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9 de novembro de 2012

Como aprender e ensinar ao mesmo tempo

Se o ensino de física nas escolas de ensino médio tem deixado a desejar nos últimos anos, alguns professores (e futuros professores) estão dispostos a mudar esse quadro. Uma iniciativa da docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Cibelle Celestino Silva, apoiada por estudantes de seu grupo, coloca, lado a lado, professores do ensino médio e superior em busca de novos métodos para melhorar o ensino nas escolas.

CibelleAtravés de um curso, realizado entre maio e julho deste ano, professores do ensino médio foram preparados para trabalhar em parceria com centros de ciência, ou seja, participar ativamente das atividades de ensino em espaços não formais, o que não acontece normalmente. “Durante as visitas aos centros de ciência, no nosso caso, o Observatório “Dietrich Schiel” e o CDCC [Centro de Difusão Científica e Cultural da USP], os professores levam os alunos e acompanham a visita de longe. Por isso, raramente existe conexão entre o que é ensinado em sala de aula e o que é visto nos centros”, relata Cibelle.

O projeto em questão tem como temática a física solar, uma vez que o Sol propicia trabalhar com diversos fenômenos físicos. Levando-se também em consideração que no Observatório é possível fazer diversos experimentos relacionados ao astro, a temática é ideal, e com um “plus”: explora conceitos atuais da física.

De acordo com Cibelle, durante a capacitação, os conteúdos foram trabalhados de forma casada com o que é ministrado em sala de aula. “No curso, passamos aos professores participantes conteúdos relacionados à espectroscopia, física solar etc. Num segundo momento, os professores trarão os alunos até o Observatório para colocar em prática o que eles próprios aprenderam”.

James Colemam Alves, professor de física da Escola Estadual “Joaquim Toledo de Camargo” (Itirapina-SP) e um dos participantes do curso, quando questionado sobre o motivo de sua participação no projeto, afirma que o gosto pela física é o primeiro deles. “Tudo o que posso fazer para ensinar melhor física, eu faço!”, responde o professor (e ex-aluno do curso de Licenciatura em Ciências Exatas do IFSC). Ele faz questão de destacar a temática escolhida pelos idealizadores do projeto. “O elemento Sol estar envolvido é o que mais faz meus olhos brilharem”.

Cibelle-1Mesmo entusiasmo compartilha o professor da Escola Estadual “João Pires de Camargo” (Araraquara-SP), Rodrigo Corrêa dos Santos. Também motivado pelo gosto pela física, o professor acredita que cursos como esse são uma das ferramentas capazes de trazer uma nova maneira de ensinar física em sala de aula. “Hoje, o ensino é muito concentrado em sala de aula e não há mais como prender a atenção dos alunos, utilizando-se apenas lousa e giz”, afirma.

Dessa forma, o projeto vai ao encontro das expectativas dos professores, uma vez que consiste, justamente, em levar os estudantes a outros locais de ensino para obterem a vivência prática da teoria passada em sala de aula.

Meses depois…

Encerrado o terceiro trimestre do ano, os professores regressaram ao Observatório, mas dessa vez com companhia extra. Para dar continuidade ao projeto-piloto idealizado por Cibelle, James e Rodrigo trouxeram seus alunos para participar de atividades relacionadas à física solar, e o resultado – não surpreendente – foi mais entusiasmo por parte dos alunos e professores, inclusive em sala de aula.

Como já era parte do plano, levar os alunos para visitar o Observatório serviu para concretizar a ideia de trazer novas possibilidades ao ensino de física, inclusive em espaços formais. “Como eu já tinha conhecimento das atividades possíveis de serem realizadas no Observatório, direcionei minhas aulas a esse conteúdo, para que os alunos já viessem preparados”, conta James.

Com entusiasmo, ele menciona as atividades práticas que realizou em suas aulas, adaptando aquilo que viu no curso de capacitação aos instrumentos que tinha em mãos na escola. “Algo que acontece com os professores, depois de vários anos dando aulas, é que eles se fecham para o novo. O curso de capacitação serviu para abrir nossos olhos a novas possibilidades”.

