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10 de setembro de 2018

Do IFSC/USP rumo ao universo da engenharia de materiais

Celso Donizetti de Souza Filho, Físico Metalurgista, conta que antes mesmo de começar o colegial já tinha grande paixão pela matemática. Nessa época, tomou conhecimento de um projeto que ocorria na E. E. Profº Sebastião de Oliveira Rocha, organizado pela Profa. Dra. Yvonne Mascarenhas – uma das pioneiras do IFSC-USP -, que fornecia livros e materiais didáticos com a finalidade de apoiar os alunos que pretendiam ingressar na universidade pública. Assim, Celso saiu da pequena cidade de Ibaté e veio para São Carlos onde cursou o colegial nessa escola estadual. Durante essa fase de estudos, Celso começou a se interessar pela física, principalmente por óptica: “Essa área me fascinava e eu queria trabalhar com lasers, lentes e microscópios, principalmente com lasers, que eram a minha grande paixão naquela época”, revela o ex-aluno do Instituto de Física de São Carlos.

Durante o ensino médio, Celso ouviu de várias pessoas que o estudo de física no IFSC era forte. No terceiro colegial, ficou sabendo sobre a prova do curso ministrado pelos Profs. Drs. Milton Ferreira de Souza e Sérgio Carlos Zílio, ambos do Instituto, que ofereciam vagas numa escola particular em São Carlos aos jovens que fossem aprovados na avaliação. Celso prestou a prova e foi selecionado, porém, dias antes, ele tinha passado em física na UFSCar, onde ficou por seis meses até pedir transferência para a USP, já que a óptica o fascinava.

A vinda de Celso Donizetti para a Universidade de São Paulo rendeu-lhe a chance de fazer monitoria na escola onde havia feito o colegial. Para ele, essa oportunidade foi uma forma que conseguiu para retribuir a possibilidade de ter ingressado tanto na UFSCar, quanto na USP, o que é difícil nos dias de hoje. Assim, Celso fez monitoria por dois anos e seguidamente deu inicio a uma iniciação científica com o Prof. Milton. Nesse intervalo de tempo, optou por ser um teórico-experimental, ao mesmo tempo em que cursava as disciplinas de óptica. Posteriormente, começou a estagiar na Engemasa, em São Carlos, quase que cumprindo um desígnio, já que seu pai tinha também trabalhado nessa empresa: após ter conversado com o diretor da Engemasa, a empresa abriu suas portas para que o jovem realizasse um estágio de seis meses. A partir daí, o ex-aluno do IFSC-USP percebeu que a área industrial era de fato um desafio e uma boa opção de ter um emprego de longa duração, com expectativas de ascensão na carreira: “Além de ter um retorno financeiro rápido, você sempre está sendo testado. Então, você tem que dar o seu melhor para não ser passado para trás por um concorrente ou até mesmo por alguém com quem você trabalha junto”. Três anos depois, em 2009, Celso foi contratado pela Engemasa, mas o que ele não imaginava é que, passados alguns meses, sua área de atuação mudaria por completo.

Assim que foi contratado pela empresa, surgiu um problema técnico grave para a indústria petroquímica: para Celso foi colocada a missão de descobrir alguma forma de analisar um dano causado pelo ingresso de carbono no aço inox, algo que poderia comprometer a fabricação de diversos produtos na Engemasa. Nessa época, o Prof. Dr. Luís Nunes (IFSC-USP) deu uma palestra abordando o ferromagnetismo e, nesse evento, Celso teve a oportunidade de dialogar com vários pesquisadores do Instituto, explicando a problemática detectada na empresa. O Prof. Dr. Tito J. Bonagamba ofereceu-se, então, para dar todo o apoio e ajudar a solucionar o problema. A partir daí, Celso começou a trabalhar intensamente com Bonagamba, um trabalho que serviu como base para seu mestrado e que atualmente complementa no seu doutorado na área de Engenharia “para obter um maior enfoque”, segundo suas próprias palavras.

