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27 de maio de 2013

Computadores quânticos à venda?

Da teoria à prática, parece que a computação quântica já saiu do papel para efetivamente se tornar uma realidade no cotidiano de algumas (poderosas) empresas. Em matéria publicada no jornal The New York Times no final de março deste ano, o diretor técnico da fornecedora militar de armamentos Lockheed Martin, Ray Johnson, afirma que, muito em breve, o computador que tem como base a mecânica quântica será utilizadoLockheed comercialmente. Para isso, a empresa comprou, há dois anos, o computador quântico fabricado pela canadense D-Wave Systems e, de acordo com a reportagem, “está bastante confiante nessa tecnologia para utilizá-la em escala comercial”.

Mas, pensar na utilização em grande escala de um computador que nos leva a um paradigma além do mundo binário dos bits parece bastante pretensioso. Afinal, o que seria especulação e o que pode, realmente, estar no mercado para o uso de grandes empresas e, no futuro, para o usuário comum? “A Lockheed é muito famosa pela produção de armamentos e a ideia dessa companhia para tecnologia quântica em computadores é colocá-la em prática, pois a empresa tem que ser a primeira a possuir o domínio de tal tecnologia por uma questão de segurança militar”, explica o docente do Grupo de Ressonância Magnética (RMN) do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Diogo Soares Pinto.

A ideia de segurança máxima associada ao computador quântico surge devido à sua capacidade ímpar (até o momento, pelo menos) de criar criptografias inquebráveis e fatorar números primos com muito mais velocidade que o computador comum, por exemplo. Com medo de ficar para trás, portanto, a Lockheed decidiu investir na tecnologia quântica, ainda com futuro incerto e com uma dose extra de abstração.

O uso comercial da potente máquina, neste momento, pode ser nada mais do que especulação e ainda um pouco distante de, realmente, ter seu uso efetivo pela Lockheed ou por qualquer outra companhia interessada. “O computador comprado pela Lockheed é uma máquina especializada em tarefas específicas, ou seja, resolver questões pertencentes a classes de problemas de otimização”, explica o docente do Grupo de Física Teórica do IFSC/USP, Frederico Borges de Brito. “Como se trata de uma máquina especializada, o computador em questão não deve chegar a ser utilizado pelo usuário comum”.

Embora os computadores quânticos já sejam utilizados em prol da ciência e ainda estejam muito distantes do usuário comum, é difícil prever uma data em que ele possa ser comercializado, por exemplo, às forças armadas, bancos e outras instituições que tenham “segurança” como alma do negócio. “Nesse momento, se o computador quântico começar a ser comercializado, chegará a locais específicos, como Universidades, por exemplo. Não é a intenção, pelo menos por enquanto, que ele seja comercializado a qualquer empresa ou pessoa”, diz Diogo.

O_caixeiro_viajantePensar na venda dos computadores quânticos para uso comercial ainda é algo que causa estranheza e, sobretudo, dúvidas nos estudiosos sobre o assunto. Diogo afirma que, dificilmente, seja possível, nesse momento, produzir-se um computador quântico universal, ou seja, um computador que possa realizar diferentes tarefas como os computadores comuns fazem hoje em dia: edição de textos, imagens e vídeos, construção de planilhas, acesso à internet, reprodução de CDs e DVDs etc. “O computador quântico foi desenhado para realizar uma única tarefa. Essa máquina é capaz de otimizar certos comandos, como, por exemplo, uma solução para o problema do caixeiro viajante [veja Box]. Para realidade que temos hoje em dia relacionada a esse assunto, não acredito que a Lockheed fará o uso desse computador comercialmente”.

Especulações à parte, a empresa Lockheed é ambiciosa e, em matérias publicadas em alguns veículos de comunicação*, seus funcionários afirmam que o comércio da nova máquina quântica tem como alvo, inclusive, o usuário comum. E, sobre isso, Diogo faz uma ressalva. “A comercialização ao usuário comum deve ser defendida! Não é porque o computador quântico foi feito para otimização de processos que nós temos que dizer que ele é inválido. Se assim fosse, ninguém teria investido no transistor 50 anos atrás e a IBM não teria feito enormes mainframes que, hoje em dia, já se transformaram em laptops ou ultrabooks“.

Mesmo fazendo comparações com a evolução tecnológica que tivemos nos últimos anos, fica difícil prever com que velocidade a tecnologia caminhará no futuro. Mas, sabe-se que caminha muito rapidamente: cerca de 95% da tecnologia que utilizamos hoje foi inventada a partir do pós-Segunda Guerra.

De qualquer forma, para os fãs da computação, tecnologia e ciência, será preciso tempo e paciência para mais novidades sobre a nova tecnologia quântica. Mas, na velocidade que as coisas caminham, pode ser que, em poucos anos, essa matéria esteja sendo criptografada em bits quânticos. Quem viver verá.

*Clique nos links abaixo para acessar algumas matérias publicadas na mídia ou artigos científicos publicados sobre o assunto:

http://www.forbes.com/sites/alexknapp/2013/05/16/nasa-and-google-partner-to-purchase-a-d-wave-quantum-computer/?goback=.gde_1172457_member_241474483

http://www.nature.com/news/google-and-nasa-snap-up-quantum-computer-1.12999

http://www.nature.com/nature/journal/v473/n7346/full/nature10012.html

http://arxiv.org/abs/1304.4595

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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