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9 de dezembro de 2011

A ciência que faz bem ao corpo

Não é só a educação física que faz bem a saúde. A Física também! E não somente para o cérebro, como você deve estar pensando. Os maiores avanços para melhora na saúde da mente e, inclusive, do corpo, foram conseguidos graças às pesquisas nas quais essa ciência básica sempre esteve presente

Bem-estarO desenvolvimento da ciência e a melhora da vida cotidiana estão intima e profundamente conectadas, e isso é de nosso conhecimento. O que muitos não sabem é que uma ciência básica, como a física, está, integralmente relacionada ao desenvolvimento de novas tecnologias e descobertas que, através de pesquisas desenvolvidas continuamente, trazem benefícios diretos à população, com a consequente melhora no bem-estar social. “A física, por ser uma ciência básica, serve, justamente, de base para muitas coisas”, afirma Rafael V. C. Guido, docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e pesquisador na área de fármacos.

Mas, o que filtros solares, medicamentos e computadores têm a ver com a física e, mais do que isso, como todos estes itens estão relacionados?

O bem-estar social e a saúde como um todo

Antes de defender e buscar o estado de bem-estar social, é importante dizer que este coloca o Estado como protagonista para promover tal condição.

Mas, na linguagem leiga, pensar no bem-estar social é ligá-lo diretamente a uma boa qualidade de vida, independente de quem a promova e de que maneira isso será feito. Nesse caso, o desenvolvimento científico, desde seus primórdios, tem exercido um papel importante para tal promoção.

Se entrarmos numa máquina do tempo, poderemos concluir que as mais importantes invenções – as quais não presenciamos, mas usufruímos até os dias de hoje – estão, diretamente ligadas à física: a lei teórica de Boyle-Mariotte, de expansão dos gases, resultou na construção da primeira máquina à vapor; a compreensão dos fenômenos eletromagnéticos, com destaque para Faraday, resultou no aproveitamento de corrente elétrica e de campos magnéticos em geradores e motores elétricos; as ondas hertzianas permitiram a comunicação pela telegrafia. Projetando-se mais à frente, nos deparamos com a ciência da informática, fruto do avanço tecnológico na acumulação e processamento de informação em pastilhas semicondutoras, transistores, micro-ondas, fissão e fusão nuclear e lasers, só para citar alguns exemplos. “O raio-X foi considerado uma das sete maiores descobertas científicas da história”, conta Rafael. “Ele foi utilizado, inclusive, para que dois cientistas – um físico e outro biólogo – pudessem descobrir a estrutura do DNA, através da técnica de difração de raio-X, que, inclusive, utilizamos aqui no IFSC”.

Outro destaque vai para a ressonância magnética, técnica estudada e aprimorada por físicos. “Tudo isso tem a ver com o bem-estar social. No caso da Ressonância Magnética, por exemplo, pudemos diagnosticar doenças mais cedo e fazer tratamentos adequados”, explica Guido.

Ainda com viés voltado à saúde física da população, as terapias fotodinâmicas- grande foco nas pesquisas do Grupo de Óptica do IFSC – já beneficiam vítimas de cânceres superficiais, com destaque para os de pele, gengiva e boca. “O principal instrumento para realização desse tipo de terapia é o laser. Tais pesquisas são pioneiras, inclusive no que se refere a novas formas de tratamento”, conta Guido.

O trabalho com proteínas, para o planejamento de novos fármacos (medicamentos), embora também pareça estar ligado muito mais à biologia, tem a física como um de seus principais suportes. A técnica de fluorescência, para tornar proteínas visíveis e observar o trabalho de enzimas, é um exemplo. “Através da emissão de radiações, em comprimentos de onda diferentes, é possível ‘enxergar’, porque há um detector para aquele comprimento específico de ondas”, explica Rafael.

