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16 de dezembro de 2013

Pesquisador visitante chileno fala sobre nanotecnologia

Nascido no Chile em 1943, Ricardo Aroca* é pesquisador desde 1964, ano em que se graduou na Universidad de Chile, com sua primeira publicação datada de 1966. Especialista na área de nanotecnologia, Aroca é atualmente docente da University of Windsor, em Ontário, Canadá, onde ingressou em 1985, e professor visitante no IFSC, na área de Espectroscopia Analítica.

Sua primeira visita ao IFSC remonta a 1997, num momento em que nosso Instituto começava a imprimir uma velocidade gradativa rumo a uma modernização que era desejada por toda a sua comunidade. Passados que são trezes anos desde essa primeira visita, o Prof. Dr. Ricardo Aroca registra o impressionante crescimento que aconteceu no IFSC em tão pouco tempo, realçando a modernização operada nas suas infraestruturas físicas, na existência de equipamentos de última geração e nos apoios que os pesquisadores têm do governo, através das agências de fomento, tudo isso contribuindo para que, nas suas próprias palavras a ciência que se faz no IFSC alcance níveis de destaque para o desenvolvimento do país.

A vinda de Aroca como professor visitante do IFSC aconteceu de forma natural, já que naariel_aroca250 University of Windsor ele teve inúmeros estudantes brasileiros que hoje são professores nas mais renomadas universidades do país e que formam alunos na mesma área científica do pesquisador chileno: é uma espécie de continuidade de sua linha de trabalho – nanotecnologia -, considerada importantíssima no contexto da ciência contemporânea mundial, conforme explica o docente: Podemos catalogar a área da nanotecnologia como a terceira revolução na ciência mundial; primeiro tivemos a macroeletrônica, depois veio a microeletrônica, agora temos a nanotecnologia, que é um conceito com dimensões extraordinariamente pequenas, mas com propriedades físicas muito peculiares e com inúmeras aplicações que já estão alterando a qualidade de vida do ser humano.

Contudo, e como tudo o que acontece, principalmente na área científica, existem sempre dois lados opostos: o lado da descoberta em si e o lado que congrega o que habitualmente chamamos de efeitos secundários que, tal como o lado positivo da pesquisa, é objeto de estudos, análises e experimentos. Exemplificando algumas aplicações relacionadas com a nanotecnologia, podemos referir a evolução que decorre na área de novos materiais, que apresentam agora propriedades únicas, bem como na área da medicina, como, por exemplo, as chamadas nanoestruturas no sangue para detecção de alterações moleculares, algo que era impossível até há pouco tempo atrás: De fato, a revolução nano trouxe uma alteração no tradicional cenário da medicina – a nanomedicina; agora, existe a possibilidade de se detectarem doenças praticamente no início de seu surgimento, através da pesquisa feita em uma única célula. A isso chamamos de atuação preventiva e isso é extraordinário, refere o pesquisador chileno. Por outro lado, segundo nosso entrevistado, também existe um trabalho de pesquisa extremamente importante que está sendo feito por vários grupos de cientistas, para a possibilidade de se utilizar esse conhecimento na designada medicina curativa, usando-se as nanopartículas para destruir células malignas, principalmente aquelas que originam doenças mais graves, como, por exemplo, o câncer. Tudo isso através de nanoestruturas.

aroca250Contudo, atrás do sucesso das novas descobertas sempre estão os efeitos colaterais que também constituem preocupação e trabalho complementar para os cientistas: Sendo nanoestruturas, elas são praticamente impossíveis de serem visionadas e existe o risco de atacarem também, no seu percurso, uma célula benignas e isso é exatamente o que não se pretende. O que queremos é que essas nanoestruturas tenham um alvo específico – determinada célula maligna – e que a ataquem. Portanto, neste caso, o grande desafio da nanotecnologia é dirigir e controlar o caminho das nanoestruturas rumo a esse alvo específico, sem provocar danos colaterais, explica o pesquisador. No campo prático, a utilização de nanoestruturas está já sendo aplicada in vivo, com resultados muito animadores, sendo que num futuro próximo existe inclusive a possibilidade de utilizar essas nanoestruturas em tratamentos localizados – através de via oral ou injetável -, em que elas são dirigidas diretamente à célula doente. Segundo Ricardo Aroca, existem grupos de pesquisa internacionais que já trabalham arduamente nesse sentido. Quanto à missão de Aroca no IFSC, ela é no aspecto analítico, ou seja, o fundamento é a detecção molecular, usando nanoestruturas metálicas.

