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7 de dezembro de 2012

Rock´n física

Quem já fez compras on-line, deve se lembrar das usuais sugestões que o site utilizado para esse fim faz para a compra de outros produtos similares ao recém-adquirido. Ao comprar um computador, é comum aparecer a sugestão de compra de um HD externo, uma webcam ou até mesmo um mouse sem fio.

Dbora-_inteligncia_artificialPara nós, seres humanos pensantes e racionais, essa parece uma ação simples e óbvia; mas, para um computador, nem tanto. Basta pensarmos que este não tem raciocínio e que todas as informações fornecidas ou recebidas por ele devem, obrigatoriamente, ser transformadas em números. Por isso, não é à toa que uma das profissões do momento seja a de programador, o responsável por transformar qualquer informação em números, único “idioma” compreendido pelos computadores.

A doutora em física computacional do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Débora Cristina Corrêa, sob orientação do docente, Luciano da Fontoura Costa, durante anos de pesquisa, tem analisado as possibilidades de traduzir gêneros musicais para o “computadorês”. Ela analisou músicas de rock, reggae, blues e country e, através de seus ritmos característicos, tentou encontrar uma fórmula capaz de transformar as canções em linguagem binária, dando a chance aos computadores de, sozinhos, identificarem esses gêneros. “Antes de entrar na Universidade, no curso de computação, eu já tinha formação em piano. No final de minha graduação, surgiu a oportunidade de trabalhar com harmônicos e foi quando eu comecei a tentar ligar as duas coisas: música e informática”, relembra.

Para construir partituras em linguagem computacional, a pesquisadora se utilizou do método de Markov, que consiste na identificação de padrões rítmicos das músicas, ou seja, uma sequência de duas ou três notas musicais constantemente repetidas nas canções, capazes de classificá-las em um dos gêneros citados anteriormente. Para compreensão mais clara: duas batidas rápidas e uma mais demorada, caracterizam o reggae, enquanto batidas rápidas constantes representam o rock, e assim por diante.

Depois de transformar em linguagem computacional certo número de músicas, Débora chegou a resultados interessantes, tendo como base o ritmo: viu que, com o passar dos anos, alguns gêneros musicais (com destaque para o rock) tiveram períodos curtos de renovação, ou seja, alteraram-se mais rapidamente, dando origem a subgêneros. Outra informação interessante foi ver a sobreposição de ritmos entre os gêneros. “Vimos que algumas amostras de reggae, por exemplo, têm padrões similares ao blues. Nós analisamos a evolução dos gêneros e como ela ocorreu e o que foi incorporado aos gêneros, isso tudo de forma quantitativa, ou seja, em números. A evolução da música é constantemente estudada, mas sempre foi feita de forma subjetiva”, explica a pesquisadora.

Nisso tudo, a física entrou quando Débora utilizou sistemas complexos para fazer sua análise. Tais sistemas fazem ligações e conexões possíveis, nesse caso, entre os gêneros musicais, e identificam, em linguagem binária, em que momento há similaridades entre as músicas.

Dbora-_inteligncia_artificial-1Embora a pretensão final de Débora seja, justamente, desenvolver um software capaz de distinguir os gêneros musicais, ela confessa que ainda são necessárias algumas análises mais detalhadas dos gêneros, que não levem em consideração apenas o ritmo das músicas. Outros itens que compõe as canções, como tempo, batida, melodia ou, sob uma outra ótica, escolhendo-se um dos instrumentos presentes na canção, como guitarra, baixo ou qualquer outro instrumento, podem ser usados para classificá-las. “Algumas características são comuns em gêneros musicais diferentes, o que pode criar equívocos na hora da identificação pelo computador. E alguns instrumentos poderão ser mais discriminativos dos gêneros musicais, ou seja, podem ser um filtro mais exato”, elucida Débora.

Mas, num futuro próximo, com mais dados em mãos e análises mais precisas, a criação do software será consequência e os benefícios que poderá trazer não serão usufruídos apenas pela poderosa indústria fonográfica. Embora com linguagem numérica, o computador será capaz de compor canções que despertem alegria, tristeza, euforia, ansiedade ou qualquer característica subjetiva que seja conveniente ao usuário. “Digamos que um ator de filmes queira músicas que lhe causem tensão na hora de atuar ou um instrutor de academias de ginástica queira trilhas sonoras que motivem os alunos. Isso será feito com facilidade”, exemplifica Débora.

Embora pesquisas nessa área sejam cada dia mais crescentes, o diferencial da pesquisa de Débora consiste no fato de que poucos estudiosos do assunto, até o momento, analisaram músicas de forma tão objetiva. Mas, na referida pesquisa, as emoções também são levadas em conta. Só que, nesse caso, o esforço para identificá-las não contará somente com o auxílio de seres humanos.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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