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19 de julho de 2011

Docente do IFSC comenta pesquisa que desenvolve em parceria com Petrobrás

 

Nelma-1O misterioso e desconhecido mundo subterrâneo sai dos roteiros de ficção científica para, hoje, ocupar espaço cada vez mais importante na vida real. Exemplo disso é a pesquisa da docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Nelma Regina Segnini Bossolan que, desde 2007, em parceria com a Petrobrás, tem feito a caracterização de comunidades microbianas, que vivem em plataformas aquáticas de petróleo- e próximas a elas. “Conhecer essas comunidades é importante, pois elas vivem num ambiente pouco acessível, com uma profundidade que alcança cerca de 1.000, 2.000 metros”, explica a pesquisadora.

De acordo com Nelma, o principal objetivo é descobrir o comportamento de tal comunidade e como esta pode influenciar o meio em que vive, inclusive na formação do valioso combustível. “Os organismos que vivem nas plataformas são, praticamente, bactérias, e podem ter influência, inclusive, na qualidade do petróleo que está sendo formado, motivo pelo qual torna-se de grande importância conhecê-las e saber como elas se comportam”, conta.

Dividido em duas fases, o projeto com a Petrobrás teve sua primeira etapa finalizada em 2010. “Eu já tinha um contato com o Centro de Pesquisas da Petrobrás desde meu doutorado e, em 2007, fui convidada pela bióloga, Dra. Antonia G. Torres Volpon, do Centro de Pesquisas da Petrobrás, para desenvolver uma parceria de estudos”, conta Nelma.

Desbravando o desconhecido

Principal responsável pela origem do projeto foi uma alternativa, encontrada por empresas mundiais de petróleo e já em ação em algumas partes dos oceanos, que consiste no uso de reservatórios “vazios” de petróleo para armazenamento do gás carbônico. “O CO2 já é utilizado na forma liquefeita em processos de retirada de petróleo das camadas profundas. Com a injeção de CO2, o óleo fica menos viscoso. Depois se injeta água e, com isso, arrasta-se, com mais facilidade, esses ‘restos’ do petróleo, que ficam retidos nos reservatórios”, esclarece Nelma.

Atualmente, as companhias de petróleo já estudam possibilidades de utilizar reservatórios de petróleo esgotados de óleo e usá-los para armazenamento de CO2. Dessa forma, são dois problemas solucionados de uma única maneira: recuperação do petróleo retido nos reservatórios e emissão reduzida de um dos maiores inimigos da camada de ozônio, grande responsável pelo tão comentado aquecimento global. “Por já ser uma tecnologia utilizada, pensou-se em usar esses reservatórios para o armazenamento de CO2. Em vez de ser lançado na atmosfera, estoca-se nos reservatórios. E as empresas de petróleo, por contribuírem com a emissão do CO2, têm investido tempo e dinheiro nessas pesquisas, para reduzir esse impacto ambiental”, esclarece.

 

A pesquisa no IFSC

Para essa nova experiência, reservatórios terrestres têm servido de cobaia. No Brasil, um reservatório explorado pela Petrobrás na região nordeste é o principal candidato, por já estar quase esgotado. Cabe à pesquisadora fazer o controle e estudo da comunidade de bactérias que vivem nesse reservatório. “Se há escape de CO2 desses reservatórios, por exemplo, toda comunidade microbiana do solo e outros organismos podem sofrer alterações. É preciso pensar em todas essas etapas”.

Nelma-2

 

Além de estudar essas comunidades, Nelma também será responsável por fazer análises detalhadas das mesmas. “O ambiente no qual essas bactérias vivem é peculiar, pois é superaquecido, com alta salinidade e sem oxigênio. O organismo, para viver ali, precisa possuir condições muito especiais”, diz.

Através de muitas análises e estudos, benefícios podem ser conseguidos, A docente compara a a peculiaridade dessas bactérias à diversidade existente na Amazônia, no seguinte sentido: da mesma forma que se desconhece o potencial de muitos tipos de organismos e plantas que vivem na floresta, bactérias que vivem em reservatórios de petróleo podem carregar um valor que, no momento, é desconhecido, situação que pode ser alterada, através de estudos mais aprofundados. “Não conseguimos pensar, nesse momento, em aplicações para cura de doenças, mas a utilização dessas bactérias ou produtos gerados por elas, num futuro, para processos industriais e, até mesmo, recuperação do ambiente, é algo que não pode ser descartado”, afirma.

