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2 de julho de 2014

Por que eles preferem o exterior

Desde há cerca de dez anos que o docente e pesquisador do IFSC-USP, Prof. Euclydes MaregaMAPA350 Jr. acompanha anualmente o desenrolar da Olimpíada Brasileira de Física, ocupando, simultaneamente, os cargos de Coordenador no estado de São Paulo e Coordenador Nacional desse evento e, por consequência, as Olimpíadas Internacionais de Física, que têm ocorrido em diversas partes do mundo com a participação de equipes de jovens estudantes brasileiros.

Ao longo dos anos, o Brasil vem se destacando nessas competições, tendo atingido um elevado grau de desempenho e notoriedade que fez com que o nosso país esteja, neste momento, no topo das representações internacionais candidatas à conquista de medalhas de ouro e prata. Marega enaltece o conjunto de mentes brilhantes que se encontram espalhadas pelos milhares de escolas do ensino médio do país – muitas vezes apenas esperando serem descobertas – e lamenta o fato de muitos desses jovens optarem por continuar seus estudos no exterior, quando poderiam desenvolver suas capacidades no Brasil.

Um dos exemplos dados por Marega Jr. é o do jovem Gustavo Haddad, que entrou para o mundo das competições científicas quando estava apenas na sexta série, incentivado por uma professora de seu colégio. Rapidamente, ele venceu a Olimpíada de Matemática e, depois disso, não viuHADDAD300 motivos para parar, tendo participado também de competições na área de Física, Química e Astronomia. Este jovem foi o primeiro estudante brasileiro a conquistar uma medalha de ouro nas Olimpíadas Internacionais de Física (IphO, na sigla em inglês). Vencedor de mais de quarenta medalhas de competições na área de Ciências Exatas, o ouro inédito conquistado com muito suor, em 2011, na Tailândia, quando tinha 17 anos, colocou o jovem entre os melhores estudantes do mundo e marcou seu nome na história da educação brasileira para sempre.

Marega Jr. salienta que Gustavo Haddad foi treinado no IFSC-USP durante uma semana intensa de atividades, tal como tantos outros que participaram nas provas para as Olimpíadas Internacionais de Física. Competindo com quase 400 estudantes de 84 países do mundo inteiro, o estudante conseguiu situar o Brasil à frente de países europeus tradicionalmente fortes, como a Itália e a Suíça e a par com a França e Alemanha, países que têm grande tradição em eventos desta natureza. Tendo feito história entre os brasileiros e aprovado em alguns dos cursos mais concorridos do Brasil, como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o Instituto Militar de Engenharia (IME) e a Universidade de São Paulo (USP), a opção do jovem Gustavo foi no sentido de conquistar território internacional, mais especificamente os Estados Unidos da América, onde foi aprovado em Harvard. Contudo, Gustavo esperou ansiosamente o resultado de outras grandes universidades norte-americanas como Yale, Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Stanford, Princeton e Instituto de Tecnologia da California (Caltech). Para o docente do IFSC-USP, não é só Gustavo que se sente atraído por estudar no exterior, já que acontece exatamente o mesmo com muitos outros alunos brasileiros considerados brilhantes, sem que haja algo que, por outro lado, não existam incentivos e programas inovadores que travem essa migração que é prejudicial para o nosso país.

Passados que são dois anos desde a conquista de Gustavo, Marega salienta que GRADUAO_MIT_2014-250o jovem ingressou no MIT, em setembro de 2012, tendo terminado já os cursos de Engenharia Elétrica e Ciências da Computação naquele renomado instituto norte-americano, num período de apenas dois anos, e justifica: Isso acontece porque eles têm um sistema que permite ao aluno avançar em conteúdos que demonstre proficiência, sendo que muito deste conhecimento foi adquirido aqui no IFSC durante os treinamentos realizados entre os anos 2010 e 2011. Por outro lado, posso dar outro exemplo: o de Fabio Arai, aluno que conquistou uma medalha de prata para o Brasil nas Olimpíadas Internacionais de Física – 2013, e que vai iniciar sua graduação no próximo mês de setembro, no Instituto de Tecnologia da California (Caltech). Se, por um lado, é extremamente gratificante observar o nível de excelência de alguns dos melhores estudantes brasileiros, por outro lado é uma verdadeira frustação ver esses mesmos jovens serem obrigados a deixar o país, apenas porque aqui ainda não existem estímulos suficientes que contribuam para a sua permanência e para o desenvolvimento de suas habilidades, pontua.

