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30 de março de 2012

Um plus para educação

Falar em ensino e educação é fazer uma associação direta com escolas e salas de aula. Na língua dos educadores, isso é chamado de “espaço formal de ensino”. Paralelamente, existem, também, os “espaços não formais de ensino”, por sua vez, fora das salas de aula, podendo acontecer em locais diversos, como centros de ciências e museus, por exemplo.

Cibelle-2Na cidade de São Carlos, especificamente, alguns locais servem de sede desses espaços, incluindo-se nessa lista o Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC/USP), o Observatório “Prof. Dietrich Schiel” (ambos pertencentes à Universidade de São Paulo (USP)), aterros sanitários, estações de tratamento de água e esgoto, entre outros.

Sair da sala de aula e levar os estudantes até esses locais pode- e deve- servir de estímulo ao aprendizado. “Tudo isso chamamos de ‘aprendizagem não formal’, onde o aprendizado acontece, mas não é algo que será usado para medir o conhecimento dos alunos através de provas ou atividades inclusas no currículo escolar. São atividades complementares, que serão mostradas de maneira diferente de como é mostrado em sala de aula”, explica a docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Cibelle Celestino Silva.

Um dos principais objetivos do ensino não formal é, justamente, despertar o interesse do aluno. E, geralmente, ele é atingido, o que pode ser comprovado por pesquisas desenvolvidas pela própria Cibelle que, há quatro anos, tem se dedicado ao assunto. “Nesses espaços, o compromisso com o aprendizado existe, mas não no formato que estamos acostumados”, afirma.

Direcionando-se a ideia para o ensino de física, atividades experimentais são escassas e, praticamente, inexistentes em sala de aula. O ensino nos espaços não formais, portanto, atende dois objetivos: complementação do aprendizado e o despertar do interesse.

Cibelle cita alguns referenciais teóricos britânicos, para justificar o ensino em espaços não formais. Segundo tais teorias, o ensino em espaços não formais passa por três contextos e um deles é o sócio=cultural que prega que o que é ensinado aos alunos será absorvido de acordo com sua bagagem cultural e experiência familiar de cada um. “No espaço não formal, a individualidade é respeitada de outra forma”, explica a docente.

Alicerçada nesse contexto, Cibelle já trabalha com projetos direcionados a essa linha de pesquisa. O primeiro trabalho foi desenvolvido no Observatório “Prof. Dietrich Schiel”, onde, com o auxílio do estudante, Pedro Donizete Colombo Júnior, criou-se um questionário e realizou-se entrevistas, e tudo foi respondido pelos alunos e professores que visitaram o local. E chegou a interessantes conclusões.

Fora da sala de aula ficou mais divertido e/ou inteligível?

Os questionários, aplicados a dezenas de turmas do ensino fundamental (turmas com uma média de 30 alunos), continham tanto questões de aspecto social como aquelas voltadas à visita, em si. “Os alunos respondiam questionários antes e depois das visitas, um mês depois, mais ou menos. A intenção era saber o que tinha sido aprendido, não só sobre o conteúdo, mas também impressões”, conta Cibelle. “Um dos resultados positivos foi ver que, não somente os estudantes tinham vontade de voltar, mas também de trazer os pais em uma próxima oportunidade”.

O projeto mais recente da professora visa aprimorar o uso da “Sala Solar”, montada no Observatório “Prof. Dietrich Schiel”, pela equipe do Observatório, com a colaboração de um dos orientandos da professora. A sala, visitada por diversas turmas de escolas de ensino médio, abriga um helióstato*, um telescópio e um espectroscópio**. Na sala, ocorre a projeção do sol em uma tela de cerca de 1 metro de diâmetro e também a observação do espectro solar.. “O projeto atual é trabalhar junto com os professores do ensino médio, sendo cinco de física e dois de química. Queremos desenvolver atividades possíveis de serem usadas por eles, de uma forma mais efetiva, complementando o ensino em sala de aula”.

No projeto, a professora pretende, inclusive, oferecer bolsas aos professores participantes. A ideia é desenvolver sequências de ensino e aprendizagem, focando em conteúdos de física moderna (física atômica, radiação de corpo negro, espectroscopia etc.). “Os professores não têm conhecimento sobre esse conteúdo. Queremos trabalhar com eles, para que possam trabalhar parte do conteúdo em sala de aula e parte no Observatório”, explica Cibelle.

Portanto, a otimização do uso da Sala Solar é um ponto importante e a parceria com as escolas públicas, essencial.

Um pouco de filosofia

CibelleAs vantagens do novo programa se estendem por diversos caminhos: para os professores do ensino médio, mais e melhores oportunidades de compreender os conteúdos que lhe cabem, e passar corretamente aos alunos. Para os alunos, um aprendizado melhor e mais divertido. Para os idealizadores do projeto, uma resposta para sua pesquisa. Para sociedade, melhores profissionais no futuro.

Mesmo assim, os desafios são imensos. O psicanalista e educador, Rubem Alves, bolou uma “teoria”. “Figure que uma cebola cortada é um modelo do mundo. Bem no centro, lá onde o primeiro anel é tão pequeno que não chegou a ser anel, ponha uma criança. Imagine que os anéis são os mundos que ela precisa conhecer para viver. Mas não é possível comer o que está longe. Não é possível pular anéis. Só se pode comer o quarto anel depois que se comeu o primeiro, o segundo e o terceiro anéis”, descreve o educador.

Essa analogia, sem muitos termos técnicos ou expressões acadêmicas, de uma maneira extremamente descomplicada, tenta explicar a teoria dos “obstáculos epistemológicos”, redigida pelo filósofo francês, Gaston Bachelard, que busca explicações para as dificuldades do aprendizado. “As crianças pequenas tendem a pensar de uma forma anímica, ou seja, ‘atribuindo alma às coisas’. Elas atribuem a atração de uma fruta para o chão da Terra pelo fato de a fruta ‘gostar’ da Terra. Esse é um exemplo de obstáculo epistemológico que deve ser vencido, pois está em desacordo com o conhecimento científico”.

Em suas pesquisas desenvolvidas no CDCC, ao aplicar os questionários aos alunos, Cibelle notou diversas respostas carregadas de obstáculos epistemológicos. “Os professores tendem a ignorar esses obstáculos, a ignorar os pensamentos anímicos. Mas, para os alunos que pensam dessa forma, tal explicação tem sentido e mudá-la é que não tem. Então, são esses os vários desafios que se sobrepõe sobre o ensino de ciências”, comenta a docente.

Tendo-se em mente que a maior tarefa da escola é trazer o conhecimento científico aos seus alunos, sem “pular os anéis da cebola”, as atividades em espaços não formais de ensino mostram-se como uma alternativa inteligente, didática e mais gostosa de aprender. E, sem dúvidas, a estratégia mais coerente para que os estudantes possam passar por cada anel de conhecimento e, efetivamente, terem acesso ao conhecimento científico necessário que, para eles, faça algum sentido.Cibelle-1

*aparelho que acompanha o sol e permite a projetação de sua imagem, possibilitando a visualização de manchas solares

** aparelho usado para observação do espectro solar e outros experimentos

 

 

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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