Experiências concretizadas

No laboratório de Biofísica Molecular “Sergio Mascarenhas”, localizado nas dependências do IFSC, Nelma cultiva bactérias em ambientes simulados, que carregam as mesmas características do habitat original dessas comunidades. “Fizemos o cultivo das bactérias em meio de cultura líquidos, num ambiente com maior quantidade de CO2 que o original e vimos que não houve alteração na diversidade, ou seja, as bactérias conseguiram sobreviver”.

Na próxima fase do projeto, a docente, com pesquisas teóricas e em campo, fará um acompanhamento para verificar se as primeiras bactérias analisadas permanecem ou não na nova amostra. “As mesmas bactérias que estão nos reservatórios, agora, são as mesmas que analisamos no passado? Esse exame será focado em tópicos, como eventual alteração na diversidade”, conta.

Nesse ambiente inóspito e único, as bactérias competem entre si para sobreviver. No entanto, as mais “fortes” podem causar alguns problemas no meio em questão, como degradação do petróleo e até mesmo corrosão das plataformas. Por isso, esse estudo prévio assume importância, uma vez que determinará se a injeção de CO2 deve, ou não, continuar. “Isso leva tempo, pois os reservatórios são muito extensos e os efeitos não são imediatos, especialmente no tocante ao meio ambiente. Chamamos isso de ‘estudo de impacto’. Já temos conhecimento do tipo de bactéria que vive lá. Nessa segunda etapa do projeto acompanharemos como fica a diversidade, depois da injeção do CO2, no reservatório”.

Perspectivas e benefícios a curto, médio e longo prazo

Nelma-3Mesmo sem muitos dados concretos, a docente acreditaque os impactos que tais bactérias podem vir a sofrer não são grandes, a ponto de impedir o uso da nova tecnologia de armazenamento do CO2. “É muito importante saber se esse armazenamento pode vir a prejudicar o meio ambiente e as comunidades que vivem nesse meio. Se a porcentagem de CO2 não for drasticamente alterada, as comunidades microbianas não serão prejudicadas”, afirma a docente.

Os benefícios ao meio ambiente e, consequentemente, à sociedade, são vários. Primeiramente, a quantidade de CO2 despejada será muito menor, o que contribuirá com a qualidade do ar que respiramos e diminuirá o aquecimento global. Nas plataformas, através da limpeza feita, mais petróleo poderá ser aproveitado e, finalmente, no que se refere à pesquisa de Nelma, especificamente, o conhecimento sobre a comunidade microbiana é de grande importância. “Depois de concluir alguns tópicos do estudo que me cabem, deixo dados disponíveis para comunidade industrial, por exemplo, que poderá se utilizar dessas informações para o desenvolvimento de produtos”, explica. “Isso é uma contribuição para a pesquisa básica e aplicada. Se a técnica para armazenamento de CO2 for vista como algo possível, isso será muito importante para indústria brasileira”.

No caso do pré-sal, Nelma explica que, em princípio, não há nenhuma relação direta de aplicação do sequestro de CO2, mas é de interesse da indústria de petróleo também caracterizar as comunidades microbianas que vivem nessas camadas. “O problema de corrosão das tubulações é muito sério e comum. O estudo das bactérias pode prevenir isso”, conta a docente.

Parcerias no projeto

Nelma-4Além da Petrobrás, graduandos e pós-graduandos que trabalham no laboratório de Biofísica, na primeira fase do projeto, Nelma contou com a colaboração da docente Maria Bernadete Varesche da Silva, do Laboratório de Processos Anaeróbios, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC)..

Sobre um destaque em sua pesquisa, Nelma elege a caracterização das bactérias feita até o momento. “Os dados a que chegamos batem com dados pré-existentes na literatura”, conta. “Conseguimos, também, padronizar uma metodologia de análise molecular, algo que não foi simples”. Além disso, ela destaca a relação da pesquisa básica com o conhecido problema da indústria petroleira: poluição do meio ambiente.

Dessa forma, com uma dinâmica constante em suas pesquisas, em colaboração com outros pesquisadores, Nelma afirma que, num futuro próximo, sociedade e indústrias petroleiras serão beneficiadas pelas descobertas e estudos aplicados, dando uma cara mais definida ao misterioso, porém complexo, mundo das águas.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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