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12 de junho de 2012

Sucesso europeu é “made in Brazil”

Quando o jornalista Alberto Dines escreveu que “a ignorância de certos fatos da vida contemporânea pode ser fatal para um cidadão”, referia-se às informações prestadas pelos veículos de comunicação, como um todo.

BrasilA citação, no entanto, pode servir de exemplo a qualquer tipo de conhecimento, incluindo o científico, sobre o qual poucas pessoas, infelizmente, têm acesso, conhecimento e interesse.

No Brasil e no mundo muitas instituições e empresas têm buscado caminhos para exterminar, ou pelo menos amenizar, o desconhecimento científico e, para isso, têm-se utilizado de ferramentas didáticas, lúdicas, interativas e, sobretudo, acessíveis à população em geral. “A distância entre o cientista e as pessoas está aumentando. A falta de conhecimento do público-geral, ou de parte dele, sobre o que é ciência, como é feita e a importância que seus resultados exercem no cotidiano está assustando um pouco. Percebe-se que existem muitos conceitos errados na cabeça do público e também na dos políticos”, lamenta o docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e pesquisador do Grupo de Cristalografia (GC), Richard Charles Garratt.

Preocupados com esse fato, Richard e sua equipe do GC desenvolveram um kit para construir modelos tridimensionais de proteínas, em princípio criado para atender somente alunos universitários, mas que foi muito mais além, e tem ganhado notoriedade, inclusive no exterior, por trazer o acesso à ciência de maneira simplificada. O kit possui diversas peças diferentes que, quando montadas pelos usuários, podem formar uma infinidade de estruturas proteicas. “É importante que as pessoas entendam o que é um gene, que ele produz uma proteína que terá certa ação no organismo. Isso é essencial para entender a dimensão de certos assuntos, como alimentos transgênicos, decodificação de DNA etc.”, justifica Richard.

Para se ter uma ideia da popularidade e sucesso da ferramenta, a Wellcome Trust (WT), maior agência financiadora privada de pesquisas do Reino Unido, utiliza-a em seus projetos de difusão científica. Em comemoração aos 75 anos, a WT criou um vídeo institucional e, em algumas partes, é possível visualizar alunos “montando proteínas”, com a ferramenta criada pelo GC. “O WT considera importante essa aproximação entre o cientista e a sociedade. Primeiro, para atrair o público jovem e, segundo, para informar melhor o público-geral sobre a ciência, como um todo”, explica Richard. “Eu imagino que eles [WT] tenham tentado conectar as proteínas com a importância que elas têm em nosso cotidiano, através da montagem dos kits”.

WTO docente, ao repassar o kit de proteínas a um colega do Structural Genomics Consortium, sediado na Oxford University, em princípio não imaginava que a ferramenta alcançaria tal popularidade, mas essa surpresa foi algo positivo, por duas principais razões: traz a ciência de maneira acessível a todos, podendo assim atrair os futuros cientistas, e coloca o Brasil, mais uma vez, num papel de destaque no cenário científico mundial. “O mais legal disso tudo é que uma instituição de grande renome está usando ferramentas desenvolvidas no Brasil, em São Carlos! Eles pensaram na melhor ferramenta que existia para o que eles precisavam fazer e a melhor foi a nossa”, comemora Richard. “O uso de nossa ferramenta foi nobre, pois foi, justamente, para tentar aproximar o público, mostrando os tipos de pesquisas financiadas pelo WT e por que se gasta tanto dinheiro com elas”.

Para Richard, a construção de tais ferramentas e especialmente sua difusão e divulgação pelo mundo, assume um papel chave para o acesso à ciência. “É extremamente importante, no mundo moderno, altamente tecnológico, que as pessoas tenham o máximo conhecimento sobre ciência. E nós [pesquisadores] temos essa responsabilidade”, afirma.

Com isso em mente, Richard, com o apoio de sua equipe, já produziu outras ferramentas de difusão científica (destaque para a “tabela periódica de proteínas”, que também já percorreu alguns países do Globo). Ele conta que faz diversas viagens pelo mundo levando consigo os materiais desenvolvidos para o ensino da ciência e afirma que a recepção é sempre positiva. “Meu intuito original sempre foi desenvolver uma ferramenta voltada ao ensino universitário, já que sou professor universitário. Depois, percebi que isso pode ser usado com pessoas ainda mais jovens, com uma abordagem diferente”.

Richard também discorre sobre as dificuldades de financiamento para projetos de difusão. Diferente de um novo fármaco a ser lançado no mercado, por exemplo, o lucro com esse tipo de produto é muito mais simbólico do que financeiro e só pode ser verificado em médio e longo prazo.

O docente afirma que o processo de aprendizagem do aluno resulta na interação com o kit, uma vez que ele tem a capacidade de montar e desmontar peças, o que vem a facilitar a memorização, além de, é claro, tornar o aprendizado mais divertido e descontraído.

No entanto, educadores, desde os do ensino fundamental ao universitário, sabem da importância em se criar cada vez mais ferramentas de difusão científica, porém a escassez desse tipo de produto ainda é significativa. Sobre esse tópico, Richard compartilha um desejo: “Meu sonho é entrar em uma livraria, em qualquer país do mundo, e ver kits como os nossos sendo vendidos a um preço acessível. Mas sei que, infelizmente, isso irá demorar muito para se concretizar”, finaliza.

Para acessar o vídeo institucional da Wellcome Trust, clique aqui.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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