Notícias

17 de novembro de 2011

Informática em favor da minoria

LabMacambiraO advento do Linux, núcleo de sistema operacional, criado em 1996, pelo finlandês Linus Torvalds, é um marco bem conhecido no desenvolvimento de programas de computador chamados de software livre. Este compreende, classicamente, quatro liberdades: a de executar o programa por qualquer motivo, a de acessar o código-fonte para estudá-lo e modificá-lo e redistribuir copias do programa e suas modificações.

Desde o Linux, um número maior de desenvolvedores de software, incluindo profissionais, estudantes e, principalmente, amadores, passou a desenvolver programas livres para atender aos mais diversos objetivos. O “Lab Macambira”, composto por artistas e programadores, com experiência acumulada pelo desenvolvimento da cultura digital no país, guiou-se pela criação de programas que atendessem a interesses da população, buscando, portanto, suprir demandas sociais, no que se refere, principalmente, ao acesso à tecnologia e informações essenciais a essas comunidades.

A base de tudo foram projetos de software livre e aberto, como o próprio Linux, o projeto BSD e a Free Software Foundation (FSF), pontos de partida aos desenvolvedores para criar tais programas.

Utilizando-se do Linux como alicerce para criação dos programas- já que sem um sistema operacional, não poderíamos acessar a internet, ou mesmo escrever um texto-, desenvolvedores de software livre e articuladores, através do contato com diversas comunidades, passaram a perceber as necessidades destas últimas e criar programas de computador que pudessem auxiliá-las na resolução de alguns problemas, principalmente de cunho social.

Mas, de que maneira?

As demandas partem não somente de população de baixa renda. Populações indígenas e quilombolas compõem algumas das comunidades com as quais os desenvolvedores têm contato e buscam produzir tais softwares. O Lab Macambira possui um levantamento geral de demandas, através do contato com essas comunidades, e a partir delas [demandas] são desenvolvidos os softwares como, por exemplo, um programa de georeferenciamento, para demarcar áreas geográficas onde as comunidades quilombolas e indígenas habitam. “Muitas pessoas da comunidade morreram nos últimos anos, simplesmente porque muitos fazendeiros as expulsaram de suas terras e não há provas para mostrar que essas comunidades locais as habitavam”, conta Renato Fabbri, aluno de doutorado do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e um dos idealizadores do Lab Macambira.

Outro exemplo de aplicação desenvolvida pelo Lab veio tratar das conferências sobre os direitos da criança e do adolescente, um assunto de imensa proporção. “Se ocorresse um levantamento transparente e verdadeiro, feito pelos órgãos públicos, os dados seriam assustadores, logo isso tende a ser mascarado, inclusive por instituições privadas. De que maneira? Transformando a conferência em algo artificialmente lúdico, por exemplo. No final, apenas poucas pessoas fazem a deliberação, montando um documento e postando em algum local na Web. Dificilmente o documento será encontrado por alguém”, elucida Renato.

A saída para esse problema foi criar a “Conferência Permanente”, plataforma digital em código aberto para conferências sobre os Direitos das Crianças e dos Adolescentes do Estado de São Paulo, onde as pessoas, que fazem parte das conferências, se cadastram e, através de espaços disponibilizados para fóruns, postagem de fotos e demais dados, atualizam os usuários sobre o andamento das deliberações, bem como sobre as últimas novidades das resoluções propostas.

“Ágora Communs” é um outro exemplo, programa que viabiliza deliberações on line- escutas e levantamentos de demandas da sociedade. “Como o código para criação dessa plataforma está todo on-line, o Lab encoraja sua distribuição. Inclusive, o ‘Ágora’ deu origem ao ‘Delibera’, que atualmente está em uso pela ONU* em mais de 90 países”, conta Renato.

Seguindo a trilha de pão contemporânea

A exploração do audiovisual – junção de som, imagem e vídeo – pelos desenvolvedores também ganha destaque nos software criados. “A população precisa ser capaz de gerar conteúdo, e, como acreditamos na tecnologia aberta, trabalhamos na geração de ferramentas livres para criação audiovisual”, explica o doutorando. Segundo ele, essa é uma forma pela qual a população pode ser capaz de se apropriar de tecnologia verdadeiramente.

LabMacambira-1Os códigos abertos para expansão e melhoramento desses softwares, e a criação de outros, são publicados sob uma licença. Assim, assegura-se que os novos códigos criados e utilizados sejam também livres. É a tecnologia sob domínio público, mas sempre tendo-se em mente manter as quatro liberdades. Dessa forma, todos têm acesso ao que foi criado, podendo, assim, fazer melhoras contínuas.

O “Lab Macambira”, atualmente, conta com 15 membros em dedicação diária, 12 sendo desenvolvedores, além de diversos colaboradores, onde se incluem cientistas sociais, designers, artistas e jornalistas.

O trabalho do “Lab Macambira” é feito de forma autônoma, com auxilio de diversas fontes por prestação de serviço e colaboração. Diversos pontões de cultura digital investiram nesta frente de desenvolvimento de software livre, e, mais recentemente, o pontão de cultura digital “Nós Digitais”** apóia o grupo para ampliá-lo e mobilizá-lo. “Desde que foram criados por Gilberto Gil, enquanto ministro da cultura, os pontões souberam utilizar suas verbas de maneira inteligente, e muitas pessoas têm sido beneficiadas”, afirma Renato, que finaliza dizendo que “é muito mais legal viver ajudando outras pessoas”.

Para aqueles com interesse em um contato mais próximo com o projeto e seus integrantes, na próxima semana, o Espaço Macambira será parte integrante do Festival Contato, que acontece a partir do dia 14 de novembro, em São Carlos ou no início de dezembro, onde o Lab marcará presença no Festival  Internacional de Cultura Digital, que será sediado no Rio de Janeiro.

Para conhecer melhor o “Lab Macambira”, os programas desenvolvidos, seus membros e outras informações, clique aqui.

*Organização das Nações Unidas

**entidades da sociedade civil que estabelecem convênios com o Ministério da Cultura

Assessoria de Comunicação

Imprimir artigo
Compartilhe!
Share On Facebook
Share On Twitter
Share On Google Plus
Fale conosco
Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
Obrigado pela mensagem! Assim que possível entraremos em contato..