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29 de julho de 2013

Quantificação da interdisciplinaridade em revistas científicas e campos de pesquisa

Embora exista uma percepção geral sobre o aumento da interdisciplinaridade na ciência, o certo é que, até agora, isso era difícil de confirmar em termos quantitativos, principalmente devido à falta de métodos adequados para avaliar os fenômenos subjetivos, da mesma forma que existem dificuldades em estabelecer relações quantitativas nas áreas de ciências humanas e sociais.FIGURA-CHU

Num trabalho de pesquisa assinado pelos Professores Francisco Aparecido Rodrigues (ICMC-USP), Osvaldo Novais de Oliveira Jr. e Luciano da Fontoura Costa (IFSC-USP) e por Filipi Nascimento Silva (aluno de doutorado do IFSC), intitulado Quantifying the interdisciplinarity of scientific journals and fields, publicado em abril deste ano no Journal of Informetrics, os autores quantificaram a interdisciplinaridade das revistas científicas e campos da ciência, usando uma medida de entropia baseada na diversidade dos temas de revistas que citam uma revista específica.

A metodologia consistiu na construção de redes de citações, utilizando o banco de dados do Journal of Citation Reports, onde as revistas foram assinaladas como pontos – ou nós -, enquanto as arestas (links) foram estabelecidas com base nas citações entre periódicos (ver trabalho original no link sinalizado no final deste artigo).

Este estudo confirma que, quantitativamente, os campos da ciência estão se tornando cada vez mais abrangentes, com o grau de interdisciplinaridade (entropia) intimamente ligado ao fator de impacto.

A respeito deste trabalho, um de seus autores, o docente e pesquisador do IFSC, Prof. Osvaldo Novais de Oliveira Júnior, referiu que ele vai servir, em primeira instância, para a criação de um mapa do conhecimento que, através de gráficos e projeções em duas e três dimensões, que se encontram na rede, verifica os campos de conhecimento que estão conectados entre si. De fato, cada revista anexada tem, associada a ela, alguns subject categories, que são os temas ou os tópicos que ela apresenta e isso define a que área ela pertence.

As informações são retiradas das citações contidas na conhecida base de dados Web of Science, que dão um panorama de toda a ciência que se faz no mundo, por conter a maioria das revistas científicas. Cada revista tem os seus temas, sendo que a metodologia aplicada nesse trabalho serve para medir a entropia – a métrica de interdisciplinaridade. Seguidamente, descobre-se de onde vêm as citações para uma determinada revista ou campo do conhecimento: se elas vierem de campos muito distantes, muito diferentes, isso dará uma entropia alta, ou seja, aquela revista ou campo tem alta interdisciplinaridade.

Osvaldo Oliveira Júnior dá alguns exemplos: É óbvio que temos uma ideia do mapa do conhecimento, só que neste trabalho podemos quantificar como as áreas são conectadas. Mas, o mais importante é que a partir da entropia podemos saber quão diversificada é uma área, qual a natureza interdisciplinar de uma área científica ou mesmo de uma revista: isso pode servir para o estabelecimento de políticas editoriais para revistas ou para áreas de pesquisa, ou mesmo para agências de fomento, a partir das interconexões que são identificadas.

O grupo responsável pelo trabalho observou a evolução da rede num período entre 10 a 12 anos. A partir da linha do tempo da interdisciplinaridade, percebeu que essa é uma medida crescente, ou seja, as áreas estão se tornando ainda mais interdisciplinares com o tempo: Neste trabalho, mostramos que isso ocorre através de gráficos, que revelam uma análise quantitativa da interdisciplinaridade. Além de ser útil para subsidiar políticas, esta quantificação de interdisciplinaridade pode servir para futuros projetos. Por exemplo, com o mapa do conhecimento descobrem-se as conexões existentes em determinadas áreas, e, naqueles casos em que houver intuição de que as conexões deveriam ser feitas, mas ainda não o foram, podem-se induzir políticas para fazê-las, explica Osvaldo.

CHU325Para uma revista em particular, ou para um conjunto de revistas, as métricas podem ser importantes, até para mostrar seu perfil. Se esse perfil não está adequado, o comitê editorial dessa mesma revista pode fazer ajustes. Dando como exemplo a área de ciência de computação, que é central nos nossos dias para o desenvolvimento tecnológico, o fato é que, apesar da temática ser central, as revistas dedicadas a essa área têm baixa multidisciplinaridade. Isso é surpreendente porque a computação está inserida em todas as áreas do conhecimento. Na opinião do pesquisador, a razão pela qual as revistas apresentam entropia baixa (baixa interdisciplinaridade) está no fato de elas terem políticas editoriais que privilegiam contribuições mais dedicadas à computação, propriamente dita, não dando destaque às aplicações de computação em outras áreas. Essas revistas privilegiam, exatamente, os trabalhos que não são multidisciplinares. A impressão que tenho é que as revistas de computação são extremamente herméticas: se os corpos editoriais dessas publicações acreditarem que elas podem e devem ser mais multidisciplinares, serão obrigados a mudar a politica editorial para atingir esse fim, pontua o autor.

As sociedades científicas são, segundo o pesquisador, as grandes aliadas para que as políticas editoriais possam ser modificadas, já que elas têm capacidade para fazer pressão junto aos corpos editoriais para que a política seja alterada, embora isso exija, também, uma mudança de cultura nas próprias áreas: em geral, isso também depende dos árbitros, que são independentes. Aparentemente, os árbitros das principais revistas da área de computação não são favoráveis a trabalhos muito multidisciplinares.

Além das revistas da área de computação, as revistas dedicadas à matemática também possuem baixa interdisciplinaridade. Osvaldo Novais afirma que talvez até seja compreensível esse conceito hermético, já que o rigor que se exige no tipo de contribuição que se espera dos pesquisadores dessa área é muito diferente daquilo que é uma aplicação de matemática em qualquer área do conhecimento.

Outro dado importante é o que o impacto de uma revista tem correlação positiva com a interdisciplinaridade, ou seja, as revistas mais multidisciplinares são as que têm maior impacto – embora existam exceções. Exemplos marcantes da correlação com o fator de impacto são as revistas mais genéricas, como a Nature, que tem a maior entropia, seguida da Science e da Proceedings of the National Academy of SciencesNesse caso, é interessante verificar que se você fizer a pergunta, para qualquer grupo de cientistas, de quais são as revistas que têm mais entropia – depois de lhes explicar os conceitos -, todos irão apontar estas três. Também é interessante verificar que na rede tridimensional das revistas que mostramos no nosso artigo, quando se observa a posição e as características do conjunto, a Nature e a Science se confundem em um só ponto. Isso significa que as duas revistas têm características muito similares, o que sabemos ocorrer, elucida Osvaldo Oliveira Júnior.

Este trabalho de quantificação também pode influenciar a qualidade dos artigos que os pesquisadores enviam para publicação nas revistas, principalmente aquelas que têm grande impacto, até porque as grandes revistas já têm, nas suas instruções para submissão de trabalho, instruções de como elas esperam que os trabalhos sejam redigidos. A escrita cientifica está sendo muito valorizada porque se espera que os autores sejam capazes de transmitir as suas contribuições científicas para uma audiência mais geral, mais abrangente.

Confira AQUI o trabalho original

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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