Notícias

1 de novembro de 2012

Inspiração aos futuros acadêmicos

É muito comum alunos universitários realizarem parte de seus estudos no exterior, seja na graduação ou na pós-graduação. Um pouco mais incomum é que os estudantes não retornem ao seu país de origem e fixem raízes no país estrangeiro onde realizaram parte de seus estudos.

Brasil-SuiaPara o ex-aluno do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Nicolau Beckmann*, a possibilidade mais “incomum” foi abraçada e, desde 1986, quando saiu do Brasil rumo à Universidade de Basel (Suíça), para fazer seu doutorado em Biofísica, fixou-se na Suíça, onde hoje exerce as funções de chefe do laboratório de imagens médicas do Instituto Farmacêutico Novartis e de professor livre docente no Biocentro da Universidade de Basel.

Porém, antes de lançar uma carreira acadêmica no exterior, Nicolau completou sua graduação e mestrado no IFSC e, dessa época, tem muitas recordações que guarda claramente, embora tenha ingressado no Instituto há 33 anos.

Mas, como o catarinense nascido em Joinville veio parar no interior de São Paulo? Ele conta que, na época, por recomendação de professores do ensino médio, visitou três institutos de física e, ao visitar o então IFQSC (Instituto de Física e Química de São Carlos), sentiu uma atmosfera mais familiar. “Então, inscrevi-me na FUVEST, tendo como primeira opção a física em São Carlos. Passei no vestibular e comecei minha graduação no IFQSC em 1979”, relembra.

Ao chegar ao Instituto, já se deparou com algo que marcou sua graduação: professores da USP e metalúrgicos do ABC estavam em greve, algo que Nicolau nunca tinha, sequer, ouvido falar. “Em 1978, os estudantes de São Carlos tinham perdido um ano da graduação e o clima de apreensão estava no ar. Quando entrei, as coisas só ficaram mais calmas no segundo semestre de 1979”, conta.

Porém, mais marcante do que esse fato foi um seminário que participou, ministrado pelo famoso físico brasileiro, Mário Schemberg, no qual Mário trazia a hipótese de o futuro da física estar na biologia. “Esta frase me marcou muito, talvez até hoje, e acabou desempenhando um papel muito importante em minhas decisões profissionais futuras”, afirma o pesquisador.

Sobre seu trabalho e pesquisas desenvolvidos na Suíça, Nicolau afirma que, para que se tenha sucesso, é preciso amar o que se faz. Ele destaca a ajuda que teve, ainda quando estudante, do ex-docente do IFSC, Horácio Panepucci, e dos docentes suíços, Joachim Seelig e Markus Rudin, além dos pesquisadores, Richard Ernst e Geoffrey Bodenhausen. “Eles tiveram paciência ao deixar-me aprender coisas novas por tentativa e erro. Quando cheguei na Suíça não tinha ideias fixas ou pré-concebidas. Errar é humano e estimula a reflexão”.

NicolauAinda sobre sua experiência no exterior, ele confessa que, ao sair do Brasil, em 1986, tinha receio de não conseguir acompanhar o ritmo do exterior. “Naquela época, a atitude que tínhamos era muito crítica em relação a nossa capacidade, como brasileiros, frente aos colegas dos países desenvolvidos. Mas, tanto na Alemanha, onde estive durante um ano, quanto na Suíça, esse receio foi logo dissipado pois me senti rapidamente integrado nos grupos. Ninguém dava muita importância ao fato de eu ser brasileiro e, no máximo, ouvia comentários sobre futebol e carnaval”, relembra.

Nicolau chama atenção para o espírito de trabalho encontrado na Suíça, exemplificando com um fato. “No Biocentro, onde fiz o doutorado, todos os laboratórios eram – e continuam sendo – abertos, por motivos de segurança, em casos de incêndio, por exemplo. Isto é, uma só porta de ingresso dá acesso a todos os laboratórios. Apesar disso, nunca ouvi histórias sobre o experimento de alguém ser destruído por motivos de inveja ou competição. Acho que, por um lado, os suíços têm um orgulho salutar de resolver os desafios por esforço próprio, ao invés de prejudicar os outros. Por outro, a atitude geral dos professores é de distribuir o trabalho no laboratório, de maneira que cada membro contribua com sua parte no projeto. Isto é, estimula-se o pensamento em grupo ao invés da competição entre os estudantes. Isto me ajudou muito a valorizar colaborações dentro e fora do grupo”.

Quando questionado sobre eventuais arrependimentos de sua vida acadêmica, Nicolau diz que não mudaria quase nada. “O caminho trilhado foi muito importante, tanto no Brasil quanto fora. Tudo contribuiu para o desenvolvimento de minha personalidade”, afirma. “Trabalho no meio acadêmico e empresarial e acho que, de certa forma, isso é um privilégio, pois o fato de tentar contribuir para o desenvolvimento de novas terapias é uma motivação muito forte para mim”, explica Nicolau, referindo-se às pesquisas que realiza na Novartis, usando técnicas de imagens para estudar o desenvolvimento de doenças e o efeito de fármacos experimentais.

Nicolau diz que não faz uma visita ao IFSC há mais de 15 anos, mas desde a última, confessa que as maiores mudanças que notou foram o crescimento do Instituto e a ausência de alguns professores. Ele mantém contato com alguns docentes do IFSC que foram seus colegas de graduação, como Osvaldo Novais de Oliveira Jr., Tito José Bonagamba e Gonzalo Travieso, mas confessa que já passou da hora de fazer uma visita ao IFSC, e pretende fazê-la em uma de suas próximas visitas ao Brasil. E finaliza com a seguinte mensagem: “Desejo aos colegas e estudantes do IFSC muito sucesso e alegria em suas atividades. O caminho pode ser rugoso, mas vale a pena ser trilhado”.

*entrevista concedida ao site Alumni do IFSC; imagem cedida pelo docente e ex-aluno do IFSC, Nicolau Beckmann

Assessoria de Comunicação

Imprimir artigo
Compartilhe!
Share On Facebook
Share On Twitter
Share On Google Plus
Fale conosco
Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
Obrigado pela mensagem! Assim que possível entraremos em contato..