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8 de agosto de 2012

A Escola de Física Contemporânea do IFSC no contexto educacional

Dentre os diversos grupos que têm frequentado a Escola de Física Contemporânea, um evento promovido anualmente pelo IFSC, a constatação é que dentre trinta ou quarenta alunos considerados bons, só três ou quatro é que emergem como excelentes. simboloAtrás dessa evidência estão, segundo o Prof. Leonardo Paulo Maia, docente do IFSC, as deficiências existentes na educação básica e a ausência de uma cultura de valorização do conhecimento em nossa sociedade.

A sociedade brasileira ainda mantém uma perspectiva muito negativa em relação às oportunidades das carreiras científicas, como se o cenário fosse o mesmo da década de 1990: Hoje, com a expansão do sistema federal de ensino superior e oportunidades decorrentes da aceleração econômica, a situação é bem melhor em termos de mercado de trabalho, mas, naquela época, as universidades brasileiras contratavam pouquíssimos pesquisadores – relata o docente que, à época, temia ingressar em uma carreira que se tornasse um beco sem saída. Acabou optando por engenharia não por vocação, mas sim por um misto de busca de segurança e falta de informação, sem saber que quase a totalidade dos engenheiros no Brasil acabava realizando atividades de vendas ou gestão, mais distantes dos fundamentos científicos. O Prof. Leonardo acabou abandonando a engenharia e se formou em Física, embora também relate instabilidades durante sua trajetória acadêmica posterior, sempre pelas incertezas sobre as oportunidades na carreira científica.

O Prof. Leonardo Maia acompanha, desde 2010, a já tradicional Escola de Física Contemporânea (EFC), um evento promovido pelo IFSC, que tem como objetivos principais mostrar a alunos talentosos como é o mundo da pesquisa e como funcionam alguns dos principais grupos de pesquisa no país, bem como qual é a importância da ciência e tecnologia na geração de conhecimento e riquezas. Outro objetivo importante deste evento é captar alunos para um vetor importante para o país – o empreendedorismo. O docente considera o evento extremamente importante para atrair pessoas qualificadas na área da física, até porque – segundo nosso entrevistado – o cenário da ciência nacional e suas perspectivas melhoraram muito:

leonardo2012

Nos perfis dos grupos de alunos que participam da Escola de Física Contemporânea não consigo identificar uma grande mudança ao longo dos anos. A média de participantes é em torno de trinta ou quarenta estudantes e sempre tem três ou quatro alunos brilhantes, eu diria excepcionais, sendo que os restantes se enquadram naquilo que eu considero o que deveria ser um estudante típico da USP, e isso demonstra um pouco o que se passa no nosso país, em termos relativos. Se tentarmos posicionar a USP dentro do Brasil e se posicionarmos o Brasil dentro do cenário internacional, surge a questão: Quem somos nós?… Somos um país com pouca tradição em cultura científica, mas por outro lado queremos alcançar posições economicamente mais respeitáveis, como, por exemplo, atingir o patamar da 5ª ou 4ª economia mundial. Se fizermos análises, por correlação, do investimento feito em pesquisa e em desenvolvimento científico, versus a nossa posição econômica, chegamos à conclusão que somos um país grande, que temos um mercado enorme, possuímos uma estruturaplateia socioeconômica baseada em serviços, só que, em contraponto, o nosso investimento em ciência, principalmente em cultura científica, é muito pequeno, contrariando todas essas ambições econômicas. Se nossa educação fosse melhor e houvesse mais valorização das carreiras científicas, todos os alunos que participassem de um evento como a EFC, na USP, deveriam ser excelentes e a maioria deles não deveria ter nenhum receio de seguir uma carreira científica – refere Leonardo Maia.

Na perspectiva do docente, o Brasil surge como uma “bolha”, onde a posição econômica do país está melhorando, em que a qualidade de vida da população melhorou, mas tudo isso se deve a uma expansão do crédito, a uma tributação maior, a uma política de transferência de renda que, num primeiro momento é essencial, mas, segundo Maia, tudo isso deveria ser uma espécie de ensaio ou de preparação do terreno para um cenário diferente:

Deveria estar já em execução a criação de infraestruturas logísticas para a construção de novos portos, estradas, rodovias e, principalmente, de infraestruturas culturais, o que não tem acontecido até agora. O governo investiu demais – e mal, na minha opinião – na expansão do sistema federal de educação, sem planejamento e sem cobranças e investir mal é a mesma coisa que não investir – pontua Maia.

