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6 de setembro de 2018

Em nome da ESPERANÇA: o carinho e cuidado de quem ajuda a combater o câncer

Um enorme abismo se abre repentinamente sob os pés e parece que todos os projetos simplesmente vão por água abaixo: a vida passa a ter um sentido diferente (ou não ter sentido), amargo, e a prostração toma conta do indivíduo. Há pressa em viver o que resta (por pouco que seja).

Estas são, talvez, de forma sucinta – com certeza sem vislumbrar nem de perto o verdadeiro sentimento de drama e de clamor à vida -, as primeiras impressões de quem recebe a notícia de que desenvolveu um câncer – seja ele de que tipo for. E, se esse drama, se esse sentimento de pânico e de perda total ficam completamente instalados em um paciente, não é menos verdade de que quem está do outro lado, do lado do atendimento e da prestação de serviços de saúde, sente que tem em suas mãos a responsabilidade e a contribuição importantes para renovar a esperança das pessoas, de sua qualidade de vida, da recuperação de sua saúde.

Alessandra Keiko Fujita é uma pós-doutoranda no IFSC/USP, integrando atualmente a equipe de técnicos e outros profissionais de saúde que desenvolvem suas atividades na Unidade de Terapia Fotodinâmica, na Santa Casa da Misericórdia de São Carlos, tendo como especialidade administrar os tratamentos de quelóide*, psoríase** e câncer de pele. Quando decidiu fazer Física, há uns anos atrás, Alessandra não fazia a menor ideia de que um dia iria mergulhar profundamente na aplicação da Física na área da saúde. “No meu curso, comecei a entrar em uma das áreas da medicina nuclear, sem olhar para todo espectro, e quando vim para o Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) continuei a não enxergar o quão vasto é o mundo da Física na área da saúde. Paulatinamente, na medida em que fui sendo apresentada a todo esse conjunto de conceitos, os meus olhos foram abrindo e a paixão por essa área me arrebatou por completo”, comenta Alessandra com um brilho intenso no olhar.

No Grupo de Óptica do IFSC/USP e apesar de sua formação inicial ser outra, Alessandra Keiko (como é carinhosamente chamada) encontrou a oportunidade para fazer de tudo um pouco e também aprender de tudo um pouco, tendo como meta ajudar os pacientes. “Amo lidar com pessoas, amo tentar dar a elas tudo aquilo que eventualmente esteja nas minhas mãos para proporcionar bem-estar, esperança, qualidade de vida. Às vezes me sinto presa, de alguma forma impotente para ir mais longe, porque, como é óbvio, a equipe é multidisciplinar e tenho que ter do meu lado outros colegas, o médico e/ou a enfermeira”. Nós tratamos os pacientes pelo seu nome próprio: eles não são meros números ou presenças ocasionais” pontua Alessandra, que recorda um episódio com uma paciente com câncer de pele que a marcou profundamente.

“Certa vez, chegou na Unidade de Terapia Fotodinâmica uma senhora que apresentava uma pequena lesão na ponta do nariz. Diagnosticada pelos médicos a quem então recorreu, observou-se que essa pequena lesão era um câncer em seu estado inicial. Antes de ter decidido visitar a Unidade, a senhora consultou um outro médico que lhe receitou dez sessões de radioterapia, um tratamento que ela mesmo constatou, através da Internet, que era de certa forma violento e cujos resultados poderiam não ser aquilo que esperava. Quando chegou na Unidade, a senhora estava em pânico completo e mais em pânico ficou quando foi informada que o tratamento seria na base de laser e ultrassom: desconhecedora da metodologia do tratamento, ela confessou, mais tarde, ter pensado que tudo aquilo iria virar uma verdadeira tortura. De uma forma muito tranquila explicamos todos os procedimentos, mostramos que não causaria qualquer dor, acarinhamo-la, brincamos com ela, rimos juntas e cuidamos dela ao longo de todas as sessões. No final do tratamento, o câncer dela desapareceu e ela tornou a sorrir, a gargalhar. É extraordinariamente gratificante você poder participar de um momento como esse, de saber que você ajudou alguém, que você aplicou nessa pessoa todo seu conhecimento e treinamento adquirido ao longo de vários anos… É maravilhoso…”, ressalta Alessandra, visivelmente comovida.