Reforçando seu ponto de vista, o Prof. Euclydes Marega apresenta, como mais um exemplo, a opinião manifestada por Bárbara Santiago, aluna brasileira agora estudando na Universidade de Yale (EUA), que igualmente participou em Olimpíadas Internacionais de Física, em um seu artigo publicado no Jornal de Yale, até há pouco tempo acessível em http://accent.italianiayale.com/?p=1643 ,   e que abaixo reproduzimos, devidamente traduzido do inglês.

(…) O Brasil e o império da ciência

Por volta das 9 da noite, estou eu sentada no Bass Café debatendo-me com meus problemas de álgebra linear, quando eu vejo uma brasileira entrar por uma das portas. Alguns minutos depois, passa outro brasileiro perto de mim, entrando na Bass Library, carregando uma tonelada de livros. Nós brasileiros não somos em muitos por aqui, mas os poucos aqui presentes mostram que ao menos temos potencial. E isso foi o que eu sempre ouvi do meu país: que tínhamos este potencial e éramos o “país do futuro”. Entretanto, o que falta para deixarmos de ser o “país do futuro” e virarmos o “país do presente”?

Desde os 12 anos, me imaginava virando uma engenheira aeronáutica formada numa das melhores universidades brasileiras. Eu sempre amei as ciências exatas, mas ninguém nunca me falou “por que você não estuda matemática na faculdade?” ou “já pensou em virar cientista?” Muito pelo contrário, a princípio era “Nossa! Como você se dá bem na escola… Conseguiria passar em medicina” ou “se você gosta de exatas, pode fazer engenharia e ficar rica”. Mas eu me apaixonei pela física e era uma paixão desesperada. Chegou a um ponto em que eu não conseguia mais viver sem ela. Entretanto, no Brasil, você tem que escolher o curso para o qual você vai prestar vestibular antes de entrar na faculdade. Eu queria prestar física, mas minha cabeça me mandava prestar engenharia. Para entender o porquê de eu ter vindo para cá, vale a pena considerar a maneira como o Brasil trata seus cientistas.

O CNPq, a principal instituição que financia a pesquisa no Brasil, concedeu menos de 25 mil bolsas de iniciação científica em 2012. Porém, a Universidade de São Paulo, sozinha, tem mais de 40 mil alunos na graduação. No Brasil, além de poucas, as bolsas de iniciação científica são mal pagas. Por 15 horas de pesquisa, por semana, um graduando ganha somente 400 reais por mês — pouco menos de 200 dólares. Alguém, fazendo Ph.D. no Brasil, recebe R$ 2.200 por mês e, de acordo com um artigo da UOLEUCLYDES_MAREGA_JR_-_275 de julho de 2013, este é o exato valor médio do aluguel de um apartamento na cidade de São Paulo.

O Brasil deveria valorizar mais quem desenvolverá a tecnologia que lhe permitirá obter reconhecimento internacional, porém a carreira de pesquisador sequer é reconhecida pelo Ministério do Trabalho. Professores em universidades públicas, no Brasil, recebem somente pelo emprego de professor, mas seu rendimento é avaliado com base na pesquisa que eles conduzem. O teto máximo atingido por um professor, na Universidade de São Paulo, a melhor universidade da América Latina, é inferior a 60% da média recebida por um professor de uma universidade pública norte-americana.

Nos Estados Unidos, o fato de que eu estudo física impressiona as pessoas. Entretanto, no Brasil, quando eu falava que ia desistir do meu primeiro semestre de engenharia mecânica na Universidade de São Paulo, embarcar para os EUA e estudar física, cheguei a ouvir perguntas como “por que você vai fazer algo tão estúpido com a sua vida?”. Isso me entristece, pois amo o lugar de onde vim. Sem infraestrutura e mentalidade que promovam a pesquisa de base, não faço ideia de como um país pode deixar de ser um montador lotado de multinacionais com tecnologia estrangeira e se tornar uma potência mundial, seja econômica ou política. Assim, infelizmente, continuaremos sendo o “país do futuro” por um bom tempo… (…)

Marega deseja ansiosamente que se encontrem soluções urgentes que contrariem esta debandada de jovens brasileiros para o exterior, por forma a que o país evolua, se modernize.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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