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25 de fevereiro de 2013

Prof. Daniel Kleppner fala sobre ciência

Estamos praticamente a uma semana da realização de um dos mais importantes eventos científicos já realizados no Brasil e que marcará, com certeza, a história da cidade de São Carlos:DANIEL_KLEPPNER_-_HOMENAGEADO o denominado Symposium Honoring Prof. Daniel Kleppner, que se realizará entre os dias 27 de fevereiro e 1° de março, no Instituto de Física de São Carlos (USP), contará com a participação de mais de duas dezenas de renomados cientistas internacionais, entre eles cinco laureados com o Prêmio Nobel.

A programação científica deste evento, de altíssimo nível, será apresentada no decurso da realização da XV Semana de Recepção aos Calouros, especialmente dedicada aos ingressantes nos cursos de Física, Física Computacional e Ciências Físicas e Biomoleculares, pretendendo-se, ainda, homenagear aquele que é considerado um dos mais importantes físicos atômicos ainda vivos, que dá o seu nome a este evento: o Prof. Daniel Kleppner, do MIT – Massachusetts Institute of Technology (USA), a quem o IFSC presta homenagem pelo seu trabalho de cooperação e pela formação de distintos quadros científicos brasileiros, com destaque para o Instituto de Física de São Carlos. Este evento também comemora o 11º aniversário do CEPOF – Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica de São Carlos, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiados pela FAPESP e coordenado pelo docente do IFSC Prof. Dr. Vanderlei Bagnato.

Este é mais um exemplo de como o Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo, pode contribuir para “despertar” jovens promessas rumo à área científica-tecnológica, tentando atrair cada vez mais jovens estudantes para a ciência nacional, num momento em que o país faz um esforço grande para aumentar a – ainda diminuta – porcentagem de jovens mentes brilhantes que podem ajudar o Brasil a se desenvolver de forma rápida e com excelência. Sobre os conceitos genéricos da ciência que se faz no mundo e no nosso país, atente-se aos comentários proferidos pelo Prof. Daniel Kleppner, em entrevista exclusiva à Assessoria de Comunicação do IFSC.

O avanço da Ciência no mundo

Para Daniel Kleppner, o avanço da ciência no mundo tem sido absolutamente surpreendente, começando por exemplificar o verdadeiro renascimento da área da astronomia, considerada o ramo mais antigo da ciência: Há cerca de quinze anos, foi detectado um planeta localizado em uma outra estrela, colocando fim às especulações de que o nosso Sol seria único nessas condições: até aos dias de hoje, foram descobertos centenas de planetas chamados exoplanetas, estando sendo estudados por técnicas jamais sonhadas há apenas alguns anos atrás. Destaco, também, os grandes avanços registrados na cosmologia – ciência que estuda as origens e propriedades do universo, como um todo. Por exemplo, tem sido reconhecido, nesta área da ciência, que o universo está se expandindo e LABMITque a origem dessa expansão foi um evento primordial – o designado Big Bang -, que aconteceu há cerca de 14 bilhões de anos. Há aproximadamente uma década, descobriu-se que a taxa de expansão não é uniforme, mas que a expansão está acelerando! Além disso, a matéria que podemos detectar no Universo – que dá origem às estrelas e poeira cósmica – é apenas uma pequena percentagem do total de matéria que existe no Universo. Nós sabemos que há muito mais matéria, porque podemos detectar seus efeitos sobre a gravidade, mas não podemos vê-la, já que ela não interage com a luz. Físicos de todo o mundo estão à procura de formas de detectar a matéria escura, refere Kleppner.

Para o cientista americano, a ciência está progredindo rapidamente, não só na denominada grande escala de dimensão do Universo, mas igualmente na pequena escala – átomos, núcleos e até os subnúcleos: O Prêmio Nobel 2012 foi premiado pelos grandes avanços feitos na física quântica. Este ramo da física, que foi criado para entendermos as propriedades dos átomos, foi difícil de ser aceito por muitos físicos, porque parecia estar cheio de paradoxos e de conceitos pouco claros. Agora, temos ferramentas eficientes, não só para observar o mundo quântico, como para fazer uso do comportamento quântico, estendendo o mundo quântico em nosso mundo cotidiano. Estamos aprendendo a construir dispositivos que operam sobre os princípios da mecânica quântica, em vez dos tradicionais princípios da mecânica newtoniana, enquanto que as comunicações quânticas já estão começando a ter aplicações práticas, salienta Daniel Kleppner.

Outro avanço digno de registro, no mundo da física quântica, surgiu a partir da descoberta de métodos para resfriar átomos a temperaturas extremamente baixas, inferiores a um milionésimo de grau acima do zero absoluto. O Prêmio Nobel de 2001 foi concedido por esta descoberta, mas até aí ninguém reconheceu o potencial para esse avanço. Hoje, o centro de interesse dos designados ultra-átomos frios moveu-se do comportamento dos átomos individuais para o comportamento da matéria a granel. Teorias para a estrutura da matéria podem agora ser investigadas experimentalmente, com uma precisão e detalhe nunca antes alcançados. Novos tipos de matéria estão sendo criados e novos tipos de dispositivos quânticos estão sendo investigados: Só para exemplificar, eu escolhi alguns tópicos da ciência física, porque esta é a ciência que eu domino: contudo, outros avanços nas ciências da vida são igualmente notórios. A genômica está fornecendo uma visão cada vez mais profunda sobre as propriedades dos sistemas vivos; a neurociência tem feito progressos tão grandes, que deu origem a uma nova disciplina – Ciência do Cérebro -, por forma a se obter uma compreensão profunda de como nós pensamos e até mesmo sobre as origens da consciência; assim como as ciências físicas deram origem a novas tecnologias, através da invenção de eletrônicos, semicondutores e lasers, que por sua vez permitiram a revolução digital e da internet. Na ciência, um novo conhecimento leva, invariavelmente, à colocação de novas questões. Eu dei alguns exemplos de avanços recentes, mas as questões importantes sobre Ciência ainda estão esperando respostas concretas, elucida Kleppner.

