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30 de janeiro de 2012

A (r)evolução da informática

O computador, como conhecemos hoje, nada tinha a ver com o primeiro criado, há quase dois séculos. Em 1837, o cientista e matemático, Charles Babbage, inventou uma máquina, de funcionamento mecânico, que realizava as quatro operações matemáticas fundamentais (adição, subtração, multiplicação e divisão) com rapidez, sendo ela considerada o primeiro computador da história.

Passados 108 anos, o esforço de guerra aliado durante a 2º Guerra Mundial, que buscava quebrar a criptografia nazista e fazer cálculos balísticos sofisticados, deu origem aos computadores eletrônicos. “O primeiro deles, o americano ENIAC, uma grande calculadora, começou a operar logo após o final da Guerra em 1946”, conta Guilherme Matos Sipahi, coordenador do curso de Física Computacional do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP).

No entanto, o real marco foi o computador proposto por von Neumann. Na década de 50, somente governos e grandes empresas utilizavam computadores. “Desde o surgimento das primeiras máquinas, as universidades já tinham acesso, pois elas eram criadas lá. E, como resultado do esforço de guerra, a máquina de von Neumann foi construída na Princeton University, e entrou em operação 1951″, explica o docente. Pouco tempo depois, a segunda geração de computadores apresentava máquinas que funcionavam com materiais semicondutores para, finalmente, chegar aos circuitos integrados- no modelo que conhecemos hoje.

Revolucao-3_falaSe no começo, os estímulos para criação de computadores eram as guerras, atualmente a realidade é outra. O entretenimento tomou conta e a criação de jogos de computador tornou-se a prioridade e o principal mote da indústria da informática. “Há vinte anos, o cenário não era esse. Hoje, quase tudo é voltado para a produção de games. Pela primeira vez, o foco é o próprio consumidor, e não mais as universidades ou o governo, como no começo”, explica Guilherme.

Ainda no mundo do entretenimento, nas décadas de 50 e 60, os computadores tornaram-se “personagens” principais nas ficções científicas. Muitos filmes dessa época tinham como tema principal o computador, envolto de mistério e até de um certo sensacionalismo. Um exemplo é “2001: uma odisseia no espaço”. “Dos seriados da década de 60, muitos mostravam máquinas do tempo ou submarinos sendo operados por computadores do tamanho de uma sala”, elucida o docente.

Na década de 70, os primeiros computadores pessoais começaram a ser comercializados, “Era, em princípio, um brinquedo. Os componentes vinham soltos e o próprio comprador tinha que montar a máquina”, conta Guilherme. No início da década de 80, apareceram os primeiros computadores pessoais, como o “ZX Sinclair”, que apresentava a CPU integrada a um teclado e usava a TV como monitor e aparelhos cassete como discos. O final da década de 80, quando a IBM lança o PC (personal computer), foi um momento de destaque no mundo da informática. Mas, somente no início da década de 90 é que os computadores passam a ser amplamente comercializados.

Criada pelo governo estadunidense, nos tempos incertos da Guerra Fria, a internet, a qual muitos consideram o grande advento da informática, foi precedida de importantes fatos. Guilherme conta que, na década de 80, precursores da internet já se faziam presentes. Na França havia um sistema, funcionando como um computador, onde as pessoas podiam consultar telefones e endereços. A primeira manifestação do que seria a rede começou desta forma, até chegar ao formato atual e ser, continuamente, aperfeiçoada. “A internet surgiu para ser um instrumento de troca de dados, e não de comunicação. Depois foi sendo aprimorada e chegou comercialmente ao Brasil só em 1995. Antes disso, ela era puramente acadêmica”.

O mundo depois dos computadores

Revolucao-2Seja nas empresas, na indústria do entretenimento ou na educação, os computadores, a partir do momento em que passaram a fazer parte de nosso cotidiano, trouxeram mudanças que afetam a vida de todas as pessoas- inclusive daquelas que não tem acesso às máquinas.

Nas empresas, a facilidade para troca de documentos e a comunicação entre funcionários, fornecedores e clientes foi modificada e aprimorada.

Os editores de texto e planilhas também passaram a ter papel fundamental. “Tudo isso facilitou o trabalho. Esses softwares, relativamente simples, trouxeram uma melhora significativa no cotidiano de todos”, afirma o docente.