As pessoas que procuram a Unidade de Terapia Fotodinâmica para realizar os diversos tratamentos combinados com laser e ultrassom são provenientes dos mais variados extratos sociais, mas a maioria delas são pessoas carentes, de baixa renda, sendo que no caso de pacientes com câncer de pele eles apresentam um histórico de vida de trabalho intenso na roça, sob sol escaldante – daí a propensão para o aparecimento de um câncer de pele que surge lenta e dissimuladamente, através de uma pinta ou de um pequeno machucado que, ao longo do tempo, se transforma em algo dramático.

(…) Às vezes me sinto presa, de alguma forma impotente para ir mais longe (…)

Devidamente aprovados pela ANVISA, os tratamentos realizados através dos equipamentos desenvolvidos pelo Grupo de Óptica do IFSC/USP são gratuitos e deverão ser entendidos como uma contribuição que a Universidade de São Paulo dá à sociedade, que é quem sustenta a própria USP.

Além da Unidade de Terapia Fotodinâmica, instalada na Santa Casa da Misericórdia de São Carlos, e que conta com supervisão médica, tratamentos similares também estão sendo feitos no Hospital Amaral Carvalho, em Jaú (SP), sob a coordenação da Drª Gabriela Sávio, responsável pela Unidade de Pele daquele estabelecimento de saúde.

É um orgulho para o IFSC e para a USP poder apoiar a população, a sociedade que tanto contribui para elas.

*Queloide – É um crescimento anormal de tecido cicatricial que se forma no local de um traumatismo, corte ou cirurgia de pele. É uma alteração benigna, portanto sem risco para a saúde, na qual ocorre uma perda dos mecanismos de controle que normalmente regulam o equilíbrio do reparo e regeneração de tecidos. O queloide pode afetar os dois sexos igualmente, embora exista uma maior incidência em mulheres. Indivíduos com pigmentação mais escura, pessoas negras e pessoas asiáticas são mais propensos a desenvolver queloides. A frequência de queloides em pessoas com pele mais pigmentada é 15 vezes maior do que em pessoas com pele menos pigmentada. A idade média de seu início gira entre 10 e 30 anos. As pessoas em extrema idade raramente desenvolvem queloides. Os queloides podem ocorrer em 5% a 15% das feridas cirúrgicas e apesar de benignos, tendem a recidivar mesmo depois de serem removidos por cirurgia. Se uma pessoa tem tendência a formar queloides, qualquer lesão que possa causar cicatriz pode levar à sua formação. Isso inclui um simples corte, uma cirurgia, uma queimadura ou até mesmo cicatrizes de acne severa. Algumas pessoas podem desenvolver um queloide depois de furar a orelha para colocar brincos e piercings ou mesmo apenas no trauma da tatuagem. Um queloide também pode se formar em feridas de catapora após a doença ter passado. Em casos muito raros, os queloides se formam em pessoas que não feriram a pele. São chamados de “queloides espontâneos”. Os locais mais envolvidos são as áreas do tórax, do colo, do pescoço anterior, dos ombros, dos braços e das orelhas, mas outros locais podem ser afetados. (Informações da Sociedade Brasileira de Dermatologia);

**Psoríase – Doença da pele relativamente comum, crônica e não contagiosa. É cíclica, ou seja, apresenta sintomas que desaparecem e reaparecem periodicamente. Sua causa é desconhecida, mas se sabe que pode estar relacionada ao sistema imunológico, às interações com o meio ambiente e à suscetibilidade genética. Acredita-se que ela se desenvolve quando os linfócitos T (células responsáveis pela defesa do organismo) liberam substâncias inflamatórias e formadoras de vasos. Iniciam-se, então, respostas imunológicas que incluem dilatação dos vasos sanguíneos da pele e infiltração da pele com células de defesa chamadas neutrófilos, como as células da pele estão sendo atacadas, sua produção também aumenta, levando a uma rapidez do seu ciclo evolutivo, com consequente grande produção de escamas devido à imaturidade das células. Esse ciclo faz com que ambas as células mortas não consigam ser eliminadas eficientemente, formando manchas espessas e escamosas na pele. Normalmente, essa cadeia só é quebrada com tratamento. É importante ressaltar: a doença não é contagiosa e o contato com pacientes não precisa ser evitado. É frequente a associação de psoríase e artrite psoriática, doenças cardiometabólicas, doenças gastrointestinais, diversos tipos de cânceres e distúrbios do humor. A patogênese das comorbidades em pacientes com psoríase permanece desconhecida. Entretanto, há hipóteses de que vias inflamatórias comuns, mediadores celulares e susceptibilidade genética estão implicados. (Informações da Sociedade Brasileira de Dermatologia).

(Fotos: Getty Images/iStockphoto/IFSC)

Rui Sintra – Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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