A ciência v. política

Para Ricardo Aroca, o desenvolvimento da ciência no mundo tem uma vida própria, ou seja, ela tem a sua própria velocidade, sem interferências externas. Contudo, já no que diz respeito às aplicações dessa ciência, elas avançam segundo regras estabelecidas por grupos de pressão, por interesses alheios à própria ciência: Eu acho que as aplicações científicas deveriam avançar segundo uma consciência social, mas isso não acontece, o que é prejudicial para o ser humano. Temos por trás delas grandes interesses econômicos, corporativos e até políticos, o que reduz o benefício da ciência avançar muito mais rápida e eficazmente para quem necessita dela – o homem, sublinha o pesquisador.

No início do período da ditadura militar, no Chile, Ricardo Aroca, então com 29 anos, era diretor do Departamento de Química na Faculdade de Ciências da Universidad de Chile e assistiu, incrédulo, à intervenção militar de sua universidade. Membro da agência de fomento à pesquisa chilena, com um trabalho notável na pesquisa, Aroca foi considerado suspeito de “ações subversivas contra o estado” e, junto com dezenas de pesquisadores daquele estabelecimento de ensino superior e de largas centenas por todo o país, foi simplesmente demitido, tendo-se seguido uma verdadeira perseguição política aos principais cientistas chilenos: Foi um “apagão cultural”, lamenta nosso entrevistado (na foto abaixo, Ricardo Aroca cumprimenta Allende durante um evento científico no Chile).

Perseguido, Aroca decidiu abandonar clandestinamente o seu país e partir rumo ao Canadá1972_Allende_Congreso_de_cientificos300, onde chegou em março de 1974, com uma breve passagem pelas Honduras, onde trabalhou durante quatro meses. Para Aroca, o Chile perde para o Brasil em termos científicos exatamente por ter ficado parado no tempo: O Brasil está muito mais avançado que o Chile na área científica. Enquanto o Brasil recebeu – e recebe – investimentos para a área científica, o Chile sofreu esse “apagão” durante a ditadura militar e tem tido muitas dificuldades para recuperar o que perdeu nesse período. É certo que o Chile vai-se recuperando lentamente, mas você sabe que para destruir algo basta alguns minutos, mas para se reconstruir, demora anos. Espero que a ciência chilena se recupere rapidamente, lamenta Aroca.

Contudo, o pesquisador chileno está disponível para ajudar o país a recuperar sua dinâmica científica, embora esteja fora de cogitação regressar definitivamente, até porque sua vida e sua família estão já estabelecidas no Canadá: Já recebi convites para regressar ao Chile, mas não posso. Claro que quero contribuir para o desenvolvimento da ciência chilena e de alguma forma já estou fazendo isso. Estou recebendo estudantes chilenos, com o intuito de repassar meu conhecimento para que eles avancem na recuperação e modernização do país. É o máximo que posso fazer, conclui Aroca.

O Prof. Dr. Ricardo Aroca permanecerá lecionando um mês no IFSC, voltando em 2014 para igual período de tempo, ajudando a reforçar o intercâmbio de pesquisa entre a University of Windsor e o Instituto de Física de São Carlos.

*Ricardo F. Aroca é professor titular do Departamento de Química e Bioquímica da Universidade de Windsor, em Ontário, Canadá, nomeado para o Departamento de Física da mesma universidade, e ministra cursos nas áreas de Espectroscopia Analítica, Química Quântica, Termodinâmica Estatística, Vibracional e de Superfície Melhorada, Espectroscopia Vibracional, Química Analítica e Físico-Química. Ocupou o cargo de Presidente do Conselho de Administração da Universidade de Windsor, foi Membro do Comitê de Seleção de Bolsas nas áreas de Química Analítica e Físico-Química das Ciências Naturais, e membro do Conselho de Pesquisa do Canadá em Pesquisa de Engenharia.

Em 2001, adquiriu o estatuto de professor universitário, uma honra reservada para alguns professores catedráticos dentro de uma universidade canadense. É autor de mais de 300 artigos científicos publicados em revistas internacionais arbitradas, bem como do primeiro livro dedicado a Superfície Melhorada e Espectroscopia Vibracional, publicado em 2006 por John Wiley & Sons Ltd. Inc. , Chichester , Inglaterra.

Foi homenageado, em 2003, com o Prêmio Gerhard Herzberg, uma honraria que é concedida anualmente pela SSC – Sociedade de Espectroscopia Canadense àquele que é considerado o maior cientista na área de espectrometria.

Aroca foi membro do Conselho da Sociedade Canadense para a Química, onde foi Diretor da Divisão de Analítica e Presidente Awards ( 2000-2004). Em 2005, foi eleito Fellow do Instituto de Química do Canadá, sendo igualmente Correspondente Membro da Academia Chilena de Ciências.

Foi editor- chefe do Jornal Canadense de Ciências Analíticas e Espectroscopia (2004-2009) e desde 1 º de janeiro de 2010 é membro do Conselho Consultivo Editorial do Jornal de Espectroscopia Raman .

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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