Dos estúdios de animação até as grandes produções, como Titanic, a computação também teve sua importância fundamental. Quando George Lucas começou a fazer os gráficos que dariam vida à notória produção, Guerra nas estrelas, começou a pensar-se fortemente em efeitos visuais, feitos nos computadores. “Todos os grandes efeitos de Titanic foram feitos em máquinas Linux e Alfa. Eram clusters** gigantescos, fazendo muitas imagens, em máquinas diferentes”, conta o docente.

Revolucao-4Steve Jobs fundou a Pixar (hoje pertencente a Walt Disney Company), estúdio de animação que produziu Toy Story, Carros, Vida de Inseto, entre outras famosas animações, e tornou-se um dos melhores exemplos do relacionamento bem-sucedido entre computação e entretenimento.

Um atalho para o sucesso financeiro

Um caminho para que países emergentes obtenham um avanço efetivo, no caso da informática, é o desenvolvimento de softwares. “Temos que aprender a fazer programas de computador, pois gastamos muito dinheiro pagando licenças de uso”, lamenta Guilherme. “Perdemos a corrida da tecnologia do silício e replicamos tecnologia, não temos um número expressivo de patentes ou tecnologia exclusivamente brasileira na área de chips ou dispositivos eletrônicos no Brasil”.

Biossensores e computadores orgânicos, de acordo com o docente, podem ser a nova aposta nessa corrida tecnológica, da qual o Brasil pode- e deve- participar.

Outra aposta em que o Brasil deve se envolver é para o desenvolvimento de jogos e aplicativos para computador. “A Índia faz isso muito bem, atualmente, e já participa ativamente do mercado dos EUA, e o Brasil poderia estar nesse patamar”, afirma o docente. “Sempre se teve pouco desenvolvimento de tecnologia no Brasil. Mesmo sendo país em desenvolvimento, a indústria brasileira sempre foi de montagem, e raramente desenvolveu produtos”, lamenta.

A escolha com a qual o Brasil pode se deparar, nesse sentido, é se caminha para o desenvolvimento de softwares livres (que não exigem o pagamento de licença de uso, por parte dos usuários) ou na direção “capitalista”, desenvolvendo programas onde os usuários tenham que pagar por seu uso. “Com softwares livres, as pessoas aprendem mais, então, no caso brasileiro, talvez fosse melhor caminhar nessa direção e dar liberdade aos programadores. Quando as pessoas se veem obrigadas a aprender por conta própria, podem aprender mais, e os brasileiros são muito criativos”, diz Guilherme.

O futuro tecnológico para o Brasil

Grandes empresas, como Google ou Yahoo, trabalham, constantemente, no desenvolvimento de novas tecnologias. Em um futuro próximo, teremos diversas máquinas em uma só, fazendo a “computação nas nuvens”, com uma velocidade de transmissão de dados surreal. Quanto ao tamanho dos computadores, se caminharmos do desktop ao iPad, poderemos perceber que a tendência é que “encolham” cada vez mais.

Revolucao-5A computação em nuvens, de acordo com Guilherme, já é uma realidade atuante. Funciona da seguinte forma: qualquer documento, dado ou informação armazenados em uma máquina, poderão ser acessados de qualquer outra, em qualquer lugar do planeta. Ou seja, qualquer suporte físico terá acesso à informação virtual.

As evoluções e facilidades que, em um futuro próximo, teremos em áreas de saúde e educação, também são significativas. “A Google comprou uma empresa de DNA e utilizará as técnicas de banco de dados para sequenciar o DNA”, conta Guilherme. “Por trás disso tudo, está o desenvolvimento de bons softwares“, diz.

Independente de qualquer coisa, antes de avançar muitos passos, seja na informática, seja em qualquer tipo de tecnologia, é preciso recuar e perceber se o bom- e racional- uso está sendo feito disso tudo, para que seu aproveitamento seja autêntico. “As pessoas andam na rua e mexem no celular o tempo todo, e isso só irá se expandir. De certa maneira, já nos tornamos cyborgs“, finaliza o docente.

*Eletronic Numerical Integrator and Computer

** Traduz-se “aglomerado” e, na prática, significa o trabalho de vários computadores juntos.

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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