Notícias

4 de maio de 2012

O dinossauro do espaço

Dos bilhões de estrelas que frequentam nossa galáxia, atualmente, pelo menos uma delas pode ser considerada um dinossauro. A comparação com o abolido animal não se deve somente por sua idade avançada, mas, especialmente, pelo fato de ela estar, ao que alguns estudos indicam, muito próxima da extinção.

Eta_CarinaeA Eta Carinae, representante de uma classe de estrelas de vida curta, que existiram em maior abundância nas primeiras centenas de milhões de anos do Universo, tem se destacado por diversos motivos. Algumas de suas características, como um fortíssimo brilho, tamanho expressivo e o fato de ser binária (sempre acompanhada de outra estrela) são algumas das razões que a tornam exótica.

Como se todas essas qualidades não bastassem, outro fator faz dela ainda mais relevante, principalmente para os estudiosos da área: Eta Carinae, possivelmente o último “exemplar” de sua espécie que se encontra próxima da Terra, o que possibilita seu estudo, está prestes a virar história. Na iminência de explodir em forma de hipernova* ou Gama Ray Burst (GRB)**, ela pode estar com os dias contados.

“Estrelas de grande massa, como ela, são muito importantes, pois, no passado, produziram o oxigênio que compõe a água e os organismos vivos, incluindo o nosso. Outras estrelas do mesmo tipo da Eta Carinae já foram extintas há muitos anos, a maior parte delas há 12 bilhões de anos”, explica o docente do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP), Augusto Damineli.

Diante desse quadro, através do estudo da Eta Carinae será possível descobrir como o Universo produziu oxigênio há bilhões de anos, já que esse tipo de estrela estava lá, cumprindo esse papel. “O oxigênio parou de ser produzido no universo há doze bilhões de anos, então, para sabermos nossas origens precisamos dessas informações”, complementa o docente. “Temos que observar as Eta Carinae do passado”.

Estrela comprometida

Outra interessante particularidade da Eta Carinae é que ela é “casada”: está sempre acompanhada de outra estrela em sua órbita e Damineli é quem fez essa descoberta, da seguinte forma: passou a observar a estrela mais atentamente e descobriu que, a cada cinco anos, ela andava a mesma distância. “Ninguém ‘dança’ sozinho num passo tão ritmado. Ela é, portanto, ‘casada’ gravitacionalmente, ou seja, fisicamente ligada a outras estrelas através da gravidade”, explica.

Já por ser muito grande, a quantidade de massa que ela solta é significativa, bem como a quantidade de gases coloridos que expele (um evento muito belo na galáxia, diga-se de passagem).

Caso Eta Carinae exploda, espera-se que ela produza um feixe muito fino de raios gama, como um raio laser. Esse feixe irá percorrer o universo e quem estiver no caminho saberá que, na via Láctea, terá acabado de morrer uma estrela grande. “O problema é que, dentro da via Láctea, esse feixe de raios gama é tão forte, que tudo que ele encontrar no caminho será destruído”, explica o professor.

Mas, por enquanto, os terráqueos podem respirar aliviados: a Terra não será atingida, caso isso aconteça. Até porque, se fosse, toda camada de ozônio seria arrancada de nosso planeta, impossibilitando nossa sobrevivência.

Mesmo que se construam hipóteses de que Eta Carinae irá explodir em breve – e quando se fala breve não é nos próximos dias ou meses, mas nas próximas décadas -, fica difícil mensurar uma data exata. “Olhando para essas estrelas, há vinte anos, achávamos que teríamos 500 mil anos para estudá-las. Hoje acreditamos que em poucas décadas ela morrerá, baseando-nos nas erupções que tem acontecido dentro dela”, afirma Damineli.

Fenômeno inédito?

Eta_Carinae-1Eta Carinae estar “despedindo-se” da Galáxia é um fato único. Mas os fenômenos responsáveis por sua extinção, não. Os Gama Ray Bursts, embora raros, se olharmos para apenas uma galáxia, são comuns no Universo como um todo, sendo possível detectar esses eventos algumas vezes por semana. A diferença é que tais eventos estão no término do Universo, a distâncias de bilhões de anos-luz. “Esses eventos são tão energéticos que, mesmo acontecendo muito longe de nós, nos confins do universo visível, podemos observá-los com um ‘brilho´ comparável ao de estrelas da nossa própria galáxia, embora a maior parte desse ‘brilho´ não seja em forma de luz visível”, explica o docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Daniel Augusto T. Vanzella.

O docente explica que esses fenômenos são muito bem direcionados e, portanto, perdem pouca energia e conseguem propagar-se por distâncias muito grandes. “Alguns desses eventos ocorreram a 13 bilhões de anos-luz de nós e, ainda assim, somos capazes de observá-los”, conta.

E o mais interessante disso tudo é que observar um fenômeno que ocorreu no Universo a uma distância tão grande é observar o passado, de fato. “A luz que podemos observar hoje viajou por 13 bilhões de anos no Universo, é uma imagem do passado. Ou seja, nasceu no momento em que o Universo era muito jovem, ainda, e nessa época, estrelas como a Eta Carinae eram muito mais comuns, bem como os GRB’s”, explica Daniel.

Por isso, a importância de se observar a Eta Carinae e os eventos pelos quais ela passará nos próximos anos. Vanzella afirma que ela não é a última do Universo, mas a única que conhecemos em nossa “vizinhança”; as outras não sobreviveram.

Aí, entra a comparação feita por Damineli, de Eta Carinae ser com um dinossauro: sabemos que eles existiram, mas não temos mais “exemplares” do animal para estudar. Para a exótica estrela ainda resta uma chance. Basta, apenas, que ela não surpreenda a todos e exploda muito antes do que os últimos estudiosos supõem. Afinal, a imprevisibilidade, ao mesmo tempo em que é um “charme” da estrela, pode significar a extinção de um importante conhecimento.

*colapso cataclísmico, seguido de uma explosão de uma estrela supergigante, que pode levar a um buraco negro. A explosão é maior do que uma supernova, e pode ser acompanhada de uma erupção de raios gama

**traduzido por “explosão de raios gama”, está entre os fenômenos mais energéticos do Universo

Assessoria de Comunicação

Imprimir artigo
Compartilhe!
Share On Facebook
Share On Twitter
Share On Google Plus
Fale conosco
Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
Obrigado pela mensagem! Assim que possível entraremos em contato..