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11 de novembro de 2014

Pesquisadores buscam estratégias para o combate da doença

A esquistossomose, segunda doença parasitária que mais faz vítimas no mundo – esquistossomo-150atrás apenas da malária -, é uma doença negligenciada causada pelo parasita Schistosoma, mais especificamente, pelo Schistosoma mansoni, único predominante na América e um dos principais causadores da doença na África. Um dado divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2005, revelou que cerca de 600 milhões de pessoas em todo o mundo viviam em áreas de risco. Entre as causas de morte associadas ao Schistosoma mansoni destacam-se a hepatomegalia (aumento do tamanho do fígado), esplenomegalia (aumento no volume do braço), fibrose hepática (“descamação” do fígado) e ascite (excesso de líquido na região do abdômen).

A doença, também conhecida como “Barriga d’água”, é transmitida por Biomphalaria_glabrata-250caramujos, que hospedam o parasita temporariamente, e penetra na pele de humanos quando estes entram em contato com a água habitada pelos citados caramujos hospedeiros do Schistosoma mansoni. Diarréia, febre, cólicas, dores de cabeça, sonolência, emagrecimento, endurecimento ou aumento do volume do fígado e hemorragias que causam vômitos, são alguns dos principais sintomas causados pelo verme.

Atualmente, há no mercado um medicamento voltado ao tratamento da esquistossomose. A droga, considerada bastante eficaz e barata, elimina apenas a forma adulta do parasita, possibilitando com que as cercarias continuem expostas ao meio-ambiente, infectando suas vítimas. Além desse tratamento, uma possível vacina desenvolvida pela Fundação Osvaldo Cruz, em parceria com o Instituto de Física de São Carlos, apresentou bons resultados em seus testes iniciais.

O apoio do IFSC-USP na criação da referida vacina, que foi destaque nos quatro cantos do mundo, é apenas uma das iniciativas do Instituto na tentativa de desenvolvimento de técnicas e soluções à erradicação da esquistossomose. Outro trabalho do Instituto de Física de São Carlos voltado ao combate da doença é a pesquisa que está sendo realizada pelo Prof. Dr. Ricardo De Marco, do Grupo de Biofísica Molecular “Sérgio Mascarenhas” (IFSC-USP), que visa o estudo de proteínas do parasita para melhor compreensão de como funciona a interação entre parasita e hospedeiro, projeto que poderá resultar, por exemplo, em novos alvos para vacinas.

Ao contrário de diversas doenças, a esquistossomose é uma enfermidade crônica, ou seja, seu parasita pode alojar-se durante décadas no corpo humano, sem que a vítima perceba sua presença e sem que o sistema imunológico consiga combatê-lo. Existem diversos mecanismos pelos quais o Schistosoma mansoni consegue enganar nosso sistema imune, sendo que vários desses métodos são desconhecidos pela ciência. Para isso, precisamos entender como o parasita atua no corpo humano e como nosso sistema imune reage ao verme, explica Ricardo.

O objetivo do docente Ricardo350e de sua equipe, que trabalha em colaboração com os Profs. Alan Wilson (University of York – Reino Unido), Bonnie Wallace (University of London – Reino Unido) e Paul Brindley (George Washington University – Estados Unidos), é encontrar bons alvos para vacinas, o que não é um trabalho trivial, já que há uma série de casos em que houve grande investida de antígenos e que falharam. O grande problema é que na superfície dos parasitas há uma dupla camada lipídica que protege as proteínas do Schistosoma.

Recentemente, Ricardo De Marco, em conjunto com outros pesquisadores, descobriu uma classe de proteínas denominada genes de micro-exons que possuem características inusitadas, sendo compostos por minúsculos exons – pedaços de genes que codificam as proteínas -, e que podem ser utilizados para a geração de variações antigênicas; ou seja, a partir de um gene, essa classe pode produzir várias proteínas variantes. Além disso, em sua pesquisa Ricardo já demonstrou que este sistema genético complexo, nunca descrito anteriormente em nenhum outro organismo, permite a produção de proteínas secretadas pelo parasita.

Grande parte das proteínas codificadas pelos micro-exons aloja-se no esôfago do Schistosoma, uma região bastante exposta do verme. Então, porque tais proteínas não podem atuar como vacinas, combatendo o parasita? De acordo com Ricardo De Marco, existem diversas complicações: Há um mecanismo de variação de proteínas, que achamos que está sendo utilizado para enganar o sistema imune e isso pode ser um complicador às vacinas. Em algumas análises computacionais realizadas pelo docente é possível observar que as proteínas evoluem de forma rápida, obtendo uma taxa de mutação muito maior do que outras proteínas do parasita.

Essas mutações ocorrem normalmente em qualquer organismo. Na maioria dos organismos, por exemplo, as mutações das proteínas tendem a ser negativas, porém, no caso deste grupo de proteínas do Schistosoma mansoni, é possível inferir que as mutações têm um caráter positivo, pelo fato de o parasita se instalar por um longo período no corpo humano, fazendo com que o nosso sistema reconheça e combata o parasita através da identificação destas proteínas. O grande problema é que esta classe de proteína sofre variações e o sistema imunológico não produz os anticorpos necessários para combatê-la, mantendo o parasita livre para circular pelo corpo humano.

Sendo assim, a principal meta de Ricardo e de seu grupo não é apresentar uma droga que combata o verme, mas, sim, demonstrar que a dinâmica da relação entre parasita e hospedeiro é muito mais complexa do que parece ser. Acredito que, em termos de tratamento, não se pode ter visões simplificadas, porque isso pode resultar em soluções erradas. Muitos métodos que foram utilizados na criação de uma vacina para combater a esquistossomose foram baseados em pensamentos simplistas e que aparentemente não funcionaram, diz.

Em suma, os recursos disponíveis atualmente, como, por exemplo, as informações genéticas do Schistossoma, podem oferecer a base para que os especialistas entendam como funciona a interação entre parasita e hospedeiro. Somente após esse complexo processo é que será possível tentar propor estratégias para, de fato, criar estratégias que possam combater o Schistossoma mansoni.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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