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17 de junho de 2011

Docente do IFSC fala sobre seus estudos e adverte para os cuidados com novidades científicas

Perto de completar 80 anos de idade, docente desenvolve pesquisas ativamente e aconselha sobre nova tecnologia, enumerando vantagens, desvantagens e os cuidados que devemos tomar para fazer bom uso da novidade cientifica

A docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Yvonne Primerano Mascarenhas, embora já aposentada, mantém suas pesquisas em pleno vapor! Com seus estudos direcionados, especialmente, à análise da estrutura de materiais, atualmente ela coordena o projeto em rede “Avanços, benefícios e riscos da nanobiotecnologia aplicada à saúde”, também chamado Nanobiomed, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES). O projeto faz parte da Rede Nacional de Nanobiotecnologia e envolve pesquisadores de diversas instituições, como UFSCar, Unesp, UFPI, UFRN, entre outras, que totalizam 20 grupos de pesquisa.

A forte contribuição de Yvonne no projeto relaciona-se, justamente, à apreciação de estruturas de materiais. “Não importa o material, você deve saber seu nível de estrutura atômica para poder entender as propriedades. Muitas vezes, o material pode ter sua estrutura conhecida, mas cabe ao físico, químico etc. modificar essa estrutura para novas aplicações”.

Ou seja, no caso de um semicondutor, como um material fotovoltaico, por exemplo, pode-se aumentar o rendimento de como a luz é transformada em eletricidade, aprimorando sua capacidade de gerar energia. “Conhecendo a estrutura de um medicamento, você pode modificá-la para evitar efeitos colaterais indesejáveis”, explica a docente.

Conceito e aplicações

Assunto principal de uma das pesquisas da docente, a nanobiotecnologia tem protagonizado pesquisas, notícias jornalísticas e despertado um número crescente de curiosos. Mas, você sabe o significado do novo termo?

A etimologia da palavra pode ajudar a pensar seu significado: nano são estruturas em escala nanométrica (10-9m) e bio refere-se a produtos biológicos. A nanotecnologia é o ramo ligado à manipulação da matéria em escala nanométrica. A nova técnica, quando aplicada às ciências da vida- biologia, física, química e engenharia- recebe a demonimação de nanobiotecnologia.

Yvonne conta que, no Nanobiomed, ela responde por duas tarefas principais: pesquisas de estruturas moleculares e interação de polímeros sintéticos (matéria-prima de sacolas plásticas, panelas antiaderentes etc.) com nanopartículas, e seu comportamento em diferentes situações. “Em um futuro próximo, estaremos trabalhando, também, com membranas sintéticas- membranas produzidas em laboratório, que imitam a membrana celular- e através delas poderemos produzir um lipossomo e observar o efeito dos nanomateriais sobre ele”, explica.

O lipossomo, glóbulo de gordura que fica no interior da célula, é considerado uma excelente partículas para liberação controlada de medicamentos. Através da pesquisa da docente, será possível testar a interação do lipossomo com materiais que possam ser aplicados nos tratamentos de muitas doenças. “A interação de físicos com biólogos é muito importante nesse momento”, conta.

De acordo com Yvonne, nanopartículas têm uma característica paradoxal: ao mesmo tempo em que tem tamanho reduzido, possuem variação estrutural grande. Um exemplo que a docente cita diz respeito às moléculas de sal (Cloreto de Sódio). “As ligações entre Sódio (Na) e cloro (Cl) são satisfeitas, internamente, mas as moléculas da superfície não se ligam a nada, o que causa um estado de muita agitação e maior energia em toda molécula”, esclarece.

boom do mundo nano e a ética no uso

Mas, se o assunto parece algo recente, estudos nessa área já são realizados há algum tempo. “Desde a descoberta do raio-X, medimos a distância entre as moléculas por escala nanométrica. Mas, o que faltava era manipular em escala nanométrica. Essa é a novidade! Hoje em dia, temos recursos para esse manuseio e, ao chegar nesse ponto, cria-se uma imensa área de pesquisa no assunto”, explica Yvonne.

Ela conta que máquinas biológicas- onde se inclui o corpo humano – funcionam em escala nanométrica. “A parede celular, que permite a entrada e saída de qualquer coisa dos corpos biológicos, é nanométrica”, esclarece.

Por outro lado, como qualquer coisa que nos rodeia e faz parte de nossas vidas, a nanotecnologia deve ser bem estruturada e ter seu uso responsável, pois, se incorreto, pode causar danos, inclusive à saúde. “Imagine que você respira uma nanopartícula e ela vai parar no seu pulmão. Se ela começa a interagir com as membranas do pulmão, isso pode gerar problemas, pois o agitamento dessas partículas é muito alto! A nanopartícula é mais ativa, ela tem capacidade de interagir com qualquer sistema que se junte”, explica. “É preciso fazer o uso responsável das nanopartículas. Um levantamento de dados, para saber onde se encontra a nanotoxicidade dos materiais, é muito importante!”, adverte Yvonne.

Mas, com o bom uso, os benefícios são incontáveis. Segundo a professora, a genética será um dos maiores sucessos nos estudos envolvidos em escala nano. “A área de manipulação genética é a grande aposta! Por exemplo, se uma criança foi gerada com defeito genético, ou seja, herdou dos pais, pode-se fazer o conserto desse gene”, diz. “No âmbito de bactérias, essas intervenções já são muito bem feitas”.

Ela finaliza com a ideia de que “todo conhecimento pode ser usado para o bem ou mal. É preciso que, ao longo do desenvolvimento tecnológico, cresça uma população crítica e ética para que se faça a utilização responsável dessa novidade”.

Assessoria de Comunicação

Data: 17 de junho

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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