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18 de janeiro de 2012

Tratamento para micose de unha através de terapia fotodinâmica

Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos utilizam a técnica de inativação de microorganismos por terapia fotodinâmica para combater fungos causadores da onicomicose – a temida micose de unha. A expectativa é produzir um aparelho prático e disponibilizar a técnica de maneira acessível a toda população.

A terapia fotodinâmica, técnica baseada na utilização de luz para ativação de compostos medicamentosos, tem sido presença cada vez mais forte no tratamento de enfermidades, principalmente na área da dermatologia. Recentemente, presenciamos a explosão midiática referente ao desenvolvimento e distribuição, no Sistema Único de Saúde (SUS), de um aparelho para diagnóstico e tratamento do câncer de pele, baseado na mesma técnica. Além do descarte da intervenção cirúrgica, o que diminui riscos e garante um melhor resultado estético, a promessa é de que a técnica apresente resultados significativos em até dez dias, destruindo de maneira seletiva células cancerosas e pré-cancerosas. Mas este tratamento tem aplicações que vão muito além de tecidos e combate a tumores. Uma equipe do Instituto de Física de São Carlos aplica a técnica para combater fungos e bactérias – a chamada inativação fotodinâmica -, através de um protótipo, em pacientes em estágios avançados de onicomicose.

IMG_8329A onicomicose, mais conhecida como micose de unha, é uma infecção muito recorrente, causada basicamente por fungos que podem ser adquiridos de várias formas, desde o contato com o solo até a utilização de alicates ou lixas contaminadas. Algumas pessoas acabam por sofrer deste mal por muitos anos sem sucesso em tratamentos, sentindo muita dor e sofrendo de outras infecções bacterianas que podem se alojar no local. Isso ocorre porque os tratamentos convencionais são mais paliativos do que uma solução definitiva, e são associados a altas taxas de falha e recorrência.

O Grupo de Óptica do IFSC, por iniciativa do professor Vanderlei Bagnato, tem trabalhado há alguns anos com a técnica de inativação fotodinâmica de microorganismos causadores de doenças. Sabendo deste potencial da técnica na inativação de fungos e bactérias, e considerando o quadro atual do tratamento da micose de unha, foi pensado um projeto de pesquisa nesta área e um protótipo do equipamento foi desenhado. Rapidamente uma colaboração teve início com Ana Paula da Silva, uma farmacêutica em formação, na época, que já trabalhava com a técnica, mais especificamente com medicamentos fotossensibilizadores em shampoos para o tratamento da caspa. Logo foi firmada uma parceria com a faculdade Anhembi Morumbi, em São Paulo, através do professor Armando Bega, do Curso de Podologia, o que avançou muito a pesquisa devido à infraestrutura disponível na faculdade paulistana. Atualmente, a mestranda Ana Paula viaja semanalmente para a capital, onde trata cerca de quarenta pacientes – entre casos finalizados e em processo de finalização.

Funcionamento

Para o diagnótisco da onicomicose, a mestranda Ana Paula faz uso de um equipamento de fluorescência, já disponível no mercado para o diagnóstico de cáries e placas bacterianas. O equipamento permite uma localização mais exata dos fungos causadores da infecção através da fluorescência característica do próprio microorganismo.

Hoje, a pesquisa baseia-se na utilização de dois protótipos diferentes para o trato da unha, sendo que cada protótipo trabalha com um comprimento de onda diferente, a fim de ativar diferentes substâncias nos medicamentos, que se diferenciam tanto em estrutura química quanto em espectro de absorção. São compostos fotossensíveis bem diferentes, comenta Natalia Mayumi Inada, especialista em laboratório do Grupo de Óptica e orientadora do projeto. O intuito é comparar a eficácia de cada composto, e para isso utilizamos, para cada um, uma fonte de luz específica: uma na região do vermelho e outra na região do azul, completa.

Assim, o equipamento, liberando a luz em um comprimento de onda específico, tem a função de ativar o composto fotossensível que, já em contato com a unha danificada, gera espécies reativas de oxigênio que são prejudiciais aos microorganismos. Estas espécies reativas de oxigênio são tóxicas para o fungo ou para a bactéria e acabam por eliminá-los, esclarece Natalia. A medicação fica em contato direto com a lesão durante apenas uma hora, iluminada por vinte minutos. Com a rapidez da ação, Ana Paula conta que consegue tratar de dez a quinze pacientes por dia.

prototipo_onicomicose

Tanto o protótipo do equipamento quanto a técnica da inativação fotodinâmica já estão patenteadas. As medicações utilizadas são comerciais, já aprovadas para estudos clínicos experimentais – uma de origem russa e outra nacional, sintetizada por uma indústria farmacêutica de Ribeirão Preto.

