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21 de abril de 2014

Pesquisador do IFSC estuda nova técnica

As técnicas de imagens por Ressonância Magnética (IRM) são bem difundidas e já utilizadas há algum tempo (cerca de 30 anos) por diversos profissionais da saúde.O fenômeno físico que dá origem a essas imagens se baseia na interação do núcleo atômico com campos magnéticos muito intensos, dando origem a imagens bi ou tridimensionais que auxiliam na identificação de anormalidades ou doenças presentes no organismo.

Crebro-1Com a popularização e, sobretudo, estabelecimento da técnica de IRM como uma ferramenta clínica, seu aprimoramento veio com o passar dos anos e uma das técnicas “derivadas” foi a Arterial Spin Labeling (ASL), que consiste na utilização de propriedades da água presente no sangue como um traçador capaz de fornecer informações sobre o fluxo sanguíneo. “Qualquer técnica que mede o fluxo sanguíneo no organismo utiliza um ‘traçador’, substância inserida nas artérias do organismo, que o carregam para uma região de interesse. O traçador, por sua vez, fornece informações sobre o caminho percorrido pelo sangue e um modelo é criado para explicar esse fluxo”, explica o docente do Centro de Imagens e Espectroscopia In Vivo por Ressonância Magnética (CIERMag) do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e estudioso da técnica de ASL, Fernando Fernandes Paiva.

Dependendo da técnica utilizada, os traçadores podem ser difusíveis, intravasculares, microesferas etc. No entanto, independente de qual seja, alguma substância é injetada no paciente, diferente da Arterial Spin Labeling que, como já mencionado, utiliza como traçador somente a água já presente no sangue do organismo, tornando o processo bem menos agressivo ao corpo. “Na técnica tradicional de IRM, utiliza-se um contraste, o gadolínio, para se obter as imagens de perfusão. Embora seja bastante seguro na maior parte dos casos, em alguns específicos a utilização do gadolínio como agente de contraste é contraindicada *. Com a ASL aproveita-se o fato de que o sangue contém bastante água e é feita uma marcação magnética nos núcleos que compõe a água presente no sangue”, elucida o docente.

Sem a injeção de nenhuma substância, a Arterial Spin Labeling usa uma combinação de pulsos de radiofrequência com gradientes de campo para introduzir uma diferenciação na magnetização do sangue que flui para o cérebro. Essa marcação é feita, em geral, na região do pescoço ou abaixo da região de interesse [cérebro]. “Essa diferenciação perdura por um determinado tempo, que é curto, mas suficiente para que o sangue chegue ao cérebro. Nesse momento, na imagem que fazemos do cérebro, aparecerá um sinal alterado proporcional a porção de sangue marcado que atinge o cérebro”, explica Fernando. “No cérebro circula tanto sangue desoxigenado quanto sangue arterial, este oxigenado. Nosso interesse é medir, somente, a quantidade de sangue oxigenado que, por sua vez, é o que carrega nutrientes ao tecido cerebral. Se uma pessoa apresenta algum problema neurovascular, pode não ser possível defini-lo, mas com certeza saberemos que ele existe a partir da análise das alterações no fluxo sanguíneo cerebral** “.

Para saber o real estado perfusional*** do cérebro, são feitas duas imagens da região cerebral de interesse: uma sem que tenha sido realizada a marcação do sangue arterial e outra na qual a diferenciação tenha sido introduzida. Comparando-se as duas imagens e subtraindo-se uma da outra, só restará o efeito causado pelo sangue marcado. De acordo com Fernando, já existe um modelo matemático que prevê o quanto a alteração no sinal de IRM está associado ao chamado fluxo sanguíneo cerebral (CBF, na sigla em inglês). “Atualmente, em São Carlos, esses testes são feitos somente em animais, mas já temos a colaboração de duas Instituições**** que realizam experimentos com humanos”, conta Fernando.

Fernando_Paiva-7No CIERMag, Fernando e seus colaboradores trabalham no aprimoramento da ASL. “A técnica, proposta na década de 90, apresenta ainda algumas limitações que impactam na aplicação clínica da mesma. O que nosso Grupo tem feito de inovador é sanar algumas dessas limitações nas implementações atuais com o intuito de possibilitar sua aplicação na avaliação de pacientes em ambientes clínicos. Exemplo disso é nosso trabalho recente que objetiva viabilizar a aplicação da metodologia em pacientes com doenças neurovasculares que retardam a chegada do sangue ao cérebro, como é o caso da estenose de carótida. Estamos trabalhando em modificações das versões atuais para que a técnica seja sensível a diferentes velocidades de fluxo, inclusive às mais baixas”.”, conta.

De acordo com Fernando, outro aspecto importante é o fato de essa técnica possibilitar que medidas consecutivas sejam feitas sem nenhum efeito colateral para o paciente. “Por se tratar de um técnica completamente não invasiva, análises longitudinais podem ser feitas sem nenhum risco ao paciente. Isso torna a técnica importante principalmente para avaliação de doenças que progridem rapidamente e demandam um controle clínico com alta periodicidade, como é o caso de alguns tumores cerebrais mais agressivos”.

Outra frente de estudo do docente diz respeito à seletividade da técnica. Uma implementação proposta por Fernando possibilita a medida seletiva de perfusão sanguínea cerebral, sendo possível mapear regiões específicas irrigadas por artérias individuais específicas, o que permite compreender melhor o impacto de cada uma das artérias na perfusão cerebral.

Atualmente, os principais fabricantes de equipamentos de Ressonância Magnética já disponibilizam, pelo menos, uma das implementações da técnica ASL. Para adesão, basta adquirir uma licença de uso, podendo-se, portanto, continuar a utilizar equipamentos de imagem por ressonância magnética já existentes. Seria óbvio dizer que isso não é de interesse das empresas produtoras dos agentes de contraste utilizados atualmente.. Além disso, alguns médicos ainda são resistentes ao uso da nova técnica, uma vez que se altera a maneira de interpretação das imagens fornecidas por esses exames. Porém, mesmo com estes e outros “entraves”, Fernando acredita que em cinco anos já seja possível uma maior adesão e popularização da técnica. “É só uma questão de tempo”, afirma.

*Esse tipo de exame pode trazer problemas para mulheres grávidas, lactantes e pacientes renais crônicos

**Algumas das doenças associadas ou causadoras de alterações na perfusão sanguínea cerebral: Acidente Vascular Cerebral (AVC), tumores intracranianos, Doença de Alzheimer e epilepsia

***Perfusão é o mecanismo pelo qual os nutrientes são transportados ao tecido através do fluxo sanguíneo

 ****Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) e Instituto D’Or dePesquisa e Ensino (IDOR), no Rio de Janeiro

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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