Com Rodrigo não foi diferente. Além de ter adaptado certas atividades observadas durante o curso de capacitação em sala, ele confessa que seu maior aprendizado, como educador, e do dia em que realizou o curso de capacitação até o presente, foi ver crescer a vontade de criar novos projetos que facilitem o ensinamento e aprendizado de física. “Vemos que, hoje em dia, a sala de aula não vem sendo suficiente para motivar os alunos. E, diferente do que muitos pensam, um aluno ‘difícil’ não é o indisciplinado, mas aquele que não tem interesse em aprender”, conta. “A importância da participação ativa do aluno, atualmente, está ainda mais evidenciada”.

Esforço coletivo

Elementos essenciais para o sucesso do projeto, o doutorando Pedro D. Colombo Júnior e a aluna de iniciação científica Angélica Cristina Porra, aluna do último ano do curso de Licenciatura em Ciências Exatas do IFSC, ambos orientandos de Cibelle, souberam correr atrás (quase no sentido literal do termo) para que o projeto desse certo. Durante o curso de preparação docente conseguiram trazer docentes universitários de renome para ministrar palestras aos participantes e montaram alguns dos equipamentos na Sala Solar, utilizados para trabalhar os conteúdos envolvidos na física solar, como um espectroscópio que permite visualizar as linhas de absorção do Sol e um painel de lâmpadas utilizado para comparar os espectros de emissão de diferentes tipos de lâmpadas. Durante as visitas dos alunos ao Observatório, ministraram aulas. Com colaboração dos professores formularam uma apostila, com conteúdo voltado à física solar, englobando todos os tópicos discutidos durante o curso de preparação, com a inserção de atividades práticas e experimentais, além de exercícios a serem resolvidos pelo aluno que, no futuro, utilizará a apostila.

Pedro, que escreve uma tese de doutorado com a temática voltada ao Ensino de Física em espaços não formais e a parceria com o ambiente escolar, terá como referência os resultados atingidos pelo projeto para inserir em sua pesquisa. Adotando a estratégia pedagógica de sequência de ensino e aprendizagem, um de seus objetivos é desenvolver, junto aos professores, um material apropriado para ser utilizado em sala de aula, que contemple a parceria “educação formal e não formal” com vista a inserção de Física Moderna a partir da Física Solar em sala de aula. “Estamos buscando inovação curricular e para isso vimos a necessidade de, além da preparação docente, preparar um novo material para os professores trabalharem em sala de aula”, conta. “A aplicação desse conteúdo, do novo material e de sua inserção em sala de aula, tem mostrado um ganho cognitivo muito grande na aprendizagem dos alunos”.

Cibelle-3Angélica conta que o contato com professores, alunos e a oportunidade de colocar a “mão na massa” não são coisas corriqueiras durante o curso de Licenciatura. “Tive estágios supervisionados, mas nunca havia ministrado uma aula. Foi muito bom o contato com os outros professores! A experiência de trabalhar em conjunto foi muito importante”, diz.

Ela relembra comentários dos alunos que visitaram o Observatório, acompanhados pelos professores do curso de capacitação. “Já tive alunos que me disseram, ‘Nossa, a visita está sendo muito bacana! Que pena que vai terminar’. Ouvir isso de um aluno é muito gratificante, especialmente pelo fato de poder mostrar a esse e a outros um novo lado da física”.

Sobre as dificuldades encontradas no projeto – ainda em andamento -, Pedro diz que a primeira delas foi encontrar professores dispostos a participar do curso. “Logo na primeira etapa do trabalho convidamos muitos professores para participar. Encontramos apenas sete interessados, sendo que só quatro fizeram a preparação até o final, e destes, dois estão aplicando os novos conhecimentos em sala de aula para 140 alunos do 3º ano do Ensino Médio”.

E, enquanto o projeto caminha, alunos, professores e futuros professores já enxergam bons resultados. No entanto, enfrentar as inúmeras dificuldades é a parte complicada. A torcida é que para a iniciativa seja copiada por outros educadores, espalhando assim um novo olhar para todas as disciplinas que já há muito tempo constam nas grades curriculares, mas que cada dia despertam menos o interesse e atenção dos estudantes.

Na 1ª imagem, alunos durante visita ao Observatório “Dietrich Schiel”, observando os espectros de lâmpada de vapor de sódio. Na 2ª imagem, durante o curso de preparação docente realizado no meio do ano. Na 3ª imagem, uma das turmas de alunos que fizeram visita no Observatório, dentro do projeto de capacitação docente.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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