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8 de novembro de 2011

Em São Carlos, o céu está muito perto

halleyO ano de 1986 foi marcado, na Astronomia, pelapassagem do Cometa Halley (veja foto ao lado), um cometa periódico que pode ser observado na Terra a cada 76 anos, quando atinge o ponto mais próximo do Sol. Neste ano, a Astronomia foi muito mais incentivada, já que, com quase 30 anos de era espacial, uma frota de espaçonaves pôde ser enviada para observar o fenômeno, e muitos centros astronômicos puseram-se em alerta para registrar sua passagem. Em especial, em meio à motivação dos centros astronômicos, uma atitude tomada repercute positivamente até os dias de hoje – a doação de um telescópio, pelo Instituto Astronômico e Geofísico da USP, ao campus da USP em São Carlos.

A partir daí, muita coisa estava pra acontecer. Uma equipe de docentes e dirigentes se encarregou das instalações do telescópio, um Refrator Grubb 204/3000 de montagem equatorial alemã, em um novo prédio, cujas construções iniciais contaram com o apoio financeiro da USP, do CNPq e de indústrias da cidade de São Carlos. O CDA (Centro de Divulgação de Astronomia) foi inaugurado, então, no dia 10 de abril de 1986, no âmbito do CDCC (Centro de Divulgação Científica e Cultural), então dirigido pelo Prof. Dr. Dietrich Schiel, com o apoio dos diretores do antigo Instituto de Física e Química de São Carlos, Prof. Dr. Milton Ferreira e Prof. Dr. Roberto Leal Lobo e Silva. À época, o Observatório do CDCC era uma réplica em pequena escala de um observatório profissional, mas hoje em dia, com grandes avanços em infraestrutura e importantes projetos voltados à comunidade, o CDA já atinge as condições mínimas de operacionalidade de um observatório profissional, e é um dos setores mais dinâmicos do CDCC.

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A Astronomia

Um Observatório é, para os astrônomos, um instrumento e um método privilegiado de investigação científica. Segundo a definição dada pelo Prof. Dr. Valter Líbero, coordenador do CDA e vice-diretor do CDCC, basicamente, a Astronomia é a área da ciência que estuda o Universo, sua formação, sua evolução e seu futuro. Para isto, os pesquisadores se empenham em exaustivas observações a fim de obter respostas aos mecanismos de funcionamento dos fenômenos físicos que ocorrem dentro e fora da Terra, ou em sua atmosfera, e a todos os objetos que são observados no céu. Além disso, as observações do céu e do espaço não são úteis apenas para a Astronomia, mas também fornecem informações essenciais para a verificação de teorias fundamentais da física, como a teoria da relatividade geral. Para se ter idéia, esta disciplina é um dos poucos ramos da ciência no qual observadores independentes, ou amadores, possuem um papel muito ativo, principalmente no que diz respeito à descoberta ou monitoração de fenômenos astronômicos temporários. Em 2010, por exemplo, um astrônomo amador britânico capturou imagens importantes de um cometa se despedaçando e liberando no espaço um pedaço de gelo que se equipara ao tamanho de uma montanha. Em 1999, um advogado brasileiro testemunhou um fato incomum: a Nova da Constelação da Vela, ou seja, uma explosão estelar que lança uma quantidade absurda de energia no espaço e aumentou a luminosidade da Vela 350.000 vezes.

Veja alguns dos equipamentos disponíveis no Observatório da USP – São Carlos

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Pesquisas brasileiras

No Brasil, a Astronomia tem um bom desenvolvimento, com astrônomos participando de projetos importantíssimos, de nível internacional. Um exemplo notável é o telescópio SOAR (Southern Observatory for Astrophysical Research), localizado no Chile, no qual pesquisadores brasileiros não apenas participam enquanto usuários, mas fazem parte do processo de construção e desenvolvimento dos equipamentos. Além disso, equipes brasileiras também integram as pesquisas do Telescópio Espacial Hubble, lançado no espaço pela NASA em 1990, e também do Observatório Gemini, localizado nas montanhas do Havaí e do Chile. De colaborações deste tipo, sempre saem bons dados, boas análises e resultados importantes, fazendo com que o Brasil de fato acompanhe lado a lado as pesquisas mundiais. Segundo Líbero, o principal problema que esta linha de pesquisa encontra, assim como a maioria das pesquisas científicas e tecnológicas no país, é a falta de recursos financeiros. Ainda assim, ele afirma que “nós dispomos de tecnologia e recursos humanos, por isso a participação do Brasil é elogiável, com centros muito respeitáveis”.

No Instituto de Física de São Carlos, não há pesquisas voltadas especificamente para a Astronomia, mas há pesquisadores empenhados em linhas de pesquisa correlatas. O Prof. Luis Vitor de Souza Filho, que investiga a área de Astrofísica, o Prof. Daniel Vanzella, que de alguma forma envolve Cosmologia em sua pesquisa, e a Profª Cibelle Celestino Silva que, investigando o ensino de ciências, utiliza o Observatório para coletar dados sobre espaços não formais de aprendizagem.

