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2 de março de 2012

Após viagem ao Maranhão, rondonistas querem multiplicar sua experiência

“Rondon valeu, e Guimarães respondeu”. Estas foram as palavras do prefeito da cidade de Guimarães (MA), o Padre William Guimarães da Silva, proferidas na cerimônia oficial de despedida da equipe de alunos e professores da USP São Carlos e da Universidade Estadual de Goiás (UEG) que foram selecionados para participar do Projeto Rondon 2012. Durante doze dias, os vimarenses receberam os acadêmicos, que dedicaram seu período de férias ao trabalho, e participaram ativamente de um grande número de atividades nas áreas de saúde, cultura, meio ambiente, astronomia, direitos humanos, entre outras.

O projeto

Criado originalmente em 1967 e coordenado atualmente pelo Ministério da Drondon1efesa, o Projeto Rondon foi resgatado em 2005 pelo governo federal como uma estratégia para que estudantes universitários possam atuar em ações sócio-educativas em municípios carentes do Brasil de maneira voluntária, complementando sua formação e tomando iniciativas de impacto e relevância social. Dando embasamento às pesquisas que revelam que o perfil do jovem brasileiro está cada vez mais voltado ao engajamento social, alunos da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP) e do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP) tomaram a decisão independente de compor um projeto no âmbito da Operação Pai São Francisco, que foi aprovado em informe divulgado no dia 14 de outubro de 2011 na página online do Projeto Rondon. Já no dia 23 de outubro, integrantes da equipe viajaram até Guimarães, com o objetivo de adequar os planos iniciais do projeto à realidade maranhense. Bem recebidos pela prefeitura do município, os rondonistas passaram a se ocupar dos trâmites da viagem, pensando em detalhes como a adequação de documentos e transporte de equipamentos que seriam utilizados nas oficinas, tais quais ferramentas, telescópios e outros kits e materiais de estudo.

Viagem

Dos quarenta alunos da USP São Carlos interessados em participar da operação neste ano, apenas oito puderam ser levados ao Nordeste, selecionados pela organização do próprio projeto.

Enquanto a aquipe da UEG se ocupou com a programação voltada à saúde e ensino, a aquipe de alunos de São Carlos estava encarregada das atividades mais voltadas para a área tecnológica, focada em educação ambiental, engenharia civil, informática e astronomia.

“Nossas atividades envolviam desde crianças até professores”, conta o docente Francisco Gontijo Guimarães (IFSC-USP), um dos coordenadores da equipe são-carlense, ao lado do professor Márcio Eduardo Delamaro (ICMC-USP).

Observando o céu noturno

“Todos os dias, à noite, eu ia até a praça municipal com nosso telescópio e recebia a população, que estava muito empolgada com a nossa presença e fazia filas pra observar o céu. No fim de tarde, podíamos ver Vênus e Júpiter no horizonte, e mais tarde vimos Saturno e Marte, sem falar nas crateras da Lua, que conseguimos enxergar muito bem”, entusiasma-se o pesquisador.

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O objetivo era atingir, de fato, a parcela da população que poderia agir, mais tarde, como multiplicadora dos conhecimentos adquiridos e aprofundados durante a presença da equipe de rondonistas na cidade. Dentre pouco mais de doze mil habitantes do município de Guimarães, cerca de duas mil pessoas se envolveram nas atividades durante as duas intensas semanas da operação. “Nós queríamos mostrar para a população a importância de ensinar para as crianças os fenômenos do céu”, explica Francisco. Durante as oficinas infantis, as crianças puderam entender melhor como as estrelas nascem, como localizá-las no céu e como se localizar a partir delas, o porquê do Sol nascer e se pôr, qual a trajetória dos planetas no céu, além dos conceitos de latitude e longitude. O coordenador conta que, como o município fica muito perto da linha do Equador, era possível observar tanto o céu do hemisfério sul como do hemisfério norte. “Essa é uma posição privilegiada de observação, que poucas pessoas do planeta têm a chance de ter. Podemos ver a Estrela Polar de um lado, que só enxergamos do hemisfério norte, e do outro lado o Cruzeiro do Sul. Procuramos fazer as crianças entenderem este privilégio de maneira mais atenta”, reflete.

