Notícias

1 de março de 2016

Nova substância natural contra esquistossomose

A revista científica internacional Chemico-Biological Interactions recentemente publicou um artigo de autoria da pesquisadora Ana Carolina Mafud, pós-doutoranda do Grupo de Cristalografia do Instituto de Física de São Carlos (GC-IFSC/USP) e da docente aposentada Yvonne Primerano Mascarenhas, no qual foram analisadas as atividades de terpenos* contra o Schistosoma mansoni, platelminto causador da esquistossomose, verminose muito comum principalmente em áreas que não possuem saneamento básico, e que acomete cerca de 10 milhões de brasileiros.

Carol_Mafud-_CitronelolDos 38 terpenos testados, um deles, o citronelol, mostrou uma atividade favorável contra o Schistosoma, sendo capaz de danificar o tegumento de proteção do verme dependendo da concentração de citronelol presente. “O tegumento do Schistosoma é o que permite que o verme consiga se camuflar. Isso impede que o organismo hospedeiro crie anticorpos para exterminá-lo, pois o verme também incorpora partes de proteínas do organismo do hospedeiro, o que dificulta ainda mais seu reconhecimento como um corpo estranho”, explica Ana Carolina.

Os pesquisadores também verificaram que o citronelol, dependendo da concentração no Schistosoma mansoni, não só rompe seu tegumento, como também é capaz de matar o verme.

Testes in vitro foram realizados no Núcleo de Enteroparasitas do Instituto Adolfo Lutz, colaborador do IFSC na pesquisa através do pesquisador Pedro Luiz da Silva Pinto, e no Núcleo de Pesquisa em Doenças Negligenciadas da Universidade Guarulhos, cujo coordenador, Josué de Moraes, estará no IFSC, no próximo dia 2 de março, para ministrar uma palestra.

Embora com diversos resultados positivos, testes in vivo são requeridos para atestar a eficácia do terpeno no organismo humano. No entanto, como o citronelol já é uma substância liberada pela ANVISA e pelo FDA, os testes com humanos poderão ser feitos mais rapidamente, e, caso os resultados sejam novamente favoráveis, um fármaco também poderá ser desenvolvido e disponibilizado com mais rapidez. “Nossos últimos testes têm sido feitos somente com medicamentos já existentes, a fim de propor o reposicionamento de fármacos”, adianta Ana Carolina.

Principais resultados e previsões

Os pesquisadores verificaram que o citronelol age de maneira “dose- dependente” no Schistosoma, ou seja, quanto maior a dose, maior a atividade. “Verificamos também que, quanto maior for o tempo de incubação do verme, maior o efeito do citronelol. Isso, porque, quanto mais tempo o citronelol fica em contato com o Schistosoma, mais ele altera as propriedades físico-químicas do verme”, elucida a pesquisadora.

Diante disso, os pesquisadores concluíram que o modo de ação do citronelol pode ocorrer pela alteração das propriedades físico-químicas do meio, assim como anestésicos, que atuam no organismo por interações não-específicas. Estudos futuros do grupo irão em direção a essa comprovação, bem como ao melhor detalhamento dos mecanismos de ação do próprio citronelol.

*Classe de substâncias naturais que geralmente se encontram em sementes, flores, folhas, raízes e madeiras de plantas superiores. A essência de diversas plantas é considerada terpenos, como a essência de eucalipto e a citronela, por exemplo.

**Com uma quantidade de 12μM já é possível verificar atividade

Assessoria de Comunicação

Imprimir artigo
Compartilhe!
Share On Facebook
Share On Twitter
Share On Google Plus
Fale conosco
Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
Obrigado pela mensagem! Assim que possível entraremos em contato..