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28 de agosto de 2012

O futuro docente das ciências exatas

Dizer que a educação no país tem deixado a desejar não é novidade nem surpresa. Os números fornecidos pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) no Brasil, na semana compreendida entre os dias 12 e 18 de agosto do corrente ano, mostram melhoras simbólicas no desempenho das redes de ensino, mas ainda muito distantes do ideal. E, quando o assunto é ensino médio, os resultados são igualmente inaceitáveis.

SeLic-3Com essa preocupação em mente, alunos do curso de Licenciatura em Ciências Exatas do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), conscientes da problemática educacional existente no país, especialmente em disciplinas da área de ciências exatas (química, física e matemática), organizaram a 7ª edição da “Semana da Licenciatura em Ciências Exatas (SeLic)”, sediada no próprio IFSC, para trazer discussões em torno do seguinte tema: “Futuro da profissão docente numa sociedade em transformação”. “Durante a SeLic, nosso foco foi, como sugere o tema, clarear a mente dos participantes no que diz respeito à profissão ‘professor’, mostrar as possibilidades da carreira e motivá-los a seguí-la”, explica a docente do IFSC e orientadora da SeLic, Cibelle Celestino Silva.

Mas, o que há para ser discutido com os futuros professores (tendo em vista que o público-alvo da SeLic são alunos da licenciatura)? Para esse importante debate e reflexão, docentes renomados na área de ensino estiveram presentes no evento para proferir palestras e, com otimismo, tocar os participantes para seguir a carreira docente e reverter o quadro educacional do país.

De acordo com o Governo Federal, na educação básica, dos quase 60 mil professores de física espalhados pelo país, nem 10 mil possuem diploma de graduação. No que diz respeito ao ensino de química, o quadro também é preocupante: dos quase 54 mil docentes, nem 15 mil são diplomados. “As causas disso são muito amplas e complexas. Uma delas, certamente, é a formação dos professores”, afirma a docente do Instituto de Física (IF/USP), Maria Regina D. Kawamura, umas das palestrantes convidadas da Semana.

A desvalorização do professor, somada à falta de investimento em sua qualificação, coloca não só o docente, mas, principalmente, o aluno numa situação prejudicial, mostrando que a educação no país caminha em círculos viciosos, tendo sua qualidade comprometida.

Para o docente da Faculdade de Educação (FE/USP), Maurício Pietrocola P. de Oliveira, uma maneira imediata de amenizar o problema seria, justamente, oferecer maiores salários aos professores. “Como em qualquer profissão, existem professores muito bem remunerados, mas é uma minoria. Portanto, dobrar o salário dos professores seria uma primeira ação de estímulo imediato. Depois, teríamos que esperar para ver os resultados”.

SeLic-2No entanto, quando o assunto é Química ou Física, a situação é mais complicada. Primeiramente, pela escassez de professores nessas disciplinas, como já citado anteriormente. Além disso, o excesso de conteúdo teórico excede, expressivamente, aulas com conteúdo prático que, por sua vez, poderiam tornar as disciplinas mais didáticas e inteligíveis ao estudante. “Certamente, os professores já graduados possuem estratégias necessárias para envolver os alunos. Mas, por uma leitura macro, que nos mostra que a maioria dos professores não tem formação superior, existem estudantes que não foram preparados para serem professores. Então, a estratégia destes é reproduzir as do ensino que tiveram quando alunos”, explica Maurício.

A isso, complementa o docente, no caso específico da disciplina de física, soma-se a desvalorização social da profissão, a falta do diploma, além da pressuposição do modelo curricular antigo, no qual a necessidade de alunos proficientes em ciências sempre foi pequena. “A realidade, hoje, mostra outro quadro: dobrou-se o número de vagas nas universidades federais e, ao mesmo tempo, não se consegue ter o dobro de profissionais formados”.

Ou seja, uma infraestrutura decente apararia algumas arestas, mas concentrar esforços na capacitação e qualidade de formação dos futuros docentes deve ser prioridade. Maurício cita o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) como uma das ações implementadas para melhorar esse quadro. “Trata-se de um programa que tem um objetivo muito simplório, mas que tem tido um impacto muito grande. Através dele, você tenta aproximar os alunos da licenciatura à arte de ser professor. A taxa de evasão nos cursos de licenciatura diminuiu muito depois do lançamento desse programa”, conta.

Maria Regina traz um cenário mais otimista. Embora o quadro macro se apresente desanimador, ela afirma que há muitas escolas e professores que sabem como trabalhar o conteúdo em sala de aula. Mas faz uma ressalva. “Muitas ações, como, por exemplo, a formação continuada de professores, acaba sendo uma gota no oceano. Há pouco espaço para ver os frutos dessas ações, especialmente no estado de São Paulo, com sua enorme diversidade e tamanho da rede de ensino”.

Na opinião de Cibelle, no que se refere à educação nas disciplinas de ciências exatas, já se chegou ao “fundo do poço” e a tendência, a partir de agora, é a melhora, mesmo que de forma lenta e gradual. Para ela, iniciativas como a SeLic podem trazer esclarecimentos aos alunos, estimulando-os a finalizar o curso de licenciatura e seguir a carreira docente. “A SeLic priorizou o tema do futuro da carreira docente, pois esse é um tema que incomoda, mas de maneira positiva, pois incita reflexão por parte dos alunos”.

SeLic-1Na SeLic, que será encerrada em 24 de agosto, tanto Maria Regina quanto Maurício proferiram palestras. Com o foco de suas pesquisas voltado ao ensino, o lema foi motivar os ouvintes das referidas palestras. Porém, o verdadeiro desafio posto aos docentes brasileiros, além de prender a atenção do aluno em sala de aula, é conseguir recompor sua valorização. Como isso pode ser feito?

Não há ainda uma resposta concreta para tal pergunta. Maria Regina diz que é preciso “pensar novo”. Maurício, citando ideias do filósofo francês, Gaston Bachelard, acredita que a criação, imaginação e racionalidade se combinam para trazer a capacidade de aprendizado no mundo atual.

Mas, independente de quaisquer ações, novas ou antigas, os professores precisam ainda vencer muitos desafios. Recompor a valorização dos docentes pode ser o primeiro passo para que a educação do país saia do “fundo do poço” e chegue a um nível aceitável. E, com isso em prática, pode ser que as próximas gerações de educadores tenham motivação e estímulo suficiente para pintar um cenário ideal para educação brasileira.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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