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23 de novembro de 2012

A Física e Medicina caminhando juntas

Dentre as mais variadas saídas profissionais para quem se forma em Física, uma delas começa agora a emergir no mercado de trabalho brasileiro e a ganhar cada vez mais destaque: o Físico Médico.

Algumas das particularidades dessa profissão foram apresentadas e discutidas nacerebroimagemrmn última edição de 2012 do programa Ciência às 19 Horas, que decorreu no dia 13 de novembro, no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas, tendo como convidada a Profa. Dra. Gabriella Castellano, docente do Grupo de Neurofísica do Instituto de Física Gleb Wataghin (UNICAMP), que dissertou sobre o tema Onde a Física e a Medicina se encontram: Física Médica e Neurofísica.

Nesta interessante palestra, além dos aspectos relacionados com o fato de a Física poder auxiliar no entendimento do cérebro humano e nas doenças que o podem afetar, a pesquisadora incidiu uma atenção particular sobre a atividade do Físico Médico – ainda pouco divulgada entre nós -, bem como o entrelaçamento que existe entre as áreas da Física e da Medicina, nesse seu trabalho.

As áreas mais importantes da designada Física Médica são, a radioterapia, medicina nuclear e a radiologia ou radiodiagnóstico, sendo que todas elas envolvem o conhecimento e manuseamento de equipamentos complexos, lidando-se diretamente com radiação ionizante. Daí a necessidade de se ter um profissional que tenha conhecimento, aptidão e especialização neste tipo de radiação, sabendo antecipadamente como ela interage com os tecidos do corpo humano e quais os danos e benefícios que ela pode causar nas pessoas: esse profissional é o Físico Médico.

Sempre que uma estrutura hospitalar possui equipamentos desse tipo, torna-se necessária a presença de um Físico Médico. Atualmente, os hospitais têm investido na compra de equipamentos de radioterapia, que servem, principalmente, para tratamento de vários tipos de câncer: daí que os Físicos Médicos sejam considerados peças fundamentais nesses procedimentos, porque uma vez que o médico diagnostica qual é o tipo de câncer que um paciente tem, prescrevendo um tratamento, quem irá fazer o planejamento desse mesmo tratamento, juntamente com o médico, será o Físico Médico, cabendo a este
sugerir qual será o melhor tipo de terapia que irá ser utilizado para tratar esse tumor, de que forma é que a radiação irá ser canalizada, se haverá – ou não – riscos de reações adversas, quais os ângulos que deverão ser aplicados na radiação, qual a intensidade dela,
etc. E o objetivo é sempre tentar destruir o tumor sem danificar ou comprometer rmn22todo o tecido que se encontra em redor dele e que está são. Sobre o enquadramento legal desta atividade profissional, Gabriela Castellano explica:

Atualmente, existe uma legislação que obriga os centros de radioterapia a terem no seu quadro de recursos humanos a figura do Físico Médico. Contudo, para outras áreas, como a medicina nuclear e o radiodiagnóstico, ainda não existe legislação, mas está-se caminhando nesse sentido. Na medicina nuclear, o usual é utilizarem-se radiofármacos, que são moléculas que possuem elementos radioativos e que ao serem ingeridas ou injetadas nos pacientes emitem radiações internas que podem ser utilizadas para se fazerem imagens de determinadas partes do corpo humano. É óbvio que toda a manipulação desses radiofármacos precisa ser executada por profissionais altamente qualificados e especializados, que tenham o conhecimento necessário para calcular a dose certa que pode ser administrada em determinado paciente, exatamente para que seja possível fazer uma determinada imagem e não outra coisa qualquer que possa prejudicar esse paciente. Por outro lado, como os radiofármacos geralmente são feitos nos próprios centros de medicina nuclear, há a necessidade de existirem Físicos Médicos nesses locais, por forma a que o trabalho deles tenha uma sequência lógica, principalmente na interligação com o pessoal de radiofarmácia.