Ainda de acordo com o ex-aluno, há uma falha muito grande na profissão de físico metalurgista, já que não é uma atividade regulamentada: “A Física não tem, por exemplo, o CREA, um sistema de proteção onde o profissional possa assinar documentos e projetos”. Sendo assim, a ocupação do físico metalurgista foi criada para enquadrar os físicos que atuam na área de engenharia de materiais. Na Engemasa, Celso atua no laboratório de pesquisa, desenvolvimento e processo, com ênfase na vertente petroquímica, onde cria ligas metálicas que trabalham em altas temperaturas e são bastante utilizadas em reformas para obtenção de etileno.

Para ele, um profissional com graduação ou pós-graduação é tido como “caro” no mercado de trabalho, porém, essas pessoas conseguem dar um retorno enorme para as empresas. Celso afirma que a área pública é o setor que melhor paga. Pesquisadores concursados conseguem salários maiores do que aqueles que trabalham na área privada, campo que sofre muito com a competitividade: “No Brasil, o encargo financeiro é muito alto, então, para uma empresa brasileira competir com uma empresa da China ou da Malásia, não tem qualquer chance, porque a carga tributária é muito alta”, explica.
Em suma, para Celso, as indústrias brasileiras ainda carecem de proteção. Como exemplo, ele cita a produção de refinarias de petróleo no Brasil, cujos 70% a 80% de itens produzidos devem ser fornecidos no Brasil, mas, fornecido não significa produzido, já que quando esses pedidos são repassados a outras empresas, as construtoras realizam a aquisição de equipamentos oriundos de companhias da China, Malásia e até da Índia. Ou seja, uma firma brasileira acaba fornecendo e não produzindo: “A empresa nacional perde muito com isso. Falta uma política de proteção para as indústrias nacionais”. Segundo o nosso entrevistado, a maior dificuldade que um físico enfrenta quando entra na área industrial é justamente o preconceito de que físicos só fazem pesquisas teóricas. Para Celso, é difícil um aluno de física estagiar na área de Engenharia, por exemplo: “Eu dei sorte, porque na Engemasa, entre os oito pesquisadores existentes, só eu e meu superior hierárquico é que somos físicos”.

Quanto ao salário, Celso diz que um profissional recém-formado, aqui na região do interior paulista, pode auferir aproximadamente R$ 2.500,00. Um pesquisador, com cerca de dez anos de carreira, recebe entre R$ 6.500,00 e R$ 7.500,00. Já os iniciantes que pretenderem trabalhar em São Paulo podem receber perto de R$ 5.000,00.

Para Celso Donizetti, o primeiro ponto essencial para os alunos que estão cursando a graduação na física, é o foco. De acordo com ele, o aluno precisa decidir o que quer fazer e se focar completamente: “Acho que a graduação é uma experiência muito boa, porque, além de aprender sobre o curso, o aluno aprende sobre ele mesmo. Digo isso, porque eu entrei na física querendo trabalhar numa área e fui para outra totalmente diferente”. Além disso, ele frisa a importância do valor que o aluno deve dar, tanto para as ferramentas de estudo quanto para a capacidade e excelência de seus professores, e isto porque, além de ter uma ótima estrutura, o aluno precisa de disciplina e força de vontade.

Por fim, Celso acredita que o importante é traçar sempre um rumo e seguir pelo caminho desejado, independente dos obstáculos, entendendo que ter um resultado ruim, hoje, ainda é um resultado e ele tem que saber interpretá-lo: se cair uma vez é sempre possível levantar novamente: “Quando sonhar sonhe grande”, finaliza Celso, com uma frase que utilizou no slide final de sua apresentação de mestrado.

(Entrevista publicada no livro intitulado “Egressos do IFSC/USP que atuam fora da academia” – por: Prof. Tito José Bogamba e Rui Sintra-jornalista)

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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