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22 de maio de 2012

Quando a saúde “casou-se” com a luz

Hoje, é comum encontrarmos, principalmente em clínicas de odontologia, tratamentos feitos com laser. Mas, imagine isso há vinte anos? Impensável? Não para os pesquisadores do Grupo de Biofotônica do Centro de Lasers e Aplicações (CLA) do Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (IPEN), onde, sob a coordenação da pesquisadora, Denise Maria Zezell, já se estudava tais possibilidades. “Há vinte anos havia pouquíssima gente trabalhando com biofotônica(1). Aplicações de luz para resolução de problemas na área de saúde sempre foi nossa principal ocupação”, conta a pesquisadora.

ZezellZezell que, há poucos dias, proferiu um seminário no Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), por iniciativa do Grupo de Óptica (GO), contou um pouco da trajetória de seu grupo no IPEN. “Fomos um dos primeiros a propor a remoção de cáries com laser e um dos primeiros a testar esse método”, relembra.

O uso de laser ou LED(2,) como uma ferramenta de diagnóstico, tratamento ou prevenção, começou a ganhar corpo no IPEN na década de 80, quando poucos profissionais de saúde sabiam do que se tratava e muitos menos utilizavam tal tecnologia para tratar seus pacientes.

Mas, muitos avanços trouxeram a popularização da técnica no país e algumas consequências para área. O aumento da demanda para o desenvolvimento de equipamentos foi uma delas e diversos pesquisadores do país, inclusive do IFSC, passaram a fazê-lo, ganhando destaque e fundando empresas de base tecnológica. “Na área de laser em oftalmologia, por exemplo, um grupo pioneiro foi o do IFSC, coordenado pelo professor, Jarbas Caiado de Castro Neto [presidente da empresa Opto]. Isso tudo é muito importante para o país, pois essas empresas também absorvem as pessoas que formamos. Não podemos formar profissionais apenas para academia. Eles devem estar, também, no mercado, seja para o desenvolvimento de equipamentos ou para trabalhar em clínicas e consultórios etc.”.

Mas, voltar um pouco no tempo é necessário para entender como essa história começou e porque o IPEN tornou-se um dos principais centros do país na biofotônica, e que hoje está, literalmente, na boca do povo.

Os primórdios do laser na saúde

Quando se graduou em física, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Denise tinha a possibilidade de fazer qualquer disciplina oferecida pelo campus. Como aluna de iniciação científica, logo no primeiro ano de graduação ela cursou anatomia e biologia, o que lhe trouxe uma formação em física médica, numa época em que cursos de graduação desse tipo (hoje oferecido por algumas universidades do país) nem mesmo existiam. “Hoje, nos locais onde se oferece a graduação em física médica, o foco é sempre radiação ionizante(3) e a atuação é no controle de qualidade de equipamentos de medicina nuclear ou no cálculo de doses, durante os processos de radioterapia”, conta. “Atualmente, as técnicas estão mais modernas e, sobretudo, mais acessíveis. Há vários grupos no Brasil atuando em biofotônica, mas o pioneiro foi o Instituto de Física da Unicamp”, explica Zezell.

Com isso, as oportunidades para esse profissional têm crescido. “O físico formado em ‘biocoisas’ é bastante útil ao mercado, que ainda não percebeu esse potencial. Alguns médicos já se deram conta disso e fazem parcerias com esses profissionais ou os contratam como consultores e, quando se trata de uma empresa maior, a contratação é como físico, mesmo”, conta a pesquisadora.

E, com um número bem maior de profissionais e pesquisadores envolvidos, as pesquisas não só ganharam corpo como diversidade. Hoje, somente no grupo de Denise, há estudos básicos que trabalham com efeitos de laser de baixa intensidade e processos não térmicos (sem aquecimento ou resfriamento) em vários tecidos biológicos (como a pele), tomografia de coerência óptica(4) entre outras coisas.

Zezell-1A interação com a indústria também tem se tornado uma prática corrente e Denise dá um exemplo sobre essa nova tendência. “Através do Currículo Lattes, por exemplo, uma empresa de cosméticos descobriu a existência de uma técnica desenvolvida no IPEN e passou a utilizá-la na fabricação de seus produtos. Comprou equipamentos, contratou alguns físicos e utiliza-se de tomografia de coerência óptica como método de diagnóstico de qualidade e eficácia dos cosméticos que desenvolve”.

Ela afirma que, em vinte anos de pesquisa, pôde observar que o vínculo com empresas começa como uma colaboração e termina com a incorporação do método e da tecnologia dentro dela própria.

Já sobre as parcerias entre pesquisadores, como os do IFSC, por exemplo, não há nada oficial; no entanto, Denise elogia as pesquisas do Instituto, principalmente no que se refere à parte de instrumentação e conta que a troca de ideias e o intercâmbio entre pesquisadores do IPEN e do IFSC é comum. “Sempre nos encontramos em congressos, por exemplo, e assistimos às apresentações uns dos outros, pois as informações e conhecimentos sempre se complementam”.

Sobre a popularização das técnicas e instrumentos que se utilizam de biofotônica, Denise diz que, para os profissionais da área médica, dependendo do equipamento, a acessibilidade ainda não é tão grande. “Alguns equipamentos ainda saem um pouco mais caro, pois, na medicina, o uso maior é com laser de alta intensidade. Mas, ao mesmo tempo em que existe a limitação do custo para algumas aplicações, há também o desconhecimento dos resultados, por se tratar de uma tecnologia nova. Mas, na odontologia e fisioterapia o uso já está largamente difundido”.

Zezell-2Dentre as diversas técnicas e equipamentos produzidos pelo CLA, Zezell destaca o equipamento de prevenção de cáries a laser. “Esse equipamento já foi objeto de investigação por muitos anos e, atualmente, já é clínico, usado em associação com o flúor. Essa foi uma de nossas contribuições, desde estudos in vitro até o uso em pacientes, há mais de cinco anos”.

As pesquisas continuam caminhando e os próximos passos estão sendo dados visando diversas abordagens: desde redução antimicrobiana até trabalhos com doenças negligenciadas, como Leishmaniose e Doença de Chagas. “Outra coisa que já estamos em vias de finalização é o tratamento de queimaduras de pele com laser de femtossegundo(5)”, adianta a pesquisadora.

E sempre com novidades na área de saúde, com a colaboração essencial das ciências exatas, o que se espera é que tanto as pesquisas do IPEN, do IFSC e de tantos outros grupos de estudo do país continuem sempre na mesma trajetória: com responsabilidade, empenho e, sobretudo, qualidade, permitindo, como vem sendo feito até agora, que todos tenham acesso às fantásticas descobertas.

(1) Antigamente chamada de “laser na medicina” e posteriormente “laser das ciências da vida”, é a área que emprega a luz como ferramenta essencial em procedimentos relacionados às ciências da vida;

(2) Em português, diodo emissor de luz, que emite luz em locais e instrumentos, onde se torna mais conveniente sua utilização no lugar de uma lâmpada;

(3) Radiação que possui energia suficiente para produzir íons em átomos e moléculas;

(4) Tomografia sem radiação envolvida, com a qual se faz análise superficial. A técnica foi usada, por exemplo, pela empresa de cosméticos Natura, para analisar diminuição de rugas durante o uso de cosméticos produzido pela empresa;

(5) Emissão de pulsos ultrarrápidos de luz. Um femto equivale a 10 -15 segundos;

 

 

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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