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1 de julho de 2013

A meio caminho da cura

A malária, doença infecciosa causada por parasitas do gênero Plasmodium, tem ganhado cada vez mais atenção de diversos estudiosos. Embora tenha tido sua incidência reduzida, a malária ainda faz diversas

Falciparum-1

vítimas pelo mundo*, principalmente crianças, o que traz um grande apelo aos círculos políticos e, sobretudo, acadêmicos, para que se encontre alternativas para a cura definitiva.

Já existem, atualmente, diversas alternativas para o tratamento da malária, porém o problema desse quadro é que o parasita causador da doença já aprendeu a “driblar” os medicamentos capazes de exterminá-lo, ou seja, os fármacos (inclusive aqueles desenvolvidos recentemente) que, um dia, já curaram organismos contaminados pela malária são, hoje, praticamente obsoletos.

Para resolver esse problema, pesquisadores do Grupo de Cristalografia (GC) do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) realizam há alguns anos uma pesquisa que forneça alternativas para o tratamento da malária.

Via_glicoltica-1Dos conhecimentos já coletados no estudo, sabe-se que o Plasmodium falciparum (agente causador da forma mais severa de malária) possui diversas proteínas-chave, com destaque para enolase, que, no organismo do parasita, é de vital importância. A proteína, pertencente à via glicolítica, é uma das responsáveis pela produção de energia. “Se inibirmos enzimas relevantes da via glicolítica do Plasmodium, ele fica sem energia e morre”, explica o docente do GC e coordenador do projeto, Rafael V. C. Guido.

Para que essa inibição seja possível, é necessária a produção de uma molécula com grande afinidade para se ligar à enolase do Plasmodium, impedindo que esta realize sua principal função, a produção de energia no parasita.

Até o momento, não existe nenhum fármaco que atue através desse mecanismo, ou seja, pela inibição da enolase. No entanto, Rafael e seus colaboradores conseguiram determinar a estrutura tridimensional em alta resolução da enolase (algo inédito no mundo**), uma etapa extremamente importante para o desenvolvimento de novos medicamentos para a malária.

FarmacoUltrapassada essa etapa, a trajetória para produção de um fármaco fica ainda distante, mas com um obstáculo a menos a ser ultrapassado (veja ilustração). O próximo passo será identificar moléculas capazes de inibir a enolase, ou seja, encontrar uma molécula que ocupe o sítio ativo da proteína, bloqueando sua ação e impedindo que ela produza energia para sobrevivência do Plasmodium falciparum. “Começaremos a trabalhar agora com o ‘processo de triagem’, para encontrar essas moléculas. Precisamos explorar a diversidade química para encontrá-las, investigando moléculas de origem natural, como as de plantas***, ou sintéticas que possuam atividade biológica frente a enolase”, conta Rafael.

Para a determinação da estrutura da enolase, foram dois anos de pesquisa. Para encontrar moléculas promissoras candidatas a novos fármacos para a malária ainda não há previsão, muito menos para produção de um novo medicamento. Contudo, o que se sabe é que há muitas boas novidades na pesquisa em questão, o que faz surgir a expectativa de mais um ineditismo nessa pesquisa: um novo mecanismo de combate à malária.

*no relatório “Derrotando a malária na Ásia, no Pacífico, nas Américas, Oriente Médio e Europa”, produzido pela ONU em 2010, foram registrados 34 milhões de casos da doença no continente africano.

** Por esse trabalho, intitulado “Estudos estruturais da enzima enolase de P. falciparum: alvo molecular para desenvolvimento de novos agentes antimaláricos. De autoria de Fernando V. Maluf; Evandro J. Mulinari; Eduardo A. Santos; Glaucius Oliva; Celia R. S. Garcia e Rafael V. C. Guido, a equipe coordenada por Rafael foi premiada na 36ª Reunião da Sociedade Brasileira de Química, ocorrida entre 25 e 28 de maio deste ano

*** O docente, também do GC, Adriano Andricopulo, o doutorando do GC, Ricardo N. Santos, e a docente do Instituto de Química da Unesp, Vanderlan Bolzani criaram uma base de dados on-line sobre 640 compostos químicos extraídos da biodiversidade brasileira, e que será utilizada nessa etapa de pesquisa do projeto discutido nessa matéria

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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