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9 de outubro de 2014

IFSC – USP representou Brasil no “OpenFactory – 2014”

Entre os dias 10 e 19 de setembro último, um grupo de cerca de duas dezenas de cientistas foi convidado – por meio de Cristal01-200seleção – a participar no denominado IUCr-UNESCO OpenFactory, um evento promovido pelas empresas Stoe, sediada na cidade de Darmstadt (Alemanha), Xenocs, com sede em Grenoble (França), e a Dectris, sediada em Baden (Suíça). O intuito foi reunir um grupo seleto de cientistas promissores, em nível mundial, na área de cristalografia, com foco na observação e manipulação dos mais modernos difratômetros e detectores de Raios-X desenvolvidos pelas citadas empresas.

Refira-se o aspecto inédito do evento – que esteve inserido na programação das comemorações do Ano Internacional da Cristalografia, ao ter sido organizado por empresas, com foco em pesquisadores acadêmicos. Participaram deste evento cientistas dos Estados Unidos, de alguns países dos Brics (China, Rússia, Brasil e Índia), da África (Argélia, Tunísia, Costa do Marfim e Nigéria), e da América Latina, representada pelo pesquisador Richard Arturo da Colômbia, atualmente desenvolvendo seu trabalho no IFSC-USP, assim como pela Costa Rica e o México.

O nosso país esteve representado neste evento pelo Dr. Marcelo B. Andrade, OpenFactory_2014_Marcelo-325do IFSC – USP, que foi escolhido justamente por trabalhar na área de caracterização de minerais, através da cristalografia, algo que não é muito comum no mundo, inclusive no nosso país, já que não existem muitos pesquisadores que foquem seus trabalhos nessa vertente. Contudo, embora sejam poucos os pesquisadores que trabalham nesta área, com os maiores destaques vindos dos Estados Unidos e da Rússia, o pequeno grupo de cientistas brasileiros que trabalham nesta área – como Marcelo Andrade – carregam uma notória especialização, o que os torna credenciados entre seus pares internacionais.

Além de participar nos trabalhos propostos pelas citadas empresas, Marcelo Andrade deu a conhecer toda a sua experiência na criação e desenvolvimento de pesquisas do recém-criado Centro de Caracterização de Espécies Minerais, do qual já falamos aqui, infraestrutura que se encontra alocada no nosso Instituto. Em relação à caracterização de espécies minerais, Marcelo Andrade sublinha que o Brasil, embora ainda distante da realidade de outros países, já encurtou a distância. Começamos agora a crescer como grupo: contamos com os pesquisadores do Instituto de Geociências da USP, liderado pelo Prof. Daniel Atencio, além do meu trabalho aqui no IFSC, que é um projeto da FAPESP, e temos algumas parcerias, como, por exemplo, com os pesquisadores da Universidade do Arizona e das Universidades Federais do Ceará, Minas Gerais e de Ouro Preto, sublinha Marcelo.

Quanto ao resultado obtido na sua participação no OpenFactory, Marcelo Andrade afirma que foi muito positivo, até pela circunstância de ter sido um evento patrocinado por empresas, em que o foco foi o treinamento intensivo dos participantes em inúmeros equipamentos disponibilizados nas sedes das mesmas. Tivemos o apoio incondicional de todos os técnicos dos laboratórios das empresas anfitriãs, pudemos fazer todo o tipo de perguntas e fazer as análises nos equipamentos, dentro dos laboratórios de aplicação, OpenFactory_2014_ESRF_sincrotron_2-425pontua Marcelo.

Os participantes deste evento tiveram ainda a oportunidade de visitar o laboratório síncrotron europeu – ESRF, localizado em Grenoble, França, já que o mesmo proporciona uma fonte de altíssima energia que é aproveitada também para estudar a estrutura de dos minerais. Essa visita foi muito importante, já que conhecer esse equipamento poderá ser bastante vantajoso e estratégico para o Brasil, porque o país também possui um projeto de fonte com energia similar, – Sírius -, que está sendo desenvolvida pelo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron – LNLS, em Campinas: aí, teremos um síncrotron de terceira geração tão bom quanto esse de Grenoble. Ou seja, antes, nós tínhamos que ir ao exterior para fazer boa parte de nossas medidas de síncrotron, agora teremos um equipamento de terceira geração onde poderemos estudar novos materiais e minerais, com tecnologia brasileira, enfatiza o pesquisador do IFSC-USP.

