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14 de outubro de 2013

Dos novos medicamentos ao seu patenteamento

Curso realizado no IFSC aprofundou e debateu os diferentes aspectos para a produção e caracterização de novas fórmulas sólidas de fármacos, com discussão da produção de melhores drogas que poderão ser patenteadas no Brasil.

FIGO curso Design and Optimization of Pharmaceutical Solid Forms: Theory, Techniques and Application, que decorreu no IFSC entre os dias 07 e 11 de outubro, superou todas as expectativas, segundo o idealizador e organizador do mesmo, Prof. Javier Ellena, pesquisador e docente do nosso Instituto.

Com a participação de cerca de quarenta alunos oriundos de todo o país e com um painel de palestrantes de elevado nível, este evento apresentou um novo panorama para a criação e caracterização de novas fórmulas sólidas de fármacos. Javier Ellena foi enfático ao fazer o balanço final deste curso: A participação ativa dos alunos inscritos neste curso junto dos palestrantes convidados foi extremamente positiva e, a partir desta experiência, estamos em condições de organizar um grupo de trabalho que se dedique a transformar a ciência que se faz nesta área de conhecimento em novos produtos farmacêuticos, com a marca do Brasil. O nosso país tem agora a chance de dar um passo importante nesse rumo e juntar-se aos principais países que optaram por essa estratégia tendo em vista o bem-estar da população e de seu próprio desenvolvimento económico. Segundo Ellena, o próximo passo JAVIER2será convencer as empresas farmacêuticas dessa necessidade e mostrar ao governo a viabilidade e as vantagens deste projeto nacional. A ideia é demonstrar como isso é importante dentro do âmbito de inovação em pesquisa farmacêutica, ou seja, como um pesquisador pode levar o que é feito em um laboratório para uma empresa, como ele pode transformar isso em uma patente e como um produto pode gerar milhões de dólares para o país.

Um dos principais palestrantes deste curso foi o Prof. Joel Bernstein*, da New York University (EUA) – Campus de Abu Dhabi, renomado pesquisador internacional e autor de um dos livros mais importantes na área de polimorfismo em fármacos, intitulado Polimorfismo em cristais moleculares, publicado pela Oxford University. Em 1999, Bernstein foi eleito membro da Associação Americana para o Avanço da Ciência e atuou como consultor para várias empresas farmacêuticas, tendo-se disponibilizado como testemunha em diversos litígios sobre a química de estado sólido de drogas. Assessorou, nessa área, diversas empresas da área farmacêutica, como a Pfizer, Johnson & Johnson, GlaxoSmithKline, Roche, Abbot, Sanofi-Aventis, Organon e Astra Zeneca.

Em sua primeira passagem pelo Brasil, Joel Bernstein declarou que este curso de uma semana, realizado no IFSC, foi altamente produtivo. Tendo consciência de que estudantes, em termos gerais, levam sempre algum tempo para interagir com os palestrantes, o certo é que, segundo o pesquisador, neste curso essa interação surgiu de forma rápida e muito produtiva. Bernstein afirmou que todos os alunos ouviram e viram muitas coisas relacionadas com os temas propostos, com uma entrega total no decurso dos sete dias: Eles vão regressar aos seus laboratórios com muitas coisas para pensar, vão estar inspirados para percorrer novos caminhos e para traçar novos rumos e metas nesta área do conhecimento, comentou o pesquisador.

Já na área relacionada com patentes, Joel Bernstein nega ser um expert na matéria, classificando-se apenas como alguém que conhece a área dedicada a modificações sólidas de insumos farmacêuticos e a relação destes com a propriedade intelectual de novos fármacos comerciais, tendo confessado que não possui, por enquanto, informações suficientes sobre a realidade brasileira na área de patentes, nem do cenário das empresas farmacêuticas de nosso país: Apenas falei com algumas pessoas sobre esse assunto e o que posso dizer é que, em princípio, este panorama é muito diferente daquele que existe nos EUA e na Europa. Como cientista, cada vez que descobrimos algo novo é sempre deslumbrante, porque estamos criando um novo conceito, um novo material, logo, estamos inventando algo. E uma invenção tem que ser patenteada, obrigatoriamente, destacou Bernstein.