Para o docente do IFSC, o brasileiro não respeita muito o conceito do “conhecimento”, e a palavra “professor” é desprestigiada:

Se olharmos para os países mais desenvolvidos, vemos que a procura por cursos relacionados com ciências exatas tem caído gradativamente e isso é um problema sério para a humanidade; mas, pelo menos, existe um mínimo de admiração, de orgulho e de respeito por quem escolhe essas carreiras, ao contrário do Brasil, onde as pessoas dão risada e comentam “AH! Quem sabe faz e quem não sabe ensina” ou “na teoria a prática é outra”; enfim, as pessoas brincam com os professores e isso não é inocente. E é neste cenário que nossos alunos vivem. No Brasil, o que se valoriza é ter um emprego onde se ganhe muito dinheiro: ponto final! É óbvio que se se não é estimulado, compensado e admirado, as pessoas que têm vocação acabam se dispersando, se desinteressando, participante1mudando de rumo. Poucas pessoas se interessam por seguir a carreira do magistério porque num cenário como este ninguém quer ensinar; se ninguém quer ensinar – e por maiores que sejam nossos valores – é claro que não tem alunos brilhantes em quantidade suficiente e isso joga a área educacional para baixo. Você vê a USP, que é a melhor universidade do país e da América Latina e logo imagina que ela deveria ter um vasto lote de alunos espetaculares, que poderiam ir para o MIT ou para Princeton, só que nós não temos essa quantidade que tanto ambicionamos. Daí, o nível de nossos alunos da Escola de Física Contemporânea se manter inalterado, ou seja, tem sempre apenas três ou quatro alunos considerados excepcionais. A Escola de Física Contemporânea é um buscador de mentes brilhantes e temos dificuldades em encontrá-las: o verdadeiro problema está na educação básica, já que é através dela que se motiva não só os jovens, mas também os pais, no conceito de apostar e acompanhar a educação de seus filhos, e participando, como se vê na Escola de Física Contemporânea – comenta o docente.

Então, qual será a perspectiva, em termos da educação nacional? Para o Prof. Maia, essa perspectiva é negativa em relação à possibilidade de uma evolução rápida e eficaz na educação brasileira, já que ele considera que não parece haver uma disposição real para se fazer um trabalho profundo nessa transformação que tanto se ambiciona:

Veja os exemplos de Cingapura e Coréia do Sul. Os professores são considerados verdadeiros educadores e orientadores, não só dos estudantes como de seus pais; esses professores têm uma elevada qualificação técnica, são muito bem remunerados, beneficiam-se de infraestruturas verdadeiramente espetaculares, são valorizados, e incutem um respeito enorme na sociedade. Por outro lado, grande parte dos alunos participantesformados no ensino médio desses países é motivada a seguir a carreira de seus mestres, tornando-se, por isso, excelentes professores. Você vê isso no Brasil? Claro que não. Poderá ser o melhor dos alunos, mas é quase certo que ele não irá seguir o magistério. Não vejo nenhuma iniciativa que vise dar uma reviravolta na educação nacional, e isso começa pela falta de valorização dos professores, pela falta de infraestruturas adequadas, seguras e modernas. Se começássemos agora com esse planejamento, talvez uma próxima geração pudesse trilhar um caminho com qualidade. Sou muito cético em relação a isso. É preciso investir no ensino básico para resolver os problemas culturais e educacionais do país e obtermos um desenvolvimento científico realmente de qualidade – refere o docente.

O Prof. Leonardo Maia faz questão de deixar uma mensagem para os alunos:

Incentivo os alunos a entrarem no IFSC para fazer física. Existem mais oportunidades de trabalho do que nunca, por isso aproveitem agora, pois o ambiente é propício e não é só como pesquisadores nas universidades, já que hoje, o Brasil vive um momento em que, pela primeira vez na sua história, até as multinacionais estão começando a fazer pesquisa e desenvolvimento em nosso território e é necessária gente qualificada. Fica o desafio – termina nosso entrevistado.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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