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6 de junho de 2011

Evento discute proteção ambiental e segurança na produção de energia nuclear

Durante os dias 2 e 3 de junho, o IFSC sediou a segunda edição do Encontro sobre Energia Nuclear e Proteção Ambiental, uma iniciativa fruto de acordo entre o IFUSP, o grupo de pesquisa de Métodos Matemáticos em Ciências Moleculares do IFSC e a empresa Eletronuclear.

A primeira edição, realizada em 2007, trouxe grandes individualidades para discutir o armazenamento do combustível nuclear já utilizado em repositórios geológicos definitivos como uma forma de reduzir os supostos danos provenientes desses resíduos, tanto ao meio ambiente quanto aos seres humanos. Esta foi uma medida proposta e adotada pelos norte-americanos, que passaram a depositar os resíduos nucleares a uma grande profundidade na Yucca Mountain, no estado de Nevada.

Porém, há um perigo real escondido nessa medida, que é a contaminação do solo e das fontes de água subterrâneas. Pesquisas passaram a focalizar, a partir daí, foi o reprocessamento do combustível nuclear. Hoje em dia, países como a França, a Rússia, a China e o Japão já reprocessam os rejeitos. O grupo de pesquisa do professor José Eduardo Martinho Hornos, do IFSC, coordenador do evento, juntamente com a Eletronuclear e a Comissão Nacional de Energia Nuclear, está envolvido em pesquisas sobre reprocessamento. A estratégia traçada foi fazer um armazenamento temporário, por um período de tempo controlável, de aproximadamente 50 anos, para que se recolha o resíduo quando técnicas eficazes de reprocessamento e reutilização tenham sido elaboradas.

Para discutir essas tendências e os novos rumos da produção de energia nuclear no país e no mundo, foram convidados para o evento o Almirante Orthon, presidente da Eletronuclear, Odair Gonçalves, presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear, profissionais do IPEN (Institutos de Pesquisas Energéticas e Nucleares), do CDTM (Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear), Almirante Bezerril e Almirante Luciano, encarregados da construção do primeiro submarino nuclear brasileiro. Além da técnica de reprocessamento como solução para o problema do lixo atômico, essas autoridades vieram discutir o possível armazenamento em médio prazo, e a polêmica da segurança em instalações nucleares, reacendida pelos 25 anos completados do desastre de Chernobyl e pelos problemas enfrentados pelas usinas japonesas.

Panorâmica das obras da usina Angra III, paralisadas em 1986 e retomadas em 2010

Já no primeiro dia do evento, a mesa de abertura do evento apresentou as principais idéias ao redor das quais o evento se organizava, em uma fala bastante interessante do Professor Hornos, que contou sobre os projetos de parceria com a Eletronuclear, sobre o projeto do Espaço Álvaro Alberto e sobre as viagens das equipes à Yucca. Tendo acabado de regressar da Ucrânia, onde passou alguns dias visitando Chernobyl e participando da Conferência Internacional de 25 anos do desastre em Kiev, ele expôs a dificuldade de relacionar cientificamente as mortes ocorridas na cidade na época à exposição à radiação, conforme constam em relatórios da ONU que não conseguem dizer exatamente quais os efeitos do Césio 137. Hoje em dia, segundo ele, a radiação ali é pouco presente, e o local transformou-se em um parque ecológico, já que livre dos impactos locais da explosão da usina e dos ambientais provocados pela presença do ser humano.

Ele também comentou o caso de Fukushima: “A usina era um lugar seguro antes do maremoto”, afirmou. “Aliás, a usina seria um lugar relativamente seguro para que as pessoas que morreram devido ao terremoto ou ao tsunami pudessem se refugiar”, completou. Todo o pânico causado por ambos os casos foram, segundo ele, fruto de desinformações graves sobre o uso de energia nuclear, provenientes do interesse político das disputas por reservas energéticas e pelo pseudo cientificismo da imprensa. Ele aproveitou para reiterar que todo tipo de energia do universo provém do núcleo dos átomos. “Toda energia vem do núcleo, um presente divino como o fogo trazido por Prometeu”, disse. Desta forma, ele deu ênfase à responsabilidade dos físicos na difusão da verdade, de modo a levá-la à população e oferecer maior proteção ao mundo.

Palestras

Dentre as atividades de destaque que foram realizadas nestes dias, a despeito da grande importância de cada discussão, houve a apresentação do Almirante Luciano Pagano Junior, Superintendente do Programa Nuclear. Ele falou sobre a construção e utilização de submarinos nucleares por parte da Marinha Brasileira, como estratégia de proteção das águas nacionais. Ele aproveitou para reiterar que este tipo de submarino não tem nada a ver com armamento nuclear, sendo assim denominado devido à utilização de energia de reator nuclear, por propulsão. Segundo ele, há imensas vantagens na utilização destes submarinos, como a elevada velocidade por tempos longuíssimos, cobrindo áreas geográficas consideráveis e possibilitando a defesa de grandes profundidades, devido ao alto poder de ocultação. As informações são de que o Brasil obtenha um submarino nuclear proveniente de um acordo com a França estabelecido no último ano de projeto e construção deste tipo de submarino.

Almirante Luciano Pagano Junior, Superintendente do Programa Nuclear, ministra palestra sobre submarinos nucleares

No dia 3, o Dr. Paulo Christiano R. Vieira, assessor da Presidência da Eletronuclear, apresentou um panorama da segurança em usinas nucleares nacionais, explicando porquê as usinas nucleares são uma das formas mais seguras de produção energética e contando que, em mais de 20 anos de funcionamento, nunca houve um acidente de qualquer tipo em Angra. O estabelecimento do programa de segurança de Angra contou com a consultoria da Agência Internacional de Energia Atômica e formulou um programa de cultura de segurança, difundido entre cada funcionário da usina. Segundo Vieira, colocar a segurança nuclear à frente da economia e da produtividade possibilidade que se tenha maior“garantia da qualidade, proteção do meio ambiente, segurança do trabalho, saúde ocupacional e proteção física”.

Resultados

A segunda edição do Encontro em Energia Nuclear e Proteção Ambiental pretende dar rumo a mudanças de paradigma no conceito que se faz da produção de energia nuclear e de reatores nucleares. Enquanto a área ganha cada vez mais forças, devido à crescente necessidade mundial por matrizes energéticas alternativas, e a política de criação de usinas, cresce também a necessidade de armazenamento cuidadoso dos rejeitos combustíveis e de uma cultura de proteção das fontes naturais. “A intenção do Encontro é formar recursos humanos para esta área, chamar a atenção do empresariado, e alertar a população e os ambientalistas com a seguinte mensagem: o uso da energia nuclear é inevitável para a humanidade”, afirma Hornos, o coordenador do evento.

Assessoria de Comunicação

Data: 6 de junho

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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