Formação

Com estas contribuições recentes do país para a área, o cenário de formação deste tipo de profissional vem sendo devidamente ampliado. Tradicionalmente um curso de pós-graduação, fazendo com que os estudantes aprofundassem seus conhecimentos na área mais tarde em sua carreira, os estudos em Astronomia agora podem ser empreendidos mais cedo, já que o IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP) já dispõe de uma habilitação nesta área dentro do curso de Física, e também criou um bacharelado em Astronomia em 2008, recebendo sua primeira turma em 2009. Até então, o único curso de graduação em Astronomia do Brasil era o do Observatório do Valongo, do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Isto indica uma mudança na visão acadêmica sobre a área, que começa a se emancipar de outras ciências. “A Astronomia tem características próprias, e não podemos descartar o encaminhamento da carreira dos estudantes”, afirma Líbero, que já teve alunos de graduação no IFSC que se especializaram em Astronomia no IAG e que hoje são profissionais na área e desenvolvem trabalhos intensos de divulgação científica.

A divulgação desta área de pesquisa parece ser uma grande prioridade na cidade de São Carlos, que conta com um grande número de profissionais empenhados na causa astronômica. De fato, não há, aqui, o desenvolvimento efetivo de pesquisas. A divulgação, no entanto, é uma batalha diária, no sentido de introduzir a Astronomia como uma disciplina de formação e, também, como um estímulo à observação de fenômenos naturais, uma realidade próxima aos alunos e, por isso, relevante. O currículo do Ensino Básico, antigamente, trabalhava com esta disciplina de uma forma mais intensa, mas algumas reformas no sistema de ensino colocaram este tópico em segundo plano. “Hoje em dia, nos cadernos do Ensino Fundamental e Médio, tem-se uma leve preocupação com o resgate da Astronomia, não só da disciplina em si, mas da disciplina enquanto motivadora para Física e Matemática”, comenta Líbero. “Esta é uma faceta muito interessante da disciplina, o que torna muito mais fácil o trabalho com seus tópicos. Todo mundo tem curiosidade sobre o Universo, todo mundo tem uma pergunta pra fazer, seja de onde viemos, se há vida em outros planetas, ou de quê o planeta é formado. Mesmo as pessoas com nível de formação mais baixo compartilham desta dúvida, e nós não temos uma resposta precisa – é daí que vem o apelo da Astronomia”, completa o coordenador.

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É devido aos incansáveis trabalhos de divulgação, às tentativas de inserir o tema da Astronomia – tão procurado – no sistema de ensino, às programações convidativas e à disponibilidade do Centro que Líbero acredita que o CDA já faz parte do calendário educativo e cultural da cidade de São Carlos. “É um orgulho pra nós que façamos parte da programação das escolas e das pessoas, uma honra”, reflete o pesquisador. Esta aproximação mais íntima pode ser o início da dissolução da idéia comum de que a Universidade é algo intimidante e que não faz parte do universo da maior parte das pessoas, o que acaba afastando a população da informação e do conhecimento que são ali disponibilizados, gratuitamente. Afinal, a Universidade tem de servir à comunidade. “O Observatório é da população, a Universidade é da população, pertence a eles”, completa Líbero.

 

Funcionamento

Durante a semana, o Observatório Astronômico recebe visitas de turmas de Ensino Fundamental e Médio, que são pré-agendadas no início do ano. Segundo o coordenador do CDA, esta agenda é lotada em poucas semanas, com visitas agendadas até o fim do ano. “Isso é ótimo e indica que as escolas de São Carlos contam com a gente, inserem o Observatório em seu calendário todos os anos”, comenta ele. Segundo as estatísticas, cerca de cinco mil estudantes passam pelo CDA todo ano. E, para dar força a essa colaboração, no próximo ano será confeccionada uma cartilha com os serviços oferecidos pelo CDA, para que os professores saibam exatamente o que é disponibilizado pela equipe e possam planejar com antecedência suas aulas e o conteúdo trabalhado durante a visita.

Nos fins de semana (sexta-feira, sábado e domingo), a visitação ao Observatório é livre. Com palestras, mini-cursos e observações na cúpula, o prédio fica aberto durante todo o dia e todos são bem-vindos.

Todas as atividades são desenvolvidas pelos monitores do Observatório, que são alunos de todo o campus, matriculados nos mais diversos cursos. Atualmente, nove monitores (sendo três voluntários) trabalham na criação e no desenvolvimento da programação, entre físicos, químicos e engenheiros aeronáuticos.


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Planos futuros

No próximo ano, além da cartilha oferecida às escolas, há planos de estabelecer uma programação regular de sessões de cinema, voltadas para o ensino. “Também queremos intensificar a Observação Solar”, afirma o coordenador, que quer atrair mais visitantes e desfazer a imagem de que só é possível observar o céu durante a noite. Os cursos para professores de Ensino Básico, como o que foi oferecido no ano passado, também devem ser repetidos, devido ao grande sucesso da última edição.

Além disso, aproveitando o ensejo da comemoração dos 30 anos do CDCC em 2010 e dos 25 anos do CDA em 2011, a coordenação do Observatório resolveu fazer uma homenagem a uma figura muito importante em todo este cenário, que é o Prof. Dr. Dietrich Schiel, o mentor destes centros. O Observatório será batizado com o seu nome, no dia 2 de dezembro, o dia internacional do astrônomo. Aguarde maiores informações!

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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