O pesquisador refere que, se olharmos com atenção para os países que nos últimos duzentos ou trezentos anos apostaram na inovação, verificamos que a maioria deles criou um sistema de patenteamento, como, por exemplo, nos EUA, onde o patenteamento de novas invenções está incluso em sua própria constituição: ou seja, os fundadores da nação americana já pensaram nisso quando criaram o país. Outro aspecto é a relação que existe entre as patentes e a área dos medicamentos: segundo o pesquisador norte-americano, a patente exclui outras pessoas de usarem o produto patenteado, o que quer dizer que essas mesmas pessoas terão de pagar para usarem esse produto, o que, JOELnecessariamente, provoca o aumento do preço dele ao consumidor: Lembro-me do meu tempo de criança – nas décadas de 40 e 50 do século passado -, que quando as pessoas adoeciam os médicos iam à casa dos pacientes, carregando sempre em suas maletas apenas dois medicamentos – aspirina e penicilina. Hoje, a situação é completamente diferente, com centenas ou milhares de remédios disponíveis, tudo isso porque as áreas de inovação das companhias farmacêuticas usam os seus lucros para o desenvolvimento de novos medicamentos, pontuou Bernstein, que afirma que este curso promovido pelo IFSC vem no sentido de contribuir para que os novos pesquisadores possam participar no processo de inovação nas indústrias farmacêuticas nacionais: Eles vão ter que fazer isso não só em prol da população, como também pelo desenvolvimento econômico do Brasil, explicou Bernstein.

Contudo, a questão também se coloca do lado das indústrias farmacêuticas. Será que elas querem apostar nisso? De fato, se pensarmos em longo prazo, o Brasil terá que desenvolver um sistema eficaz que permita esse novo horizonte, inclusive na área de inovação de genéricos, que tem interferência direta na saúde pública e isso passa, claramente por políticas no setor: É óbvio que tudo isso tem que ser regulamentado para que exista um equilíbrio de forças entre invenção, inovação, patenteamento, preços dos produtos ao consumidor, a questão dos monopólios, etc., por forma a que o país saia ganhando em todos os sentidos, criando uma nova cultura para cientistas, estudantes e cidadãos, concluiu o pesquisador.

Além de Joel Bernstein, participaram deste curso os Profs. Alejandro Pedro Ayala, do Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará; Tiago Venâncio, do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos; Hamilton Napolitano, da Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Estadual de Goiás e Antonio Carlos Doriguetto, do Departamento de Ciências Exatas da Universidade Federal de Alfenas.

GRUPO1

(Foto acima: parte dos alunos e pesquisadores participantes do curso)

*Joel Bernstein nasceu em Cleveland, Ohio, (EUA) em 1941 . Após a obtenção de um diploma de bacharel naa Universidade de Cornell , ele ganhou um Ph.D. em Fisico-Química na Universidade de Yale em pesquisas sobre a espectroscopia de estado sólido de compostos orgânicos. Após um pós-doutorado de dois anos em Cristalografia de Raios- X, com Ken Trueblood, na UCLA, e na química de estado sólido orgânico com Gerhardt Schmidt, do Instituto de Ciência Weizmann, em Rehovoth , Israel, ele se juntou ao corpo docente da recém-criada Universidade Ben- Gurion de The Negev , onde até janeiro de 2010 foi titular da Carol e Barry Kaye Professorship de Ciência Aplicada no Departamento de Química, sendo atualmente Professor Emérito. Desde maio de 2010 ele é professor na recém-fundada Universidade de Nova York – Abu Dhabi. Sua pesquisa se centra no estudo de compostos orgânicos no estado sólido, com ênfase na compreensão e utilização de polimorfismo, relações estrutura- propriedade, padrões de ligações de hidrogênio. Ele publicou mais de 160 artigos de pesquisa e revisão e capítulos de livros sobre estes temas. Bernstein é especialista em Cristalografia de Raios- X, Cristais Moleculares, Polimorfismo, Cristalografia Química, Formas de Cristal, Hidratos, Solvatos , Sólidos Farmacêuticos.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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