O município de Guimarães tem uma grande comunidade de pescadores, que pode se beneficiar muito dos princípios e conceitos astronômicos para a navegação. Além de compreender melhor os fenômenos naturais que influenciam as marés, a população entendeu que é através da posição das estrelas no céu que é possível calcular a latitude e a longitude de um lugar específico e, assim, facilitar a localização de uma embarcação. “As grandes descobertas marítimas só foram possíveis devido a este mecanismo, já há muitos séculos atrás, porque os navegadores sabiam exatamente onde estavam, só não sabiam o que havia naquele lugar específico”, comenta. Foi a ênfase na relevância dos tópicos de astronomia para o contexto e a realidade de Guimarães que levou a população local a um grande índice de interesse aproveitamento nas atividades, familiarizando-se aos vários métodos de medição da localização das estrelas, fazendo as medidas de fato e observando, na prática, como estes princípios funcionam.

A interação com a cidade

Para os alunos da Escola Agrícola de Sumidouro, que são incentivados pelo governo federal através da EJA (Educação de Jovens e Adultos) a voltar a se empenhar nos estudos depois de alguns anos tendo abandonado suas escolas, dois dias foram programados com participação em palestras e oficinas de educação ambiental. Os jovens se dedicaram à construção de fossas sépticas, sabão, fornos solares e composteiras, o que demonstra a preocupação dos rondonistas com a adequação das atividades aos propósitos da cidade, endossado pela Secretaria de Produção e Meio Ambiente, que requisitou atividades específicas para aquele grupo de estudantes.

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Quanto às impressões da cidade, Francisco afirma que os vimarenses têm muito do que se orgulhar. “O município que faz o dever de casa, prestando contas, sempre vai receber financiamento para realizar os projetos de que precisa, e Guimarães atualmente tem muitos bons projetos”, afirma. No entanto, os problemas que persistem se apresentam desde o descarte do lixo, que ainda é incinerado e costuma deixar resíduos, até a poluição estrangeira, que chega às praias da cidade vinda de outras partes da América.

Ainda assim, os rondonistas apontaram diversas maneiras práticas de driblar estas adversidades, conscientizando a população e apresentando alternativas acessíveis, e destacaram os valores e as vantagens locais, como, por exemplo, através da avaliação da qualidade da água disponível no município e demonstrando que o tratamento de água ali é de alta qualidade.

“Levamos do IFSC kits de análise de água para mostrar que a água que as pessoas consumiam e utilizavam para lazer estava realmente adequada, o que foi importante porque havia muitas dúvidas devido à aparência barrenta, mas isso se deve apenas aos fortes efeitos da maré na região, que chega a subir e descer três vezes ao dia. Não havia bactérias, nem coliformes fecais, nem química alguma naquela água. Queríamos mesmo mostrar que aquele lugar é um paraíso que, mesmo sem águas cristalinas, não deve ser desmerecido. O tratamento de água deles é muito eficiente e água é de fato boa para beber. Percebemos apenas que uma pequena parte da água de poços, dentro das residências, está contaminada”, conta Francisco.

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O coordenador conta, ainda, que percebeu que grande parte dos recursos naturais da região não são aproveitados ao máximo, como estes fortes efeitos de maré, ou os ventos e a potência do calor do Sol. Estas impressões foram todas registradas em um plano diretor que foi apresentado à prefeitura, na presença de todas as secretarias da região, a partir do qual a equipe deixou indicações de como aproveitar melhor todo o potencial natural do litoral do Estado. “Nós não queríamos competir com o trabalho das autoridades locais, que é excelente, mas esta parte foi muito produtiva para os nossos alunos, que puderam aplicar os conhecimentos que têm adquirido na universidade em situações adversas, extraindo o que há de melhor de cada situação e enxergando inúmeras possibilidades de desenvolvimento em um contexto bastante diferente do que estão acostumados”, reflete.

Sem dúvidas, a participação dos rondonistas em Guimarães deixou saudades em todos os participantes. E, o mais importante, deixou marcas mais profundas, como os ensinamentos que poderão ser utilizados para otimizar as atividades cotidianas da população maranhense, e também dos próprios universitários, que ainda sentirão por muito tempo os impactos da vivência em uma cultura tão distante e ao mesmo tempo tão próxima, que acrescenta muito em suas formações profissionais. “Ainda hoje, as pessoas continuam a me mandar e-mails, SMS e vídeos com agradecimentos, o que me emociona muito, pois o retorno foi de fato muito grande”, confessa Francisco, com a voz embargada de emoção. Agora, fica a esperança de que a participação no projeto se torne uma tradição no IFSC, levando mais alunos no próximo ano e multiplicando a experiência, criando um ciclo de rondonistas.

Veja mais fotos da operação

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Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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