Próximos passos

Na próxima etapa desta pesquisa, após a finalização do tratamento dos pacientes em São Paulo, a equipe pretende montar uma infraestrutura em Ribeirão Preto. Isso porque uma empresa especializada na área médica e odontológica, sediada em Ribeirão Preto, manifestou interesse em transformar o protótipo em equipamento e produzi-lo. Assim, haveria uma colaboração com uma podóloga para o tratamento de um grupo de pacientes, grupo do qual sairiam resultados que seriam enviados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária para a aprovação do equipamento e desenvolvimento do produto final. A empresa tem avançado muito na área de Podologia, disponibilizando infraestrutura moderna para clínicas de podologia, e por isso demonstrou interesse em oferecer aos podólogos um equipamento para o tratamento da onicomicose em seu próprio consultório.

Uma outra parceira em potencial é uma indústria de cosméticos localizada em São Paulo, que pretende fechar mais um grupo de pacientes na capital e também desenvolver o equipamento de maneira comercial. Para nós, essa parceria com indústrias é muito importante para tornar a técnica acessível na comunidade, porque sabemos que o projeto de pesquisa vai chegar ao fim, ao contrário do número de pacientes sofrendo desta doença. Estamos trabalhando a todo vapor para que a técnica seja difundida, sobretudo de maneira economicamente acessível, comenta Natalia. Pelas experiências anteriores, sabe-se que isto é uma realidade muito possível – a mídia divulgou amplamente a distribuição de um equipamento para diagnóstico e tratamento do câncer de pele no Sistema Único de Saúde (SUS), um projeto desenvolvido pelo mesmo grupo de pesquisa no IFSC e que também funciona com base na terapia fotodinâmica.

Panorama atual

O tratamento da onicomicose por terapia fotodinâmica já existe, mas custa muito caro e poucos conseguem usufruir das vantagens da técnica. Por isso, atualmente, o tratamento da onicomicose se dá de duas formas: via oral ou tratamento tópico. Em ambos os casos, a resposta não é tão eficaz, razão pela qual a maioria dos pacientes tratados por Ana Paula sofre desse mal há anos. Além disso, quem toma medicamento tem efeitos colaterais, e a terapia que utilizamos tem aplicação local e se utiliza de medicação tópica, o que também contribui para impedir que os microorganismos criem resistência, explica Ana Paula. Já foi provado que alguns microorganismos específicos desenvolveram resistência a alguns medicamentos, completa Natalia. No caso da inativação fotodinâmica, os pacientes podem ser submetidos a quantas sessões do tratamento forem necessárias. “Nossa única recomendação, neste sentido, é que haja um intervalo de uma semana entre cada aplicação“, observa Natalia.

O tratamento está sendo oferecido gratuitamente, de maneira experimental, nesta etapa do desenvolvimento da pesquisa. Segundo as pesquisadoras, a maioria dos pacientes já se mostra muito desacreditada com os tratamentos convencionais e não vê mais solução para seus casos, mas esta terapia têm mudado suas perspectivas de saúde e bem-estar, até porque basta comparecer ao local e não faltar às sessões, conta Natalia.

ana_natalia

Pesquisa básica

O interessante deste projeto de pesquisa é que, além da aplicação prática do tratamento, Ana Paula desenvolve uma cultura dos microorganismos em laboratório – o chamado processo in vitro, maneira pela qual se investiga processos biológicos fora de sistemas vivos. Ana Paula cultiva, em placas, uma grande parte da linhagem dos fungos causadores da onicomicose e aplica a terapia fotodinâmica para avaliar sua reação. É a associação da pesquisa básica, que é a parte laboratorial, com a pesquisa aplicada, que é a parte clínica em si, envolvendo pacientes. Isto desperta muito o interesse da comunidade, desde pacientes em potencial até outras universidades e empresas que pretendem colaborar e difundir a técnica“, finaliza Natalia.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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