Os principais destaques científicos no futuro

A ciência é parte da sociedade e a ciência só pode florescer se a sociedade evoluir. Segundo Kleppner, os principais problemas enfrentados pela ciência são inerentes aos que a sociedade se debate: o esgotamento dos recursos naturais, devido ao crescimento da população mundial; a necessidade de existirem fontes cada vez maiores de energia e a necessidade de a humanidade poder controlar os impactos sobre o clima global. As soluções para esses problemas exigem ações políticas eficazes, além de grandes esforços científicos. Felizmente, o fato é que, crescentemente, uma parte significativa da comunidade científica está-se envolvendo nesses problemas, procurando respostas. No entanto, os obstáculos que se colocam ao progresso estabelecem uma espécie de “link” com as estruturas sociais, e a tendência natural da humanidade é se agarrar ao passado e desprezar as visões futuras. Para combater essa deficiência, segundo o pesquisador, é necessário que os padrões de objetividade e honestidade intelectual – que são valores fundamentais para a ciência – (…) possam elevar o pensamento da população, envolvendo os líderes políticos (…).

No campo da pesquisa de Daniel Kleppner, a área da Física Atômica ocupa, como é óbvio, um lugar de destaque, com grandes perspectivas para o futuro. Quando questionamos nosso entrevistado sobre quais foram as grandes mudanças observadas nos últimos anos e qual a sua expectativa para o futuro, Kleppner fez uma pequena viagem no tempo: A minha idade científica começou em meados do Século XX. Se eu recuar a minha memória aos tempos de estudante de pós-graduação, o mundo da ciência, naquele tempo, é tão pitoresca como se eu estivesse olhando para o Século XIX. Ideias imaturas, que eram pesquisadas apenas com a ajuda de aparelhos rudimentares, passaram a ser analisadas, atualmente, à luz de modernas teorias e de experimentos altamente sofisticados. Por exemplo, a minha pesquisa, como estudante de graduação, levou à descoberta de um novo tipo de relógio atômico – chamado maser de hidrogênio -, que acabou por desempenhar um papel facilitador na criação do Sistema de Posicionamento Global (GPS). Meu objetivo em trabalhar na radiação foi testar a teoria geral da relatividade de Einstein, entre as teorias mais abstratas: contudo, para testar esta teoria abstrata surgiu uma tecnologia que agora faz parte do nosso dia-a-dia. Na época de minha pesquisa, ninguém poderia ter antecipado a criação do GPS. Além disso, os próprios relógios atômicos foram melhorados em um nível surpreendente: os relógios atuais são dez milhões de vezes mais precisos do que na época em que eu era um estudante de pós-graduação. Ao longo dos anos, tenho visto centenas de ideais científicos serem desenvolvidos pelos meus colegas e colaboradores, que frutificaram de uma forma verdadeiramente impressionante – e hoje a Ciência continua a crescer. Embora as previsões sejam geralmente inúteis, estou certo de que as sementes que estão sendo plantadas, hoje, terão efeitos impressionantes no futuro, pontua Kleppner.

A homenagem do IFSC-USP e a mensagem aos estudantes

DAN_KLEPPNERQuando referimos ao nosso entrevistado a homenagem que o IFSC reservou para ele, outorgando-lhe o título de Professor Honorário, Kleppner referiu: Estou profundamente tocado por esta honra inesperada. Ao longo dos anos tive uma série de excelentes estudantes brasileiros de pós-graduação e de pesquisadores de pós-doutorado, particularmente oriundos do IFSC-USP. Além disso, já visitei o Instituto de Física de São Carlos por diversas vezes e acompanhei o crescimento exponencial na área da física. Nos primeiros anos, o Brasil teve enormes problemas econômicos – lembro-me de minha grande confusão quando me confrontava com um número cada vez maior de zeros na moeda brasileira. Os obstáculos burocráticos que nesse tempo existiam para o desenvolvimento da pesquisa científica pareciam destinados a sufocar o progresso científico do país. Ironicamente, alguns desses obstáculos tiveram um efeito estimulante, forçando o desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia no Brasil. No entanto, o desenvolvimento da física no Brasil tem sido uma grande luta. Eu tenho visto melhorias contínuas no IFSC e, nos últimos anos, tenho observado um acentuado crescimento na ciência que se faz no Instituto, que resultou no aparecimento de novas indústrias na cidade de São Carlos. Não é por acaso que o crescimento da alta tecnologia, em São Carlos, acompanhou o fortalecimento das instituições científicas existentes na cidade. Na minha opinião, o progresso do IFSC-USP simboliza os avanços que aconteceram no Brasil. Consequentemente, esta honraria é particularmente significativa para mim.

Para os estudantes e jovens pesquisadores, Daniel Kleppner deixou uma simples mensagem: Nada se compara com o prazer de descobrir algo novo sobre a natureza. Ciência significa muito trabalho, por isso os estudantes e os jovens pesquisadores devem estar preparados para pagar por esse prazer. No entanto, a satisfação de se poder fazer avançar em novos projetos e ideias, nas fronteiras do conhecimento, e a alegria de poder trabalhar em uma comunidade cujo valor fundamental é a honestidade intelectual, significa que a vida na Ciência é uma vida privilegiada, concluiu o pesquisador.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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