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26 de agosto de 2011

Uma tendência rumo ao interior

Quando ouvimos por aí que os tempos são outros, a frase, que carrega uma dose de abstração e subjetividade, pode ser inserida em diversos contextos. No misto de economia e ciência, se em outros tempos empresas de bases tecnológicas concentravam-se, exclusivamente, nas grandes capitais, a tendência que, hoje, se observa é de uma migração, cada vez mais significativa, de grandes empresas para cidades menores (tanto no aspecto geográfico, como no populacional).

Um destaque vai para cidade de São Carlos, no interior do estado de São Paulo que, de acordo com o jornal “Valor Econômico”, em reportagem publicada no dia 17 de agosto, define o município com “uma economia local que mescla grandes e pequenas indústrias de várias atividades e setor de serviços diversificado”. Mas, o diferencial vai além: com duas notórias universidades públicas (USP e UFSCar) e um amplo centro de pesquisa (Embrapa), São Carlos cresce a passos largos, com realizações que ultrapassam promessas e expectativas, elevando o município à categoria de capital da tecnologia.

Exemplos podem ser demonstrados e alguns pesquisadores são modelos de uma prática, que se tem tornado cada dia mais comum e necessária: transferência de conhecimento adquirido na academia para empresas globais, nacionais e, atualmente, locais.

A academia no mercado

JarbasJarbas Caiado de Castro Neto, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP) desde 1976, ficou surpreso durante seu doutorado no Massachussetts Institute Of Technology (MIT), em 1981. “Enquanto no Brasil existia uma distância muito grande entre universidade e setor empresarial, percebi que nos EUA, ao contrário, existia uma enorme proximidade”, relembra o docente. “Mesmo na área de física, nos laboratórios em que trabalhei, eles [pesquisadores] não só faziam os trabalhos junto com empresas, como buscavam, fortemente, essa aproximação”, conta o Jarbas que cita a “Polaroid” como um dos resultados da interação, na época. “Depois do doutorado no MIT, continuei com minhas pesquisas em óptica não-linear, mas procurei uma maneira de interagir com o setor produtivo e com a sociedade”.

De volta ao Brasil, Jarbas retornava não só com uma nova mentalidade, mas com uma ideia que resultou na fundação da empresa “Opto Eletrônica”, da qual é um dos fundadores e atual presidente. A empresa, no mercado há 25 anos, já é destaque internacional. “O ‘refletor odontológico’, produto desenvolvido por nós em 1990, teve grande sucesso no exterior, pois vendíamos por menos da metade do preço cobrado internacionalmente. Chegamos a ter mais de 50% do mercado mundial com esse produto”, conta Jarbas que, desde a fundação da empresa, já registrou mais de 40 patentes. “Nosso objetivo é registrar, ao menos, uma patente por mês e temos cumprido essa meta”.

Diversos alunos do IFSC são, inclusive, contratados na empresa. Jarbas destaca um diferencial no físico: “A partir do momento em que o país começa a se desenvolver, precisamos entender os fenômenos tecnológicos e o físico é muito importante para entender tais fenômenos, onde lhe cabe transformá-los em produtos”.

Da academia ao mercado

Vanderlei“Nossa preocupação principal é gerar conhecimento e investimos, muito, em projetos básicos, com vistas à aplicação”, conta Vanderlei Salvador Bagnato, que, atualmente, acumula as funções de vice-diretor do IFSC e coordenador da Agência USP de Inovação.

Docente do Instituto desde 1981, assim como Jarbas, fez seu doutorado em Física no MIT, o que auxiliou na formação da seguinte mentalidade: “O que gera riqueza, através da ciência, é a capacidade das pessoas usarem bons resultados científicos em prol da tecnologia e sua aplicação”. Tal filosofia é fortemente praticada em suas pesquisas. Prova disso é o registro de quase 50 patentes de produtos desenvolvidos pelo Grupo de Óptica do IFSC, do qual Vanderlei é coordenador, além de seu constante aconselhamento e auxílio prestado às diversas spin offs*, nascidas, inclusive, de projetos de pesquisa do Instituto. “A patente é algo importante, mas considero muito mais relevante as empresas que ajudamos a formar, pois elas estão gerando empregos, riqueza e soluções úteis à sociedade”, esclarece o pesquisador.

Seus estudos em óptica e fotônica, que objetivam o diagnóstico e tratamento de doenças, como alguns tipos de câncer, são reconhecidas mundialmente. Executivos da empresa japonesa, Nitto Denko Corporation, são os mais recentes interessados em firmar convênio com o IFSC, graças a essa pesquisa. “Vemos a relevância de nosso trabalho através da importância que as pessoas dão a ele”, diz Vanderlei.

O autêntico progresso da ciência

Para Jarbas, atualizar-se, constantemente, e buscar desenvolver novos produtos é de importância primordial. “Quando se trata de tecnologia, nunca devemos ‘deixar o burro na sombra’”. Na mesma linha de pensamento, Vanderlei defende que “nós, pesquisadores, temos a obrigação de levar o conhecimento para sociedade brasileira e não esconder ou guardar nosso potencial científico”.

Com essa mentalidade, eles e muitos outros pesquisadores dão uma contribuição significativa para tornar, cada vez mais, o município e, sobretudo, o próprio país, como referência tecnológica.

Porém, nos novos tempos, uma coisa é fato: o caminho promissório que se faz em direção a cidades interioranas trará muito crescimento e desenvolvimento a esses municípios. Mas, os frutos colhidos tendem a ir muito mais além, onde um número expressivo de pessoas, certamente, será beneficiado.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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