Notícias

6 de fevereiro de 2012

Pesquisadores desenvolvem técnica para rastrear células-tronco

Revolucionária, eficaz, polêmica. Essas são algumas das características que uma quantidade incansável de críticos já escolheu para definir a terapia feita por célula-tronco.

Controvérsias à parte, embora esteja se mostrando eficiente (mesmo tendo seu custo elevado), o tratamento com célula-tronco apresenta seus riscos: alojadas em regiões “impróprias”, as células podem causar tumores (benignos ou malignos).

A solução para isso já vem sendo estudada por uma tríade de pesquisadores da Faculdade de Medicina (FM-USP), Instituto de Física (IF-USP) e Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP). “A medicina traz o problema, que é o monitoramento de células-tronco depois do implante. A física traz a técnica de visualização, com a ressonância magnética, e a nanotecnologia produz o material que possibilita essa visualização, que são as nanopartículas superparamagnéticas”, explica o responsável pelo Laboratório de Nanomedicina e Nanotoxicologia do Grupo de Biofísica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Valtencir Zucolotto.

A pesquisa, perfil da nanomedicina atual, é recente. E, junto à terapia com células-tronco, tem revolucionado a medicina e, consequentemente, a maneira de tratar pacientes.

No que se refere à parte médica, a terapia celular já teve grandes avanços. “Muitas coisas já são compreendidas, hoje. A parte de bioquímica das células, por exemplo, que possibilita que uma célula-tronco transforme-se em uma célula de outro tecido, ou a biotecnologia, que possibilita o implante dessas células no corpo humano, já estão praticamente bem conhecidas e estabelecidas”, afirma o docente.

O problema

Celula-troncoPorém, enquanto as técnicas citadas acima já são de conhecimento da grande maioria dos estudiosos e profissionais que lidam com ela, aparece um novo- velho- desafio: embora tenham destino certo, quando injetadas no corpo, as células-tronco podem seguir qualquer direção. E é, justamente, quando podem gerar uma série de problemas, incluindo o aparecimento de tumores pelo corpo.

É aí que entra a pesquisa da tríade citada no começo da matéria: ela será responsável por desenvolver técnicas capazes de monitorar as células, depois que o implante é feito, para saber, tanto se estão percorrendo o caminho que deveriam, como se estão se transformando no tecido para o qual foram designadas.

A tarefa não é fácil. Se rastrear telefones móveis, por exemplo, já é difícil, imagine uma célula! Mas, a tecnologia, voltada à saúde, tem feito mais do que isso: as nanopartículas superparamagnéticas, produzidos no laboratório de Zucolotto, terão como fim alojarem-se nas células-tronco. Depois disso, o imageamento por ressonância magnética será capaz de rastreá-las.

Nesse estudo específico, onde a parceria foi feita junto ao Instituto do Coração, ligado ao Hospital das Clínicas (HC-USP) da FM-USP, o monitoramento será das células-tronco implantadas no coração. “Quando uma pessoa tem um enfarto, parte das células coronarianas morre. A ideia é que as células-tronco injetadas ali possam criar novos tecidos coronarianos saudáveis. O problema, em princípio, é como monitorar se essas células estão desenvolvendo novos tecidos do coração. Essa é a problemática chave”, explica Zucolotto.

O papel de cada um

Box-celulas-troncoDepois que a equipe de Zucolotto produz e caracteriza (entende como funciona o sistema) as nanopartículas em questão, estas são enviadas ao Incor, onde o docente José Eduardo Krieg, responsável pela pesquisa na FM-USP, injeta-as em células-tronco in vitro. A próxima etapa é o envio ao IF-USP, onde o docente responsável por essa parte, Said Rabbani, tenta encontrar as nanopartículas por ressonância magnética. “O grande problema é que as células são muito pequenas, com 10-6m. Não era possível vê-las sozinhas, pela ressonância. Mas, o sinal emitido pelas nanopartículas, sim”, conta Zucolotto.

Depois dos muito bem-sucedidos testes in vitro, o próximo passo é injetar células-tronco com nanopartículas no coração de um porco isquêmico. Depois disso, o animal será levado ao equipamento de ressonância, para que se tente visualizar as nanopartículas. Com o monitoramento sendo bem-sucedido em porcos, o próximo teste será feito em ratos. Tendo sucesso nas duas cobaias, o experimento já poderá ser aplicado em humanos. “Só injetaremos essas nanopartículas nos humanos quando soubermos muito bem para onde elas vão”, afirma Zucolotto.

Sabendo o caminho que elas percorrem, as nanopartículas podem, no futuro, ser induzidas. Elas serão revestidas com uma molécula específica, para ser ligada a um órgão específico. “Já estamos desenhando uma cobertura para nanopartícula. Pode ser um receptor, um anticorpo, que se ligue a uma proteína que só tem no coração, por exemplo”, explica.

O grande risco atual

Embora a pesquisa esteja caminhando com rapidez, os passos são cautelosos.

Supondo que uma nanopartícula seja utilizada para levar uma droga para dentro de um tumor. Mesmo que ela não fique totalmente alojada naquela região, não há grandes riscos ao paciente, pois a droga será eliminada. “O problema da quimioterapia, hoje, é que o remédio vai para o corpo todo, por isso as quedas de cabelo, baixa imunidade, ânsia de vômito naqueles que recebem o tratamento. O remédio é muito tóxico. No caso de célula-tronco, o cuidado deve ser redobrado, pois se não houver garantias de que ela está no local correto, ela não será eliminada pelo corpo, como um remédio, e ainda pode causar mais tumores”, reforça Zucolotto.

O trabalho em conjunto já trouxe diversos experimentos bem-sucedidos. A parceria entre medicina e física, nesse caso específico, teve início em 2011. O próximo passo- teste com porcos- está previsto este ano.

Depois disso, é só aguardar mais resultados. E, por eles, não estarão ansiosos somente os pesquisadores, mas os milhares de brasileiros que veem nesse espantoso avanço da tecnologia sua única possibilidade de cura.

Assessoria de Comunicação

Imprimir artigo
Compartilhe!
Share On Facebook
Share On Twitter
Share On Google Plus
Fale conosco
Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
Obrigado pela mensagem! Assim que possível entraremos em contato..