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13 de maio de 2011

Docente do IFSC estuda solução contra infecção hospitalar

Através do estudo de proteínas de bactérias multirresistentes, pesquisadora dá um panorama de seus estudos e fala sobre novo laboratório do Instituto, que pode vir a ser referência no estado

Para a maioria das pessoas, pensar em hospitais remete às mais diversas moléstias: desde uma simples desnutrição até as mais temidas enfermidades, como câncer ou hepatite.

Todavia, tão perigosa e mortal quanto uma grave doença, a infecção hospitalar é mais comum do que se imagina e atinge altos índices nos hospitais, algumas podendo levar à morte, até mesmo pessoas saudáveis, que venham a frequentar esse local.

Direcionados a resolver esse problema, tão comum no Brasil e no mundo, estudos, coordenados pela pesquisadora e professora doutora do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), Ilana L. B. C. Camargo, pesquisam proteínas envolvidas na resistência e virulência de bactérias de interesse médico, além do estudo epidemiológico destas bactérias que, em uma localidade ou região, infectam, simultaneamente, muitas pessoas.

Maneiras de identificar o problema

Os métodos de estudo consistem, primeiramente, no exame do material. “Recolhemos amostras de hospitais com interesse em participar de nossa pesquisa. Os profissionais do laboratório clínico isolam as bactérias dos pacientes infectados, identificam e fazem o antibiograma- teste de sensibilidade- do micro-organismo. Ao perceber que os pacientes estão contaminados pela mesma espécie de bactéria, com o mesmo padrão de resistência, isso já é sugestivo de que possa haver uma disseminação da bactéria no hospital. O primeiro indício de um surto hospitalar é justamente isso: vários pacientes infectados pela mesma bactéria”, explica Ilana.

Existem bactérias comuns em nosso organismo, que podem nos colonizar, ou seja, elas podem viver no nosso corpo, sem causar maiores problemas. “O Staphylococcus aureus, por exemplo, é uma bactéria que pode colonizar a cavidade nasal de uma pessoa e não causar infecção. Já se um paciente debilitado, portanto mais vulnerável, entrar em contato com esta bactéria, poderá ocorrer infecções. Se o paciente passou por uma cirurgia e tem alguma ferida, esta pode ser uma porta de entrada para o micro-organismo iniciar uma infecção naquele local e, posteriormente, se disseminar para o sangue e coração do paciente”, esclarece a pesquisadora.

O grande problema enfrentado é a presença de bactérias multirresistentes no ambiente hospitalar. Quando isso ocorre, a situação se agrava por falta de alternativas de tratamento. “Nas UTIs, por exemplo, onde existe a pressa de cuidar de um paciente após o outro, o simples fato de o profissional não lavar as mãos adequadamente, depois de atender um paciente infectado, pode causar a infecção do próximo”. Esse é o momento que deve se iniciar a chamada “Vigilância epidemiológica”, onde o ideal seria separar os indivíduos colonizados por bactérias daqueles não colonizados, evitando, assim, a disseminação nos hospitais.

Agravantes

Desde seu mestrado, Ilana estuda microbiologia molecular de bactérias multirresistentes. Sua especialização, com o passar do tempo, possibilitou que a professora, junto a outros colaboradores, chegasse a importantes conclusões. “Nos hospitais, é possível identificar se bactérias são da mesma espécie, mas elas podem ser de diferentes linhagens, o que só pode ser descoberto através do perfil genético dessas bactérias. Isso abre as seguintes possibilidades: ou uma linhagem está se disseminando no hospital ou cada paciente que entra nesse hospital pode estar trazendo uma linhagem diferente, mesmo que, aparentemente, pareça a mesma, por ser da mesma espécie”, conta Ilana. “A disseminação de uma ou mais linhagens multirresistentes no ambiente hospitalar pode ser responsável pelos surtos de infecções hospitalares, tão noticiados na mídia. Este tipo de pesquisa, em geral, só é realizado em laboratórios de referência com profissionais e equipamentos especializados”.

