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11 de janeiro de 2013

A gravidade para derrubar prédios

O que a física tem a ver com o desabamento (proposital ou não) de grandes prédios comerciais, residenciais ou qualquer tipo de imóvel que, por motivos específicos, tenha, literalmente, caído por terra? A resposta é: tudo!

ImplosaoAlguns imóveis, mais hora, menos hora, são retirados de cena e, diferente do que a grande maioria pode pensar, não é somente a quantidade dos poderosos explosivos que será capaz de fazer isso. A grande “culpada” por trazer prédios ao chão é a força que nos mantém em terra firme e os planetas girando em torno do Sol: a força gravitacional ou, simplesmente, gravidade.

No entanto, alguns desabamentos podem ser mal sucedidos, mas, em alguns casos, culpar a gravidade pelo ocorrido, é injusto.

No começo de 2012, em São Paulo, uma quantidade grande de explosivos foi colocada em um edifício próximo à favela do Moinho. Depois da detonação, quatro andares ainda ficaram em pé. Como explicar esse fato, uma vez que a força gravitacional deveria “sugar” o imóvel para o chão, tornando sua demolição bem sucedida?

Para fazer um edifício cair, a força gravitacional assume um papel importante. Os explosivos destroem apenas 10% das colunas que sustentam o edifício. Retirada a sustentação, o restante vem abaixo como um castelo de cartas, puxado pela gravidade. “O processo da implosão, de fato, se utiliza, quase que totalmente, da força da gravidade. Se ela não existisse, nem compensaria derrubar prédios da forma que é feito hoje”, explica o docente do Grupo de Física Teórica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Luiz Nunes de Oliveira.

Mas não só da gravidade vivem os desabamentos. Se mal colocados, os explosivos podem não cumprir o seu papel, fazendo com que a implosão seja mal sucedida, como no caso do prédio paulistano. Nesse caso, nem mesmo a gravidade pode consertar o erro.

Para que um edifício caia, é preciso, em primeiro lugar, que sua sustentação seja retirada. Nesse caso, existem duas situações: a primeira, onde construções que ficam ao redor do prédio não podem ser atingidas e o edifício deve desmoronar para o centro. E o segundo caso, mais comum, onde o prédio que será derrubado pode “cair” lateralmente (no caso de não haver construções vizinhas, isso é possível).

Implosao-2No primeiro caso, onde o prédio deve cair “reto” (maioria das situações), o cuidado deve ser redobrado, por motivos óbvios (não atingir construções vizinhas). Nesse caso, os pilares centrais deverão receber os explosivos.

No caso de queda lateral, os explosivos são colocados dentro dos pilares laterais do edifício. Depois de explodir a dinamite, o concreto será destruído e o ferro, único material restante da explosão, cederá à gravidade, “jogando” o edifício para o lado. “Quem realmente segura a construção é o cimento, pois ele é muito resistente à compressão. O cimento serve para evitar que a construção ‘desça’ e o ferro para evitar que ela ‘vire'”, elucida o docente.

Mas, em qualquer das situações, para que a implosão ocorra, de fato, muitas vezes só é necessário que os explosivos sejam colocados nos andares inferiores, pois retirando sua sustentação, o peso fará com que a construção caia, de qualquer maneira. “Algumas vezes, é preciso colocar explosivos nas partes bem altas do prédio, pois, por não terem muito peso sobre si, podem resistir à explosão, mesmo que o edifício não tenha mais sustentação”, conta Luiz.

O professor afirma que se trata de uma operação complicada. “Embora a força gravitacional seja muito importante, não se pode contar com ela, somente. Os explosivos devem ser colocados no local correto para que tudo corra como planejado. O simples fato de colocar o explosivo no local incorreto pode fazer com que o prédio tombe para o lado, por exemplo, ou nem mesmo caia”.

Uma questão de gravidade

Implosao-1A técnica de explosão de edifícios data do século XVIII. No Brasil, a primeira implosão que se tem conhecimento foi em 1975, em São Paulo, do antigo Edifício Mendes de Caldeira (atual estação da Sé). E, em qualquer que seja o caso, nenhuma força física, além da gravitacional, atua quando um edifício é trazido ao chão.

Em relação ao impacto desse tipo de explosão, principalmente nos casos onde há construções vizinhas, é essencial que o prédio caia em pé, para não prejudicá-las. Mas, mesmo assim, pela dimensão do impacto, dificilmente as construções ao redor não são atingidas- mesmo que em proporções ínfimas.

Muitos anos depois da utilização da técnica, os profissionais que lidam com ela sabem o que estão fazendo, embora ainda existam alguns casos mal sucedidos. “Hoje em dia, as companhias que realizam demolições fazem duas coisas importantes: primeiro, filmam o local antes da demolição. Posteriormente, instalam cismógrafos* em volta, para registrar o impacto da explosão. Isso é feito, inclusive, como precaução legal”, conta Luiz.

É claro que o mercado para esse tipo de serviço não é dos mais promissores. “Quem irá arriscar contratar uma companhia nova no mercado para fazer esse tipo de coisa?”, questiona o docente.

Dados respondem à pergunta retórica: no mundo todo, existem 20 companhias que realizam implosões. E o negócio é lucrativo! A implosão do prédio do Moinho custou cerca de R$3,5 milhões aos cofres públicos. Mas, muita calma! Os gastos- tanto das empresas, quanto dos pagantes – poderiam ser muito maiores, caso não existisse a força da gravidade. Levando-se em conta que, sem ela, os esforços (e materiais utilizados) poderiam ser centenas de vezes maiores, o sucesso desse tipo de empreitada, dificilmente, seria possível da maneira como conhecemos.

*aparelho usado para medir tremores de terra

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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