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8 de maio de 2012

Em que “pé” está?

Menos de um ano após o início dos testes com voluntários para o tratamento da onicomicose (mais conhecida como “micose de unha”), utilizando equipamento desenvolvido no Laboratório de Apoio Tecnológico do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e o composto fotossensibilizador, feito por uma empresa nacional, os resultados são satisfatórios e animadores, especialmente aos pacientes tratados.

Do início de 2011, quando os testes tiveram início em São Paulo, até o presente momento, onde pacientes em São Carlos e Ribeirão Preto também já são beneficiados, totalizando 90 pacientes, 10 deles já estão dispensados do tratamento, com cura completa das unhas infectadas. “Não tratamos casos simples, até porque quem se candidatou à pesquisa foram aqueles que já tentaram de tudo e não tiveram nenhuma melhora”, conta Natalia Mayumi Inada, pesquisadora do Grupo de Óptica do IFSC e orientadora da pesquisa.

Dos 10 casos tratados, a micose foi eliminada completamente e não houve mais manifestação da infecção. “A duração do tratamento, obviamente, depende de cada caso. Alguns estão mais avançados e o tratamento pode chegar a um ano. Mas, em casos mais simples, pode durar, apenas seis meses”, afirma Ana Paula da Silva, autora do projeto.

As pesquisadoras afirmam que o paciente é quem determina o desenrolar do tratamento. Pensando-se no “antes”, aqueles que já ingeriam remédios para cura da infecção, provavelmente apresentarão mais resistência ao novo tratamento. Pensando-se no “durante e no “depois”, alguns cuidados de higiene são determinantes para o suceMicose-1sso, como trocar as meias contaminadas ou andar mais constantemente com sapatos abertos, não compartilhar instrumentos de manicure e pedicure (inclusive as lixas), proteger os pés em banheiros e chuveiros públicos etc. “Normalmente, os pacientes que se automedicam são os mesmos que não seguem os cuidados necessários durante o tratamento. Nós eliminamos o fungo, mas se a pessoa continua usando uma meia contaminada, por exemplo, não adianta nada. Normalmente, nesses pacientes demoramos mais tempo para observar resposta ao tratamento”, afirma Ana Paula, que também conta que as unhas dos pacientes mais cuidadosos respondem mais rapidamente.

A análise dos resultados é dividida em algumas fases: a primeira é a análise clínica, feita por um podólogo, onde um diagnóstico visual é feito. “Sabe-se que uma unha sadia cresce mais rápido do que a doente. E ‘à olho nu’, a melhora, também, é facilmente vista”, conta Ana Paula. “Também acompanhamos o crescimento da unha dos voluntários e registramos as medidas utilizando um paquímetro*”.

O próximo passo, depois disso, é a análise laboratorial, onde é coletado o material da unha, antes e depois do início do tratamento, para verificar se o fungo ainda está na unha ou não. “Não fazemos somente a raspagem superficial da unha, mas também embaixo dela, pois muitos resultados de análise laboratorial podem dar falsos negativos, porque a coleta é feita erroneamente”, explica Natalia.

Sobre o número de desistentes, embora as pesquisadoras ainda não tenham dados precisos, elas afirmam que o número é grande. “Como é um tratamento demorado [duas horas a cada 15 dias], às vezes o voluntário não pode sair do trabalho ou de sua cidade para fazê-lo”, diz Ana Paula.

Os dez pacientes dispensados do tratamento tiveram todas as unhas curadas e só assim o tratamento é dado como finalizado. “Dos 90 pacientes envolvidos na pesquisa, nenhum deles faz o tratamento em uma única unha. Se algum paciente só apresentou duas unhas tratadas, de um total de dez doentes, por exemplo, não consideramos o tratamento como finalizado”, explica Natalia.

Os principais envolvidos

Coordenada pelo docente do IFSC, Vanderlei Salvador Bagnato, a pesquisa conta, atualmente, com alguns parceiros: Faculdade Anhembi Morumbi (São Paulo), clínica “BomProPé” (São Carlos), clínica “Studio 1” (Ribeirão Preto) e, obviamente, o próprio IFSC, que desenvolveu o equipamento. O insumo farmacêutico, com propriedade de ativação fotodinâmica, é fornecido pela empresa farmacêutica “PDT Pharma” e, em um futuro próximo, uma empresa colaboradora fabricará os equipamentos em série.

Micose-fotosAs patentes da técnica e do equipamento já foram concluídas, mas a Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) ainda não aprovou seu uso, o que deve ser feito até o final do ano.

Por uma limitação de profissionais e pesquisadores envolvidos, além da grande procura, as pesquisadoras, no momento, não recrutam mais voluntários para participar da pesquisa. “Se não limitarmos, não conseguiremos fechar a pesquisa para disponibilizar a técnica para a sociedade”, lamenta Natalia. “Mas, mesmo assim, não deixamos os interessados sem respostas. Sempre os informamos sobre o andamento da pesquisa e, em caso de desistências, entramos em contato com aqueles que estão em lista de espera”.

Micose-_fotos-1Mas, ao que tudo indica, no início de 2013 esse tratamento estará disponível a todos. “Isso depende das empresas colaboradoras. Em relação à nossa parte, há muita dedicação. A Ana Paula sempre acompanhou os pacientes, até mesmo nas clínicas de podologia, além de consolidar este estudo com experimentos in vitro, analisando, entre outros mecanismos, a interação dos fotossensibilizadores com os fungos, pela técnica de microscopia confocal”, afirma Natalia.

Sobre o tratamento

O Grupo de Óptica do IFSC tem trabalhado há alguns anos com a técnica de inativação fotodinâmica de microrganismos causadores de doenças. Sabendo deste potencial da técnica na inativação de fungos e bactérias, e considerando o quadro atual do tratamento da micose de unha, foi pensado um projeto de pesquisa nesta área e um protótipo do equipamento foi desenhado.

Micose-_depoimentoPara visualizar a onicomicose, Ana Paula faz uso de um equipamento de fluorescência, já disponível no mercado para o diagnóstico de cáries e placas bacterianas. O equipamento permite uma localização mais exata dos fungos causadores da infecção, através da fluorescência característica do próprio micro-organismo.

Já para realização do tratamento, é utilizado um equipamento que emite luz em comprimento de onda específico, com a função de ativar o composto fotossensível que, já em contato com a unha doente, gera espécies reativas de oxigênio, por sua vez prejudiciais aos micro-organismos. A medicação fica em contato direto com a lesão durante apenas uma hora, iluminada por vinte minutos.

Num primeiro momento, pode ser que o tratamento só seja disponibilizado em clínicas particulares. Mas, as pesquisadoras vislumbram que o tratamento seja, um dia, disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que livrará os pacientes dos custos. “Passamos aos pacientes a esperança de que, em breve, esse tratamento esteja disponível, ao menos, em um preço acessível”, finaliza Natalia.

Para mais informações sobre o tratamento de onicomicose do IFSC, clique aqui.

*instrumento de precisão para medidas de comprimento

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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