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22 de dezembro de 2012

Quais as nossas alternativas?

Um conjunto de crenças astrológicas, teorizado há muitos anos, tem tirado o sono de uma pancada de gente, inclusive dos mais céticos. Segundo uma das profecias da antiga civilização maia, o fim do mundo tem data marcada: 21 de dezembro, quando (de acordoApocalipse com a profecia) vários eventos cataclísmicos ocorrerão simultaneamente no planeta Terra e a humanidade passará para um novo “plano espiritual”, eufemismo para extinção completa dos seres humanos.

Mesmo que diversos estudiosos ou agências espaciais tenham desmentido a profecia, brinquemos de ficção científica: se, de fato, o planeta Terra sofrer diversos abalos naturais num futuro próximo e tivermos que procurar um novo lar, quais seriam nossas opções?

Num primeiro momento, um dos planetas mais notórios nas mídias viria como alternativa imediata: Marte. A princípio, é um planeta com algumas afinidades com a Terra: tem um dia com uma duração muito próxima do dia terrestre e o mesmo número de estações. Mas, embora já tenha recebido a visita de diversas sondas espaciais e robôs, os seres humanos não conseguiriam sobreviver nele. Apesar de o planeta ser rochoso e estar a uma distância equivalente à metade da distância da Terra ao Sol, sua atmosfera é composta principalmente de dióxido de carbono e a amplitude térmica pode variar de -220º C e a 420ºC num só dia marciano, inviabilizando a existência humana. A gravidade de 3,69m/s² também traria dificuldades de manter os pés no chão, mas esse, ainda, não seria o maior empecilho para se viver no planeta: até hoje não há certeza absoluta da existência de água (só encontrada em sua calota polar) e as tempestades de areia, que podem durar meses, são muito fortes, atingindo velocidades de até 400 km/h. “Caso fosse comprovada a existência de água em Marte, poderíamos retirar oxigênio por eletrólise para respiração humana, mas, mesmo assim, ficaria difícil viver no planeta, pois sabemos muito pouco sobre ele”, explica o docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP),Francisco Eduardo Gontijo Guimarães.

Chico-MarteOutro empecilho seria chegar até lá: se usássemos um avião a jato (900 km/h) para chegar ao planeta vermelho, demoraríamos por volta de 8 anos. Uma nave espacial também não seria muito rápida: levaria cerca de 8 meses para fazer o trajeto.

Uma morada alternativa pouco cogitada, porém mais conveniente, seria a Lua. Supondo que aviões a jato fizessem trajetos da Terra à Lua, demoraríamos apenas 18 dias para chegar até ela. Com um foguete, ainda menos tempo: 3 ou 4 dias. Por outro lado, a Lua apresenta alguns problemas que inviabilizariam a sobrevivência humana em seu território: em razão da gravidade muito pequena (1,6m/s²), nenhuma molécula ficaria presa à sua gravidade para formar uma atmosfera. Além disso, as variações de temperatura são muito grandes, a incidência da luz do Sol é direta e não haveria trocas de calor com a atmosfera para manter o equilíbrio térmico.

A alternativa mais plausível aos humanos, até o momento, são as estações espaciais: satélites espaciais tripulados. As que existem até hoje são equipadas com placas para captação de energia solar e algumas possuem, até, reatores nucleares para geração de energia elétrica. “Hoje, não teríamos uma estação espacial capaz de alojar parte da humanidade. Mas, no futuro, acredito que o espaço será mais acessível”, afirma Francisco.

Chico-LuaCrenças religiosas, ceticismos ou misticismos à parte, sob uma perspectiva mais racional, Francisco acredita que o fim do nosso planeta pode acontecer de outras maneiras mais lógicas, mas que, no momento, são pouco prováveis. “Temos alguns fenômenos que podem influenciar a vida na Terra. O astronômico seria um choque com algum cometa ou asteroide*. As crateras na Lua mostram que esses eventos foram corriqueiros, mas a probabilidade de ocorrer um impacto de grandes proporções na Terra é de uma vez a cada cem mil de anos. Tivemos esse evento na Terra há 65 milhões de anos, quando os dinossauros foram extintos”, explica Francisco. “Erupções vulcânicas e terremotos também poderiam causar grandes desastres, mas até hoje esses eventos não foram capazes de extinguir a vida na Terra”.

Mesmo com tantos fenômenos naturais de ordem geológica e astronômica já ocorridos no mundo, Francisco acredita que, caso a Terra e a própria humanidade sejam extintas, o culpado por isso, ao que tudo indica, será o próprio homem. No que diz respeito ao conhecimento sobre novos mundos, Francisco afirma que ainda estamos na “pré-escola”. “Se fizermos uma comparação com a época das grandes navegações europeias, ainda temos que caminhar muito para desenvolver uma técnica eficaz que nos permita habitar novos mundos. Se conseguirmos sobreviver à poluição que causamos ou às bombas atômicas que produzimos, sem extinguir a humanidade, seremos capazes de ter uma sobrevida muito maior”.

Chico-TerraInclusive, essa também é uma opinião partilhada pelo famoso físico teórico, Stephen Hawking. Como Francisco, ele acredita que poderemos ser extintos por nossas próprias ações. Numa entrevista concedida ao site Big Think, o físico relembra da crise dos mísseis em Cuba e afirma que “é provável que a frequência dessas colisões aumente no futuro. Precisamos de muito cuidado e discernimento para negociar tudo isso com sucesso”.

Num primeiro momento, portanto, provavelmente seja mais relevante que o homem saiba lidar melhor com a tecnologia que produzimos do que investir mais tempo (e dinheiro) na busca de novos mundos. Talvez a profecia maia tenha errado na previsão do fim do mundo, mas agir como se ele fosse infinito colocará um limite na duração do universo e, consequentemente, à nossa própria existência.

*7 anos atrás, Júpiter foi rompido em vários pedaços devido a um choque com um asteroide de grandes dimensões.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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