A formação de um físico médico e sua saída para o mercado de trabalho

A Física Médica é uma disciplina multidisciplinar, onde o físico tem que ter conhecimentos vários, não só no aspecto da física comum, como também nas áreas de medicina, psicologia, biologia, química e, inclusive, conhecimentos profundos em matemática e computação, porque esse profissional irá lidar com softwares extremamente complexos e com algoritmos complicados, principalmente para captura e tratamento de imagens com definições de alto padrão: o público está habituado aos tão conhecidos Raios-X, mas este tipo de imagem nada tem a ver com esse tipo de radiologia convencional. Há quem questione se este profissional é um físico, ou se, é um médico: na verdade, ele é um físico e não um médico, mas trabalha lado-a-lado com os médicos, em parceria estreita com eles. Quanto à formação destes profissionais, a Profa. Gabriela Castellano adianta algumas informações importantes:

Vou dar o exemplo da UNICAMP, onde existe um curso de graduação em Física Médica, em que o aluno faz a maioria de suas disciplinas dentro da área da física básica, passando depois para disciplinas específicas: biologia, medicina, física aplicada à medicina, física de radioterapia, física de medicina nuclear, física de radiologia, etc., tudo isso já canalizado, como se vê, para a área médica. São quatro anos de curso, acrescido de um ano de estágio em um hospital ou clínica, e mais um período de residência em Física Médica num centro de radioterapia, para depois ingressar definitivamente em um hospital ou centro. Contudo, um dos problemas no Brasil, nesta área, é que existem pouquíssimos centros que oferecem esse tipo de residência na área de Física Médica, mas há a esperança de que esse panorama possa mudar, já que foi lançado recentemente um edital tendo em vista a possibilidade de serem oferecidas mais bolsas destinadas à residência; como informação complementar, essas residências têm uma carga horária pesada – cerca de 60 horas semanais –, o que demonstra o quanto um Físico Médico fica preparado para exercer sua atividade.

No Brasil, rmn1a demanda por esses profissionais está crescendo muito, mas ainda existem dois problemas que necessitam ser resolvidos: o primeiro, diz respeito à legislação, porque embora seja importante o trabalho do Físico Médico, esta profissão tem ainda que ser reconhecida legalmente na área específica da radioterapia e essa falta de reconhecimento faz com que muitas clínicas e hospitais ainda prescindam da contratação desses profissionais, o que, para nossa entrevistada, é um erro. O segundo problema diz respeito aos próprios médicos, que são proprietários ou possuem cargos de administração em hospitais, que ainda não perceberam a importância de ter um Físico Médico ao seu lado, até para gerir e manusear, de forma correta, equipamentos que são extremamente sensíveis e fidedignos, dependendo deles e dos resultados alcançados o sucesso dos diagnósticos e tratamentos de seus pacientes. Fazendo uma comparação, nesta área, com a realidade norte-americana, o Brasil ainda está engatinhando:

Nos Estados Unidos, o Físico Médico é o profissional mais bem pago em todas as áreas da Física Aplicada e tem uma demanda muito grande. Por exemplo, no Brasil existem alguns (poucos) equipamentos de ressonância magnética e outros mais dedicados à medicina nuclear, enquanto que nos Estados Unidos existem largas centenas desses equipamentos que estão distribuídos pelos principais hospitais e clínicas. Por outro lado, no Brasil existe apenas um técnico – designado de Cientista Clínico, cuja sua missão – conjuntamente com os pesquisadores – é desenvolver protocolos específicos em ressonância magnética, principalmente no capítulo de geração de imagens: não só ele é o único no Brasil a fazer esse trabalho, como também ele é o único com essa especialidade abaixo da linha do Equador. Comparativamente, só nos Estados Unidos existem cerca de trinta cientistas clínicos para esse objetivo. Agora, imaginemos quantos equipamentos de ressonância magnética existem nos Estados Unidos e quantos existem no nosso país, conclui Gabriela Castellano.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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