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21 de junho de 2016

Veículos camuflados com dispositivo inédito

Um dispositivo inédito, conhecido cientificamente como dispositivo eletrocrômico e apelidado de “dispositivo camaleão”, promete revolucionar o conceito que até hoje se tem a respeito da camuflagem, podendo, no futuro, beneficiar principalmente a área militar.

veculo_militar_250O método, desenvolvido pela ex-aluna do Instituto de Física e Química de São Carlos (IFQSC/USP), atualmente docente e pesquisadora do Instituto de Química de São Carlos (IQSC/USP), Profa. Dra. Agnieszka Pawlicka Maule, poderá ser instalado em tanques de guerra e outros veículos terrestres, funcionando como uma espécie de camaleão, que altera as cores do verde ao amarelo, em diversas tonalidades, de modo instantâneo.

Esses tons do verde ao amarelo permitem a camuflagem em ambientes como deserto, semi-deserto, selva, terra ou montanha rochosa. Portanto, se um veículo estiver no meio de uma selva, o dispositivo camaleão identificará as cores do local e assumirá a cor para tons de verde (folhagem), fazendo o veículo se confundir com a paisagem. Contudo, se, após isso, o veículo entrar numa área desértica, numa montanha ou numa planície, o dispositivo mudará para os tons das cores da nova paisagem.

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Efeito de camuflagem em tons de verde

Esta pesquisa começou em 2009, quando a Profa. Agnieszka Pawlicka Maule participou de um workshop que ocorreu em Porto Rico, no Caribe, acompanhada de sua amiga, a pesquisadora Dra. Anna Samoc, que, embora tenha nascido na Polônia, vive há algum tempo na Austrália. No evento, ambas começaram a conversar a respeito de pesquisas que utilizavam macromoléculas de DNA em dispositivos eletrocrômicos. Durante a conversa, a Dra. Anna Samoc comentou que conhecia um docente polonês, chamado Dr. Adam Januszko, que atuava no Instituto Militar de Engenharia Tecnológica (WITI) da Polônia e que tinha interesse nesse tipo de dispositivo, e que iria colocá-la em contato com ele.

No citado evento, em uma conversa bastante rápida que teve com a Profa. Agnieszka, o Prof. Januszko destacou o desejo que tinha em desenvolver um dispositivo que pudesse ser aplicado na área militar, camuflando veículos, trajes e instalações, em tons que “imitassem” as cores da natureza (verde, amarelo, branco, marrom…). Até então, os únicos dispositivos já criados faziam a camuflagem apenas no espectro do infravermelho, que não permite camuflagens em luz visível.

Posteriormente, após ministrar um seminário no citado instituto militar, a docente estabeleceu, então, uma parceria com o Prof. Januszko, que já tinha um sistema de reconhecimento e transposição de cor que mapeava os tons de um ambiente e os imprimia. “Meu objetivo era desenvolver um sistema que, ao invés de apenas imprimir cores para camuflar tecidos, pudesse mudar os tons em tempo real. Foi um desafio desenvolver o dispositivo camaleão, porque não havia nada relacionado a esse tipo específico de metodologia na literatura científica”, explica a Profa. Agnieszka Pawlicka Maule, em entrevista à Assessoria de Comunicação do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP).

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Assim, esperando a chegada do Prof. Dr. Adam, em poucos dias a docente e o seu doutorando Lucas Marinho Nóbrega de Assis desenvolveram o dispositivo camaleão, composto por dois eletrodos transparentes, filmes finos eletrocrômicos de azul da Prússia e de óxido de cério dopado com óxido de titânio e um eletrólito gel.

Para provocar as reações químicas neste dispositivo, foi preciso aplicar um potencial elétrico (fenômeno físico), resultando na mudança da cor do filme. Em outras palavras, para camuflar um veículo, é necessário aplicar um campo elétrico entre os eletrodos, para promover o deslocamento dos elétrons e íons para dentro do filme eletrocrômico (abaixo, confira uma imagem representativa e outra real do dispositivo).

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Ao contrário da já conhecida tecnologia utilizada em óculos fotocromáticos, que escurece as lentes automaticamente, a metodologia do novo dispositivo eletrocrômico poderá ser controlada pelo motorista do veículo, que por sua vez decidirá em qual momento o efeito da camuflagem será ativado e exibido a partir de pixels com dimensões de, aproximadamente, um a cinco centímetros quadrados. Esse sistema de acionamento é semelhante ao utilizado nas janelas das novas aeronaves Boeing 787 Dreamliner, que podem ser escurecidas tanto pelo piloto quanto pelos passageiros. Com o auxílio de um software, será possível criar o padrão de cores desejadas, programando o efeito de camuflagem antes mesmo de chegar ao ambiente escolhido pelo motorista do veículo.

Capa da invisibilidade

Da mesma forma como o personagem Harry Potter pode andar escondido sob uma manta invisível pelos corredores do castelo de Hogwarts, no futuro, militares também poderão andar por diversos cenários sem serem vistos. Além do material vítreo usado para criar o dispositivo para veículos, a Profa. Agnieszka tem estudado também substratos de plásticos que poderão futuramente integrar o dispositivo em roupas. “Temos tido alguns pequenos problemas para inserir a metodologia nesse tipo de material, mas estamos trabalhando nisso. Porém, a parte de vestuário é um objetivo que temos para um futuro ainda mais longínquo”, diz ela, que trabalha com dispositivos eletrocrômicos desde 1993, quando iniciou o seu pós-doutorado no IFQSC/USP.

Embora a tecnologia esteja finalizada, os pesquisadores envolvidos neste projeto estão trabalhando ainda para melhorar a qualidade do sistema e desenvolver, talvez daqui a alguns meses, um protótipo, tendo em vista que já há uma empresa militar europeia interessada em adquirir a patente, para fabricá-lo e comercializá-lo futuramente.

(Imagens ilustrativas do dispositivo: Lucas Marinho Nóbrega de Assis e Agnieszka Pawlicka Maule)

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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