Por ter sido escolhido exatamente por trabalhar na área de caracterização de minerais, Marcelo Andrade teve oportunidade de apresentar, no OpenFactory, o Centro de Caracterização de Espécies Minerais. Eles não sabiam que existia esse novo Centro, então foi uma surpresa muito boa. Perguntaram como é que funciona o centro, qual o tipo de colaboração científica que podemos fazer e, com base nisso, fiz uma apresentação logo no início do evento, onde pude abordar as principais características do centro e quais as técnicas que utilizamos, para um público não só constituído por responsáveis e técnicos das empresas que promoveram o evento, quanto para os restantes participantes. Além disso, no final tivemos um encontro de usuários dos equipamentos, onde tivemos a oportunidade de divulgar um pouco as ideias do centro e discutir vários aspectos relacionados com cristalografia, principalmente com pesquisadores de institutos importantes, como os das universidades de Leipzig e de Karlsruhe, ambas na Alemanha, diz Marcelo. O evento contou ainda com uma palestra apresentada pelo ex-presidente da IUCr, o indiano Prof. Gautam Desiraju*.

Os benefícios da presença do IFSC-USP no OpenFactory

O treinamento dado aos participantes do OpenFactory focou três pontos principais: difração de monocristal, difração de Raios-X por pó, e detectores, sendo que os equipamentos apresentados neste último caso – e testados pelos participantes – tinham altíssima performance e sensibilidade: São equipamentos que ainda não possuímos no IFSC – USP e que seriam extremamente úteis para o nosso Instituto, já que constituem um tipo de dispositivo que poderia nos ajudar bastante nas coletas de dados que fazemos para Raios-X, para estudar Marcelo2-425estruturas de minerais e novos materiais. Então, esses detectores de area são mais sensíveis dos que aqueles que temos atualmente. No caso da difração de Raios-X por pó, também operamos alguns difratômetros, mas por transmissão, que é uma técnica bastante interessante, onde você precisa apenas de uma quantidade mínima de material, justifica Marcelo, destacando também a difração de monocristal. No IFSC – USP, trabalhamos com difração de monocristal por Raios-X, mas as empresas do OpenFactory apresentaram também a possibilidade de se trabalhar com alta pressão (Diamond Anvil Cell), algo que pode complementar bastante os estudos que fazemos. Podemos submeter essas amostras a altíssimas pressões e estudar suas propriedades físicas“, pontua o pesquisador.

Já em contato direto com várias empresas do setor extrativo mineral, o Centro de Caraterização de Espécies Minerais poderá, a partir das experiências coletadas por Marcelo Andrade no citado evento, desenvolver novas técnicas e otimizar processos de caracterização. Segundo Marcelo Andrade, atualmente o Brasil tem uma preocupação relacionada com o processo de extração de forma mais eficiente das designadas terras raras, um produto natural riquíssimo que serve para desenvolver novos materiais, principalmente para a área de eletrônica. Se eu sei o mineral que tenho em determinado local, através da difração de pó vou conseguir fazer um planejamento melhor para rastrear e extrair essas terras raras. É nesse sentido que vamos trabalhar cada vez mais no nosso Centro, conclui o pesquisador.

* Gautam R. Desiraju, é ex-presidente da IUCR. Nasceu em Madras, Índia (1952), e obteve sua licenciatura em química pela Universidade de Bombaim, Índia, em 1972, tendo realizado o seu doutorado na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (EUA), em 1976. Após dois anos atuando nos laboratórios da Eastman Kodak Company (1976-1978), em Rochester, Nova York (EUA), Desiraju juntou-se ao corpo docente da Universidade de Hyderabad, Índia (1979). Após 30 anos como docente daquela universidade, ingressou no Instituto Indiano de Ciência, em Bengalore, e foi presidente da primeira Conferência de Pesquisa Gordon em Engenharia de cristal, realizada em 2010. É membro dos conselhos consultivos editoriais de Angewandte Chemie, Journal of the American Chemical Society, Chemical Communications e da Ciência Química.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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