Outro agravante é a facilidade que os indivíduos têm encontrado para viajar de um país a outro. Um exemplo é o de indianos, que moram em outros países e vão para Índia e lá recebem tratamentos médicos ou realizam cirurgias. Ao retornar, podem trazer bactérias multirresistentes adquiridas durante a internação como, por exemplo, bactérias multirresistentes, produtoras de uma substância chamada New Delhi metalo-beta-lactamase. “Durante meu mestrado, um paciente que tinha feito tratamento de uma doença nos Estados Unidos veio infectado por uma bactéria daquele país. Existem perfis bacterianos que já são de nosso conhecimento, no entanto, a linhagem encontrada naquele paciente era totalmente diferente das linhagens estudadas nos hospitais brasileiros daquela época”, esclarece Ilana.

Outro grave problema brasileiro é a automedicação. “Ainda é fácil conseguir antibióticos sem receita médica e, ao ingerir o medicamento incorreto, as pessoas podem ajudar a selecionar bactérias resistentes, problema que seria menor, se só ingerissem remédios receitados pelos médicos”, afirma a docente.

Conhecer para tratar

No início de 2011, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) propôs-se a financiar um projeto que visa a implantação do Laboratório de Epidemiologia e Microbiologia Molecular (LEMiMo) no Grupo de Cristalografia, instalado provisoriamente nas dependências do campus I do IFSC-USP. “Através desse financiamento, estamos comprando diversos equipamentos. Essa é uma grande oportunidade, pois nosso grupo terá um laboratório de nível II de biossegurança, bem equipado, o que permite a expansão dos estudos”, conta Ilana.

No LEMiMo, o grupo coordenado pela docente faz o estudo doStaphylococcus aureus resistente à  meticilina (MRSA) e Enterococcusresistente à vancomicina (VRE). “A parte de epidemiologia visa descrever a linhagem das bactérias presentes nos hospitais e pesquisar seu perfil de resistência aos medicamentos”.

Outra linha de pesquisa, junto ao Grupo de Cristalografia, é o que se refere à elucidação dos mecanismos de resistência e virulência de bactérias. A pesquisa tem como alvo estudos estruturais de proteínas, previamente descritas como sendo importante para o mecanismo de resistência aos medicamentos ou para o mecanismo de virulência. “A partir da descrição da estrutura destas proteínas, verificaremos de que forma pode-se intervir, o que abre espaço para desenvolvimento de novas alternativas de tratamento”, explica Ilana.

Outro objetivo é entender mais sobre o papel biológico de algumas proteínas nas bactérias. A pesquisadora, recentemente, se integrou ao Instituto Nacional de Biotecnologia Estrutural e Química Medicinal em Doenças Infecciosas (INBEQMeDI), que conta com a participação de pesquisadores de várias universidades brasileiras. “A aliança do LEMiMo com o Grupo de Cristalografia do IFSC permite que haja interação entre a microbiologia molecular de patógenos- agentes que podem causar doenças- bacterianos e as técnicas da física, que nos auxiliam nas respostas dos problemas levantados. Esta aliança não poderia ser melhor!”.

Com isso em mente, diversas proteínas vêm sendo estudadas por Ilana e colaboradores, com destaque para GraR, uma proteína de Staphylococcus aureus. “Queremos ver até que ponto esta proteína está envolvida na resistência da bactéria”, conta.

Parcerias na pesquisa

Em âmbito nacional, além dos colaboradores do Grupo de Cristalografia do IFSC/USP, Ilana tem colaboração com a docente Ana Lúcia da Costa Darini, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP). Outra parceria vem de Belo Horizonte (MG), com amostras enviadas pelo Laboratório Geraldo Lustosa. “Já entramos em contato com hospitais da nossa região, para o envio de amostras, mas isso ainda está em andamento”, conta Ilana.

Em âmbito internacional, a docente conta com a colaboração de Jean-Cristophe Giard, da Université de Caen e Pascale Serror, do INRA, Jouy en Josas, ambos da França, além de Nathan Shankar, da University of Oklahoma Health Sciences Center (UOHSC), de Oklahoma, e Michael S. Gilmore, da Harvard Medical School, de Boston, ambos dos Estados Unidos. “Estas colaborações visam o estudo de diversas proteínas envolvidas nos mecanismos de virulência em Enterococcus faecalis e troca de informações, pertinentes à pesquisa”.

Sobre projeções futuras, Ilana adianta que “quando mudarmos para o campus II, que será o novo local do LEMiMo, poderemos ampliar a parte de epidemiologia molecular e a diversidade das bactérias estudadas será maior. Queremos fazer do LEMiMo um laboratório de referência no estado de São Paulo”, finaliza a docente.

Assessoria de Comunicação

Data: 13 de maio

 

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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