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27 de novembro de 2014

O futuro das angioplastias

É comum o depósito de placas de colesterol no interior dos vasos sanguíneos do corpo humano, o que impede a circulação normal de sangue no organismo e obstrui artérias- inclusive as coronárias. O método mais comum utilizado para impedir o bloqueio de artérias e vasos é a angioplastia, que consiste na inserção de um pequeno tubo metálico de aço inox ou platina na artéria, chamado stent, e que serve como “ponte” para o fluxo sanguíneo, impedindo a obstrução futura de artérias.

Schneider-_Stent-2Porém, embora já estabelecida há muitos anos, aproximadamente um terço das pessoas que são submetidas a essa cirurgia sofrem com algum tipo de problema futuramente. No caso do implante de stents, o processo cirúrgico pode criar uma ferida na parede do vaso, gerando um coágulo sanguíneo, o que pode se tornar uma fonte de obstrução local. Outro problema é a detecção do stent pelo organismo como um agente estranho, o que causa o disparo de respostas imunológicas e desencadeia o crescimento de células sobre a placa metálica, o que, no futuro, pode gerar novas obstruções.

Para tentar sanar esses problemas específicos, o docente do Grupo de Ressonância Magnética do Instituto de Física de São Carlos (GRMN- IFSC/USP), José Fabian Schneider, em conjunto com pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC/USP), do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB/Unicamp) e do Departamento de Química a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP/USP) têm trabalhado na criação de um filme biocompatível para ser depositado sobre a superfície do aço cirúrgico, impedindo, entre outras coisas, a resposta imunológica do organismo humano.

Porém, a missão é mais complicada do que parece: além de biocompatível, o filme deve apresentar resistência mecânica e química. “O ideal é conseguirmos que esse filme proteja a placa metálica e evite o crescimento de células sobre a superfície. Dessa forma, o corpo não conseguirá ‘enxergar’ o metal, evitando a resposta imune do organismo”, explica o docente.

Esse seria o objetivo final da pesquisa, mas diversas etapas vêm antes disso, algumas, felizmente, já concluídas pelos pesquisadores. Baseando-se em protocolos já existentes para se testar esse tipo de material em condições similares às encontradas no organismo, os pesquisadores criaram alguns protótipos, e dois deles já apresentaram resultados favoráveis, o que rendeu uma publicação no Canadian Journal of Chemistry (clique aqui para acessar o artigo).

O que cabe ao IFSC

Por sua complexidade, a pesquisa exige que pesquisadores de diversas áreas estejam envolvidos. O papel de Schneider e seus colaboradores é a análise química do filme. A deposição do filme sobre a placa metálica é feita de forma líquida. Depois de algumas reações químicas, parte do líquido evapora, restando apenas um material de textura plástica. É esse “resto” que precisa conter todas as propriedades favoráveis já mencionadas anteriormente (biocompatibilidade, flexibilidade, porosidade etc.) “As reações químicas que ocorrem nesses processos são inúmeras e o resultado de cada uma delas deve ser analisado”, conta Schneider.

Schneider-_Stent-1Através da espectroscopia por ressonância magnética nuclear, os pesquisadores do IFSC analisam, em escala atômica, quais ligações químicas se formam para saber se o filme possui as propriedades exigidas e compatíveis ao organismo. “Muitas variáveis precisam ser analisadas nesse processo, e ainda tem mais um detalhe: tudo precisa ser feito em temperatura ambiente, já que um dos objetivos posteriores é inserir moléculas de fármacos no filme, e, em altas temperaturas, elas não resistem e se degradam”, explica Schneider.

Uma vez que se tenha encontrado um filme ideal para ser depositado sobre a placa metálica, o próximo passo é encontrar moléculas de fármacos que possam ser incorporadas a ele. O intuito é que essas moléculas impeçam a formação futura de coágulos sanguíneos ou de placas colestéricas- o que ocorre com frequência com aqueles que já passaram pela cirurgia de angioplastia. “O filme que estamos criando servirá também como um suporte para as moléculas do fármaco”, elucida o docente.

Concluída essa etapa, os resultados trarão soluções práticas que serão muito bem-vindas. Primeiramente, a angioplastia será melhorada e poderá se tornar um tratamento com rejeição praticamente zero por qualquer organismo. Além disso, os resultados também poderão ser extrapolados para o melhoramento de outras cirurgias que envolvem a colocação de materiais metálicos no corpo como, por exemplo, implantes metálicos nos ossos. “Atualmente, esses implantes são feitos com titânio. Porém, efeitos negativos em longo prazo já foram encontrados. Nossa pesquisa, se bem sucedida, poderá auxiliar em pesquisas que visem ao aprimoramento desses implantes”, conclui Schneider.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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