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20 de novembro de 2018

Saindo do IFSC/USP e entrando no imenso mundo da óptica

Após se formar em engenharia mecânica aeronáutica e também em eletrônica, pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), Mario Antonio Stefani (54) sentiu falta de adquirir ainda mais conhecimento básico na área. Foi nesse momento, na década de oitenta, que este egresso da Universidade de São Paulo decidiu fazer seu mestrado e doutorado em física no IFSC-USP, na área de óptica/laser, um campo que estava começando a se desenvolver no Brasil.

Como era final da década de 80 e o Brasil acabava de sair de uma ditadura e de uma crise econômica, Mario enxergou grandes oportunidades numa área em que se utilizava laser. Para ele, até os dias de hoje, há muito que fazer no Brasil, o que torna o país um local com grandes oportunidades para os futuros profissionais que tenham vocação empreendedora. Mario conta, ainda, que naquela época os alunos que estudavam na Física já se deslumbravam com a área de lasers, um campo com diversas opções de atuação e novas soluções tecnológicas: fato que mexeu com a mente do engenheiro e o trouxe para o Instituto de Física de São Carlos.

“O caminho é sempre esse, da tecnologia básica para a aplicada. A física era tecnologia básica e conhecimento científico e eu tinha background de engenheiro, ou seja, já sabia transformar uma coisa em outra. Hoje, se você ingressar na Física, irá se deparar com diversas pesquisas, tecnologias básicas e várias oportunidades de futuras aplicações no mercado”, explica o profissional.

Satélite CBERS

Durante seu mestrado e doutorado, Mario já trabalhava na Opto, empresa de tecnologia optoeletrônica sediada em São Carlos e criada por um grupo de pesquisadores oriundos do próprio IFSC-USP. Assim, todos os seus trabalhos de mestrado e doutorado foram realizados dentro da própria empresa, onde acabou por ser o responsável pelo departamento de novos produtos da firma. Segundo ele, foi uma grande oportunidade que apareceu em seu caminho profissional: “Eu tive o apoio de alguns professores que enxergavam a importância de se fazer o mestrado e doutorado, trabalhando com aquilo que você aprendeu e criou na indústria, uma quebra de paradigma na época”, diz Mario Stefani.

Durante seu mestrado, ele desenvolveu um princípio de impressora a laser, um trabalho complexo que gerou várias outras tecnologias, além da forma de controle dessas máquinas. Essa base tecnológica deu origem a diversos outros produtos para a empresa, como lasers para aplicações médicas na retina, câmeras para o fundo do olho, bem como sistemas de monitoramento agroambientais. Posteriormente, já em seu doutorado, Mario criou um medidor de distância a laser, que rendeu diversas aplicações, tanto industriais quanto na área de defesa e espaço. Essa bagagem permitiu que a Opto – empresa na qual Mario se tornou sócio há vinte e nove anos – participasse de uma série de programas estratégicos na área de defesa e espaço. A Opto, por exemplo, desenvolveu as câmaras de sensoriamento remoto brasileiras para os satélites CBERS, numa parceria do Brasil com a China. Ou seja, todo esse conhecimento em óptica e laser adquiridos por Mario na engenharia e na física, desde a graduação até o doutorado, foi fundamental para a criação de todos os produtos que desenvolveu.

Durante essas quase três décadas em que se dedica à Opto, Mario revela que sempre passou por altos e baixos, sendo essa a primeira lição que aprendeu. Desde quando participou da fundação da Opto, em 1986, ele acompanhou diversas crises, principalmente, durante a criação dos primeiros produtos desenvolvidos pela empresa, numa época em que Mario ainda não tinha noções de qualidade, processo, legislação fiscal e trabalhista e normas de segurança, tópicos que para ele eram totalmente estranhos para um físico. “Foi a primeira pancada que a gente levou”.

Um ano após a fundação da firma, o Prof. Dr. Milton, um dos sócios fundadores que havia dado aulas para ele no IFSC/USP, conseguiu convencer um banco a investir na empresa e deu certo. A primeira mudança durante essa nova fase da companhia foi exatamente substituir os artigos científicos pela busca e criação de aplicações que dessem retorno financeiro. Foi assim que ele e sua equipe acabaram desenvolvendo uma série de produtos para a área industrial e, posteriormente, para a área médica. Para ele, no começo foi muito difícil encontrar os produtos em que a Opto pudesse competir no mercado e ganhar dinheiro, mas, depois de muitas tentativas e erros, a equipe acabou por encontrar o caminho. Um desses produtos, um modelo de refletor de luz fria, foi o “ganha pão” da firma por longo tempo e chegou a ter participação de quarenta e sete por cento do mercado mundial para a Opto.
Mario lembra, porém, que depois de quase vinte anos neste mercado, produtos destinados ao segmento odontológico, os chineses conseguiram entrar com produtos de baixa qualidade e extremamente baratos e acabaram por expulsar a empresa deste segmento. “Essa é uma das lições mais importantes. A solução de hoje pode não ser a de amanhã. De uma hora para outra as coisas mudam, pois além do risco de ruptura tecnológica, que é inerente à nossa atividade, existem riscos de mercado, de gestão e de legislação fiscal entre outros”.

Para os alunos que estão cursando Física na USP, Mario sugere que eles se aproximem dos empresários para que possam adquirir as experiências desses profissionais, já que muitos estão atuando há trinta ou quarenta anos e têm muitas histórias para contar. “Essas histórias são reais, vivências muito importantes, principalmente porque o Brasil só vai melhorar enquanto essa experiência não for perdida, quando os erros poderem ser evitados: as lições têm que ser aprendidas”, finaliza nosso entrevistado.

(Entrevista publicada no livro intitulado “Egressos do IFSC/USP que atuam fora da academia” – por: Prof. Tito José Bonagamba e Rui Sintra-jornalista)

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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