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27 de novembro de 2012

A procura por novos planetas distantes 110 anos-luz da Terra

A notícia correu célere através dos media nacionais e internacionais, já que se trata de um dos projetos mais ambiciosos liderados por uma equipe de cientistas brasileiros. Tentar descobrir novos planetas distantes 110 anos-luz da Terra.

galaxy-200Com efeito, coube a uma equipe de cientistas da USP, liderada pelo Prof. Jorge Meléndez, astrônomo do IAG – Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, liderar este projeto, que conta ainda com a participação de pesquisadores dos Estados Unidos, Alemanha e Austrália: o intuito é, durante oitenta e oito noites, a partir de um telescópio localizado no Chile e pertencente ao ESO – European Southern Observatory, descobrir novos planetas localizados “perto” da Terra, a uma distância de 110 anos-luz (cerca de 9,46 trilhões de quilômetros).

Esta pesquisa iniciou-se em 2005, quando a equipe analisou estrelas conhecidas como gêmeas solares, nome que foi dado por elas apresentarem características semelhantes ao Sol, já que possuem brilho, temperatura e aparência físicas parecidas com o nosso astro-rei.

Em 2009, os cientistas descobriram que a composição química do Sol era diferente da de outras estrelas gêmeas e, ao aprofundar os estudos, notaram que o Sol apresentava deficiência de determinados elementos químicos, sendo que esses elementos são justamente aqueles usados para formar planetas rochosos.

A missão seguinte dos astrônomos foi calcular quanto desse material faltava à massa total do Sol e a conclusão foi que a deficiência constatada nessa estrela era da mesma ordem que a massa dos planetas rochosos do Sistema Solar, como Mercúrio, Terra, Vênus e Marte.

Segundo o líder do projeto, não foi apenas uma coincidência qualitativa em relação ao new_planets-250tipo de elemento químico que estava faltando ao Sol, mas também quantitativa.

Com base nessa descoberta, os pesquisadores passaram a procurar planetas ainda não conhecidos e que eventualmente possam estar em torno das tais gêmeas solares, estudando qual seria a relação entre as anomalias químicas de cada estrela, individualmente, e a presença de diferentes tipos de planetas.

A continuação da pesquisa teve como foco uma dessas gêmeas, aquela que para todos os efeitos era a mais parecida com o Sol, mas não foi detectado nenhum planeta próximo dela;  em outubro do ano passado, os cientistas ampliaram a observação das gêmeas do Sol para uma amostra de setenta estrelas, procurando por novos planetas.

Embora na notícia que circulou nos media tenha sido referido que não havia uma estimativa de quantos planetas poderiam ser descobertos a essa distância, o certo é que, em face deste conjunto de observações, as chances de descoberta são muitos boas, até devido ao fato do telescópio que está sendo utilizado ter uma precisão extraordinariamente boa, o que pode permitir, inclusive, a detecção de planetas com dimensões reduzidas.

Mas, qual é a importância para o Brasil em liderar estes estudos? Na opinião do IMG_7860Prof. Luiz Vitor de Souza Filho, docente do Grupo de Física Computacional e Instrumentação Aplicada do IFSC-USP e cuja sua área de pesquisa é Astrofísica de Partículas, o IAG-USP tem uma grande tradição na área de análises de dados em observatórios, sendo que nos últimos cinco anos o Instituto se fortaleceu, principalmente em recursos humanos altamente capacitados, em função dos dois observatórios que o Brasil construiu no Chile – O Gemini e o SOAR -, o que se traduziu num crescimento muito grande nas pesquisas efetuadas. Com a construção desses dois observatórios, o IAG-USP, que já era uma referência, virou um ponto de excelência para esse tipo de análise, e essa liderança, em termos internacionais, aparece de forma natural. Não só no contexto desses dois observatórios, mas também tendo como base a construção de outros, o Chile aparece sempre como o favorito para acolher essas infraestruturas e isso tem um motivo: é que, no mundo, não existe céu mais limpo do que o do Chile e isso, claro, é fundamental para realizar observações minuciosas.

A importância de se buscar novos planetas que ficam a 110 anos-luz da Terra é algo que pode intrigar os leigos, principalmente quanto à utilidade desse trabalho: o Prof. Luiz Vitor explica qual a intenção:

Estejam eles a que distância estiverem, é sempre importante encontrar planetas que possam ter condições de gerar vida. Quanto mais nós podermos avançar nessa busca, maior é a chance de encontrarmos novos planetas e a finalidade é entender, através dessas eventuais descobertas, quais são as condições que deram origem à nossa vida, à vida na Terra; quais são as condições específicas que fazem um planeta gerar vida. Sabemos da existência de algumas, como a água, por exemplo, e de outros elementos que podem originar vida, mas quanto mais sistemas solares (estrelas e planetas) você conseguir estudar, maior será a chance de se entender quais são os parâmetros que dão origem à vida.

Essa tentativa de se descobrir o que existe no universo profundo deriva da impossibilidade de não se conseguir simular, dentro de um laboratório, com detalhes específicos, as condições existentes em um planeta – atmosfera, eletricidade, umidade, iluminação solar, etc -, embora já se tenha tentado. Daí, que a melhor maneira para ir mais além neste conhecimento seja explorar sistemas solares reais e contar com a sorte de encontrar um planeta que apresente condições para se alimentar a teoria referente à origem da vida. 110 anos-luz é, no conceito do entendimento humano, uma distância enorme, gigantesca, quase incalculável: contudo, essa distância é considerada relativamente pequena tendo em conta o próprio universo, como explica o Prof. Luiz Vitor:

Nós consideramos 110 anos-luz uma distância curta, como se aquilo que procuramos estivesse na nossa vizinhança – que chamamos de “Universo Local”; mas essa distância é extremamente longa quando a medimos relativamente ao nosso sistema solar. Eu acredito que eso-mercopress350este projeto que está sendo liderado pelo Prof. Meléndez poderá facultar a descoberta de muitos planetas. Há grandes possibilidades de sucesso com a utilização deste tipo de telescópio do ESO, que se denomina VLT – Very Large Telescope, havendo já a intenção de se construir outro denominado E-ELT – European Extremely Large Telescope, ainda mais potente.

Quanto ao ESO, é do conhecimento público que o Brasil está tentando ser membro desse órgão, embora ele seja estritamente dedicado aos países europeus. Apesar disso, o Brasil já se candidatou a um lugar nessa organização e essa é uma discussão que está em pauta junto da comunidade científica brasileira, já que o preço para essa inclusão é muito elevado, na ordem dos milhões de dólares.

Segundo o Prof. Luiz Vitor, existem determinados setores científicos nacionais que defendem a proposta, argumentando que, caso o Brasil seja membro, o nosso país poderá vir a ter dados importantes, que de contrário nunca terá; outras correntes opinativas são contra a proposta, argumentando que a comunidade científica brasileira ainda não está suficientemente madura para usufruir desses dados, em virtude do custo-benefício; ou seja, serão poucos os pesquisadores que irão se beneficiar de algo que é extremamente caro.

Este projeto liderado pela USP está sendo financiado pelo próprio ESO, sendo que o mesmo se prolongará até 2015.

A expectativa é que durante os próximos meses de Janeiro e Março de 2013, quando os cientistas embarcarem novamente para o Chile, haja a hipótese de se obterem dados que possam levar ao anúncio da primeira descoberta de um planeta distante 110 anos-luz da Terra.

(* Foto ESO by Mercopress)

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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