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24 de fevereiro de 2015

IFSC destaca Brasil no mundo

Mais de mil cientistas espalhados pelo globo planejam, em conjunto, realizar um sonho ambicioso: colocar em funcionamento uma centena de telescópios capazes de captar radiações gama vindas do universo.

CTA_logoO local onde serão instalados os telescópios – um único deserto abrigará todos eles – ainda não foi definido, mas o país que construirá parte destes imponentes captadores de raios cósmicos já foi escolhido: Brasil. Vitória para o país, comemoração ainda maior para o Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), uma vez que na liderança dessa parte específica do projeto está o docente do Instituto, Luiz Vitor de Souza de Filho.

Luiz Vitor já está há quatro anos envolvido no projeto, denominado Cherenkov Telescope Array (CTA). Logo no início de sua participação, ele e o docente da Universidade Federal do ABC (UFABC), Marcelo Augusto Leigui de Oliveira, usaram sua experiência na construção deste tipo de instrumentos e propuseram conceber e construir, no Brasil, o suporte da câmara dos telescópios do CTA. O suporte, uma estrutura metálica com 16 metros de comprimento e 4,5 toneladas, tem como função posicionar os instrumentos ópticos do telescópio (espelhos e câmara sensível à luz), e é essencial para o bom desempenho do telescópio, garantindo a aquisição de boas imagens.

Pesquisadores franceses também propuseram a concepção de um suporte equivalente e ficou decidido que cada grupo dos dois países seguiria seus desenvolvimentos e dois modelos independentes de estruturas deveriam ser propostos à colaboração internacional do CTA. O melhor projeto seria escolhido para equipar os telescópios. “Foi um trabalho de três anos de duração durante os quais examinamos todos os requisitos de funcionamento da estrutura e projetamos todos os detalhes para atender às demandas.”, explica Luiz Vitor. “Estudamos várias formas para a estrutura, buscando atender a todos os requisitos com o menor custo e máxima durabilidade. Por se tratar de um equipamento que operará por pelo menos 20 anos no deserto, diversos materiais, formas de montagem e manutenção foram estudadas”.

A solução encontrada foi submetida a duas bancas de especialistas, uma nacional e outra internacional. Tendo sido o projeto brasileiro aprovado por ambas, iniciou-se a construção de um protótipo. Em novembro de 2014 o protótipo foi montado em um telescópio completo em funcionamento em Berlim (Alemanha). Nos dois meses seguintes, o suporte brasileiro foi testado através de medidas do seu comportamento nas mais diversas condições de operação e sobrevivência, enquanto o telescópio se movia, com vento e neve.

O protótipo brasileiro foi aprovado em todos os quesitos e se mostrou superior à proposta francesa. Desta forma, o Brasil tornou-se o responsável por construir esta parte dos telescópios.

Made in Brazil

Idealizado e concretizado totalmente em território brasileiro, vale destacar que o sucesso do empreendimento em questão é o resultado não somente da união de forças intelectuais, mas da disposição em concretizar uma parceria rara no Brasil entre empresa e universidade.

A empresa parceira escolhida foi a Orbital Engenharia (São José do Rio Preto-SP), empresa com tradição em projetos que requerem soluções inovadoras. Ao lado acadêmico coube a contribuição científica, enquanto à empresa coube a concepção e montagem do equipamento. “No projeto CTA tivemos vários desafios: desenvolver o projeto de fabricação, de modo a atender aos requisitos de montagem em campo e vida útil do equipamento, fabricar o modelo de engenharia devido às dimensões e precisões requeridas, realizar a pré-montagem para nos assegurar que tudo ocorreria corretamente durante a instalação na Alemanha e, por fim, a própria montagem do equipamento em Berlim sobre o disco do telescópio e com a câmera, para verificar se o comportamento estrutural na prática correu como projetado”, detalha Célio Costa Vaz, presidente da Orbital.

Luiz_Vitor-_CTA_2015-2Para Luiz Vitor, o maior desafio do projeto foi conseguir coordenar todas as partes envolvidas, uma vez que colaborações internacionais têm requisitos muito precisos. “É muito difícil encontrar uma empresa disposta a se envolver em pesquisa no Brasil, pois projetos científicos tem uma dinâmica diferente da que rege o setor industrial tradicional”, afirma. “Para que o nosso projeto tivesse êxito, era preciso que a empresa participante tivesse uma ‘mentalidade de pesquisa’. Como resultado desse trabalho conjunto, deu-se início o processo de depósito de uma patente, referente ao desenvolvimento de um equipamento de ajuste de posição de alta carga com grande precisão”, conta Luiz Vitor.

A primeira etapa de elaboração e construção do protótipo foi financiada pela FAPESP e se encerrou no final de janeiro com a aprovação final da estrutura brasileira. “Agora temos a responsabilidade de construir 25 suportes para os telescópios do CTA nos próximos dois anos. Será uma contribuição importante e 100% brasileira para o mais importante experimento da área a ser construído nas próximas décadas”, afirma o docente que, novamente, pleiteará o apoio junto à FAPESP para essa segunda fase do projeto.

Sobre a imagem do Brasil no exterior após a significativa participação no CTA, o docente é enfático e afirma que o Brasil já é visto de outra forma pelos cientistas internacionais. “Participo da construção de grandes experimentos internacionais de astrofísica de partículas há 15 anos. Percebo uma evolução muito positiva do nível de confiança e respeito que as colaborações internacionais depositam no Brasil. A mudança é, a meu ver, decorrente da seriedade e competência dos envolvidos: pesquisadores, agências de fomento e empresas inovadoras”, opina o docente.

Já em relação à parceria bem-sucedida entre empresa e universidade, Célio conta que trabalhar com pesquisadores requer um planejamento de maior prazo, uma vez que se deve aguardar pelo período de análise e aprovação dos pedidos de apoio aos projetos submetidos pelos pesquisadores. “Porém, uma vez superada essa etapa, os projetos são desenvolvidos de acordo com os planos previamente estabelecidos de modo muito regular”, ressalta o empresário.

Diante do exposto, fica claro que o Brasil está pronto para ocupar uma posição de maior destaque no cenário internacional de grandes experimentos científicos, hipótese que ganha força graças a projetos como o descrito anteriormente.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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