A física, protetores solares, remédios e bioenergia

A criação de protetores ou bloqueadores solares baseia-se no fenômeno de absorção. “A molécula que compõe o protetor solar está absorvendo as radiações de alta energia (ultravioleta), impedindo que ela atinja nossa pele. Já no caso dos bloqueadores, com fator de proteção acima de 30, haverá, além da ‘barreira química’, uma ‘física’. Na primeira, são colocados dióxido de titânio, ou óxido de zinco, que funcionarão como um ‘guarda-sol’ sobre a pele”, conta Guido.

Já para produção de fármacos, a análise e entendimento das pequenas moléculas e sua interação com proteínas podem ser esclarecidas através da utilização de radiação de raios-X. “O próprio microscópio óptico, que permite enxergarmos estruturas muito menores do que aquelas que teríamos capacidade de observar a olho nu, foi construído através de princípios físicos”.

Também através de técnicas de cristalografia de raios-X (passagem de feixes de raios-X através do cristal de certas substâncias) é possível estudar as proteínas e os candidatos a fármacos. O resultado disso? Criação de novos medicamentos para curar as mais diversas doenças. “A combinação dos métodos de biologia e física permite a descoberta da estrutura tridimensional e da função biológica da proteína em estudo. Com base nesse conhecimento, podemos planejar candidatos a fármacos, que encaixem nessas proteínas e alterem sua função. Dessa forma, minimizamos os sintomas ou curamos a doença”, explica o docente. “Para isso tudo, precisamos da cristalografia de proteínas”.

Rafael assumiu uma nova linha de pesquisa para otimizar a produção de alimentos. Pelas mesmas técnicas de cristalografia, ele pretende curar “doenças” de plantas. “Precisamos produzir cada vez mais alimentos, tanto para população, quanto para produção de energia. Há doenças que afetam a cana-de-açúcar, por exemplo, e as ferramentas que utilizo para desenvolver novos fármacos são as mesmas para curar as ‘doenças’ da cana, tornando possível o aumento de sua produção”, conta o pesquisador.

O que já foi e o que veio para ficar

Bem-estar-1De fato, parece que a Física se envolve em tudo e com todas as áreas do conhecimento. Isso não é impressão, mas um fato. Como foi dito no início da matéria, por se tratar de uma ciência básica, serve de alicerce para muitas pesquisas e, consequentemente, para melhora gradual de nossa qualidade de vida. “Os resultados gerados pelos estudos de física básica, agora, têm sido vertiginosamente aplicados nas mais diversas áreas do conhecimento”.

Mas, para que essa melhora seja efetiva, uma tendência que já vem sendo popularizada, mas ainda a curtos passos é, justamente, a inter e multidisciplinaridade. A Física, particularmente, já exerce esse papel, desde seus primórdios e tal comportamento está sendo espalhado para outras áreas do conhecimento, sendo básicas ou não. “Temos visto que, cada vez mais, é preciso aprender um pouco de cada coisa, para que as pesquisas evoluam, efetivamente”.

Ainda de acordo com o docente, o mercado de biotecnologia, totalmente em expansão, precisará de profissionais multidisciplinares. “Até há pouco tempo não existia tratamento para algumas doenças, principalmente as doenças autoimunes, como artrite reumatoide, doença de Crohn (doença inflamatória intestinal) e psoríase (doença inflamatória da pele), e o que existe hoje foi conseguido graças aos esforços e pesquisas realizadas por equipes multidisciplinares em empresas e universidades”, afirma Guido.

Rafael, embora seja farmacêutico, garante que a Física sempre está envolvida em tudo. Mas, nos últimos anos, justamente pela aplicação da Física ter-se tornado mais comum, o número de interessados vem aumentando. Na opinião do docente, é preciso que se divulgue a ciência e que tudo comece por uma boa educação. “Temos que investir nas próximas gerações, pois, tendo o mínimo conhecimento, as pessoas irão se interessar pela ciência. Temos que acabar com o mito de que a ciência é impossível. É possível, sim! Só basta querer”, conclui o docente.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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