haja planejamento, diversos contratempos aparecem nos experimentos em laboratório. Alguns procedimentos podem falhar, outros experimentos podem não trazer o resultado desejado…Muitas coisas são tentativa e erro”, conta o pesquisador.

Mesmo assim, como em muitas pesquisas, resultados realmente significativos podem demorar para aparecer. Mas, como muitos outros remédios já bem conhecidos por todos nós, é só uma questão de tempo para que eles apareçam nas prateleiras das farmácias.

*A serotonina é neurotransmissor reponsável, entre outras coisas, pela regulação do sono, do humor e do apetite;

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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