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26 de março de 2015

Úlceras venosas: tratamento com sucesso de 100%

Como já é sabido, as veias e artérias do corpo humano são os “meios de transporte” que possibilitam a circulação do sangue por todo organismo. Não raro, durante esse trajeto, alguns problemas podem surgir, e um dos mais comuns, especialmente em idosos, é a úlcera venosa.

O bombeamento de sangue das artérias do coração aos dedos dos pés é um fluxo constante e de dupla via. Ou seja, os membros inferiores, ao receberem o sangue, posteriormente, precisam devolvê-lo ao coração. Quando esse caminho inverso não é bem-sucedido, a consequência é a acumulação de sangue nas veias das pernas, formando as conhecidas varizes. A pressão, acrescida do congestionamento de sangue nas varizes, prejudica, entre outras coisas, o abastecimento dos tecidos com oxigênio e nutrientes, causando inchaço nas pernas e pés e tornando a pele extremamente vulnerável a feridas que, por fim, podem dar início às úlceras.

Inúmeras são as más consequências da enfermidade que afeta a vida física e psicológica daqueles acometidos pelas feridas que, em muitos casos, podem ficar abertas por mais dez anos. Nos Estados Unidos, aproximadamente 25 milhões de adultos são afetados pela doença, apresentado um espectro grande de manifestações e acarretando um sério problema de saúde pública em termos de cuidados médicos, dias de trabalho perdidos e diminuição da qualidade de vida. Estima-se que, nos Estados Unidos, o custo aproximado seja de U$30 mil dólares por ano do tratamento da úlcera venosa por paciente *. No Brasil, num estudo feito com 1755 pacientes, mostrou-se uma prevalência de veias varicosas em 47% dos casos, com presença de úlcera ou cicatriz de úlcera em 3.6 %**.

A cura

Consciente da gravidade das úlceras venosas de difícil cicatrização, a aluna de pós-doutorado do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (GO- IFSC/USP), Vitória Maciel, orientada pelo docente do IFSC, Vanderlei Bagnato, desde o início de 2014, tem dedicado seu tempo para encontrar uma solução para o problema.

Vitoria-_antes_e_depois_1Tendo-se em vista que o GO já apresenta diversas pesquisas bem-sucedidas na área de lasers, a pesquisadora decidiu verificar a eficácia do método, que tem grande poder de cicatrização, para curar as úlceras. Porém, quando as úlceras estão infectadas, por causa da exposição ao ambiente, a emissão de laser sobre elas é contraindicada.

Foi quando Vitória, em parceria com outros pesquisadores do grupo, entre eles Patrícia Ramirez, decidiu usar um tratamento combinando de terapia fotodinâmica (desinfecção das feridas) e laser (cicatrização), também acrescentando ao tratamento o uso de pele artificial (biomembrana), que auxilia na cicatrização e protege o ferimento.

Com a “fórmula” do tratamento em mente, Vitória resolveu fazer uma triagem de voluntários para aplicar as técnicas terapêuticas mencionadas acima. Em princípio, 50 pacientes serão selecionados e os testes tiveram início em setembro do ano passado. “Os pacientes foram encaminhados por médicos da rede pública de saúde e estão recebendo nosso tratamento gratuitamente. Enquanto a úlcera não desaparece completamente, continuamos com o tratamento”, explica Vitória.

O tratamento

Como já mencionado, os pacientes de Vitória são encaminhados pelos postos de saúde públicos. Antes de dar início à terapia, ela fotografa as feridas e retira uma amostra de tecido para análise bioquímica. O próximo passo é a higienização da ferida. Quando infeccionada, ela recebe a terapia fotodinâmica. Caso não, entra-se diretamente com a terapia de laser de baixa intensidade e inserção da pele artificial.

Pacientes mais jovens costumam responder mais rapidamente, bem como feridas menores ou abertas há menos tempo. “Conseguimos solucionar uma úlcera aberta na perna de um paciente há dois ou três anos em dois ou três meses”, exemplifica a pesquisadora. “Feridas pequenas podem sanar completamente em 45 dias”.

As sessões são realizadas duas vezes por semana e demoram cerca de uma hora a uma hora a meia, dependendo do tamanho da lesão.

Até o momento, dos 50 pacientes selecionados para primeira etapa do tratamento, dez já foram dispensados, e o tratamento foi bem-sucedido em todos os casos. “Com nosso tratamento, a ferida demora menos da metade do tempo para fechar, se comparado com os tratamentos tradicionais. Os médicos estão satisfeitos com nossos resultados”, comemora a pesquisadora.

Vitoria-_antes_e_depois_2O pós-doutorado da pesquisadora será finalizado em um ano. Passado esse tempo, o tratamento já poderá ser disponibilizado à população. “Já poderíamos disponibilizar o tratamento agora mesmo, caso os profissionais de saúde recebessem treinamento adequado”, afirma.

De acordo com Vitória, o custo da terapia para aqueles que, no futuro, optarem por realizá-la em clínicas particulares não deve ser alto. Além dos aparelhos, as clínicas precisam adquirir as peles artificiais, fotossensibilizadores e o equipamento. “Eu diria que o custo deve ser num valor intermediário, pois a técnica é combinada, tornando o tratamento complexo, o que pode encarecer um pouco”, explica.

Planos futuros

Finalizado os tratamentos de úlceras venosas, Vitória conta que pretende dar continuidade ao projeto, mas, dessa vez, com foco em úlceras de forma geral, inclusive as úlceras diabéticas, com a melhoria do método de análise das feridas e da apresentação do fotossensibilizador, contando com a parcerias como o da docente do Departamento de Morfologia e Patologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Fernanda de Freitas Anibal  e da pós-doutoranda do GO, Fernanda Carbinatto.

Outro foco de futuras pesquisas da pós-doutoranda é também no tratamento de diferentes tecidos que vise à melhora da condição da pele como um todo, inclusive com foco também na área estética, ou seja, na melhora de rugas, estrias e celulites. “A ideia futura é partir da patologia para a estética, pois tudo aquilo que você já sabe que funciona bem num tecido lesado, certamente funcionará num tecido em melhores condições”, finaliza Vitória.

*Fonte: LIU, Y.C., et al, 2011

**Fonte: estudo feito por Maffei et al. em 1986

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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