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3 de junho de 2014

Um pesquisador brasileiro na NASA

Graduado em Física e com mestrado em Óptica, pelo Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especificamente em 1985 e 1987, o mineiro Ivair Gontijo sempre se sentiu atraído por aquilo que a maior parte das pessoas evita: o desconhecido. Mas, querer ser cientista, querer aprender, experimentar e aplicar nem sempre é tão fácil quanto se pensa, principalmente quando se pretende ir mais além, mais longe no conhecimento.

O jovem Ivair é um desses casos e, devido a diversas circunstâncias da vida, decidiu em 1988 trocar o tão agradável clima brasileiro pelas tonalidades cinza e clima úmido da Escócia, numa tentativa de ir mais além, tendo ingressado na Universidade de Glasgow, onde obteve, em 1992, o doutorado em engenharia elétrica. O caminho estava aberto para aquilo que Ivair Gontijo considerava ser um rumo tranquilo, curiosity300já que era sua intenção desenvolver projetos no setor produtivo, em terras de sua majestade. Assim, trabalhou como pesquisador em lasers de semicondutores, detectores de luz e estudos de materiais, tanto na Universidade de Glasgow quanto na Heriot-Watt University, em Edimburgo, igualmente na Escócia. Já com responsabilidades familiares, Ivair Gontijo sentiu necessidade de se estabelecer num local onde o clima não fosse tão austero e, em 1998, decidiu se mudar para Los Angeles, estado da Califórnia (EUA), onde trabalhou na University of California – Los Angeles (UCLA) por dois anos e meio, desenvolvendo novos materiais e dispositivos com base em cristais fotônicos.

Dialogar com Ivair Gontijo – e principalmente ouvi-lo – é apaixonante, principalmente pela forma simples e humilde como ele consegue contagiar quem o ouve, ao descrever seu trabalho, seus receios e sucessos, com a mesma tranquilidade e simplicidade que mostrou perante cerca de 350 pessoas, quando proferiu a palestra intitulada O pouso do Curiosity em Marte, inserida na edição do programa Ciência às 19 Horas, que ocorreu no dia 26 de maio último, no IFSC-USP

Voltando à história de Ivair Gontijo, uma súbita decisão de mudar de área levou este cientista brasileiro a abandonar seus projetos na UCLA e iniciar uma nova etapa em sua vida, desenvolvendo lentes esféricas para cirurgias de catarata em uma empresa de biotecnologia que possuía fábricas nos Estados Unidos, Suíça e Japão, tendo produzido duas patentes para a citada empresa: no mundo, existe mais de um milhão de pessoas que usam as lentes projetadas por Gontijo: Eu comecei a projetar lentes para cirurgia de catarata numa empresa de biotecnologia. Nessa época, eu tinha enviado meu currículo para doze pessoas na NASA, sempre com alguma esperança, mas nunca recebi qualquer tipo de resposta. Na verdade, eu sempre digo que não sou bom para descobrir quais são as boas oportunidades na vida. Todos os momentos que eu achava que eram as grandes oportunidades, nenhum deles deu certo. Por outro lado, aquelas coisinhas muito pequenininhas, que nem esperava que dessem certo, foram as que de fato abriram meu caminho profissional. Coloquei o meu currículo num site relativo a uma conferência e foi assim que, em 2006, alguém do Jet Propulsion Laboratory (JPL), da NASA, que eu nunca tinha visto na vida, entrou em contato comigo e me chamou para uma entrevista, recorda Ivair.

De repente, o veículo Curiosity estava sob gestão de um cientista brasileiro

Em seu primeiro projeto no Jet Propulsion Laboratory, em Pasadena, Califórnia, a missão foi ajudar a desenvolver um projeto relacionado com lasers de semicondutores; uma semana ivair200depois, descobriram que ele tinha experiência em montagens de circuitos de radiofrequência e foi quando o colocaram a trabalhar no projeto Mars Science Laboratory (MSL), que enviou o jipe Curiosity para Marte: Na verdade, o MSL não tinha ninguém que soubesse trabalhar com radiofrequência, ou que tivesse uma visão ampla para mexer não só com física dos semicondutores dos dispositivos eletrônicos, como também colocar tudo aquilo numa caixa, transformando o conjunto em um dispositivo (transmissor de radar) que pudesse ser integrado com o resto da espaçonave norte-americana. Foi assim que passei a gerenciar um grupo de técnicos só para essa finalidade, comenta Ivair.

E foi sob seu gerenciamento que a equipe construiu o radar que mais tarde iria controlar a descida do jeep Curiosity (com um peso de 900 Kg) em Marte: Se esse equipamento não funcionasse, o resto seria irrelevante, porque tudo isso iria se transformar em um monte de lixo depositado em Marte. Aquilo tinha que descer, custasse o que custasse: a missão do radar foi medir a altura que o Curiosity estava do solo marciano, bem como indicar a velocidade de descida. Sem essas medidas, todo equipamento iria descer de uma forma descontrolada e iria virar um monte de ferro velho na superfície do planeta vermelho, mas no final deu tudo certo, afirma Ivair.

A descida do Curiosity, em Marte, foi acompanhada em rede nacional de televisão, nos Estados Unidos, com muita apreensão, pois todos sabiam que existiam milhares de razões e de problemas para que algo desse errado: afinal, controlacuriositytwin300r remotamente a descida do veículo, num ponto específico do planeta Marte, mesmo contando com o auxílio de dois satélites que já se encontravam na órbita daquele planeta, não era tarefa fácil, embora toda a equipe da NASA estivesse dando o seu melhor. Por outro lado, o que também estava em causa era a credibilidade internacional – e doméstica – de um dos mais importantes vetores do programa espacial norte-americano.

Para Ivair Gontijo, os momentos finais da descida foram dramáticos, já que estava comprovado que toda a física aplicada naquele projeto estava certa, que as ideias e cálculos estavam corretos até ao último pormenor, só que era um projeto de muitos detalhes: um parafuso mal apertado, um fio solto, jogariam todo o projeto para o lixo. Então, se todos os detalhes foram feitos de forma correta, o projeto tinha que dar certo: Eu só acreditei, mesmo, quando vi a primeira foto tirada pelo próprio Curiosity, com a sombra do veículo parado na superfície do planeta: e dava para ver, inclusive, as rodas dele. Durante a descida, parecia um ensaio, parecia que não era de verdade, parecia animação: foi tudo absolutamente perfeito. Não teve nenhum problema durante a descida, comemora Gontijo.

Após esse grande sucesso, a NASA decidiu entregar a Ivair Gontijo outra missão, esta com o intuito de ser concluída daqui a aproximadamente dez anos e numa área completamente diferente da anterior: agora, o desafio do pesquisador brasileiro será gerenciar o projeto de lançamento de uma sonda com destino a Europa – uma das luas do planeta Júpiter – colocando o equipivairaud300amento em uma órbita muito próxima de sua superfície, com a intenção de fazer um estudo mais aprofundado. Júpiter é coberto de gelo e ele se move, se quebra, tem várias rachaduras e sai material lá de baixo. Parece que abaixo do gelo existe um oceano, água líquida, uma espécie de mar global, prevendo-se que exista mais água aí do que em nosso planeta: Na Terra existe água, logo vida. É importante saber se existem essas e outras condições propícias à vida na lua “Europa”, que também é a grande pergunta que fazemos sobre Marte: existem essas condições, a que chamamos de habitabilidade? Pode-se ter formado vida nessa região do Universo?, questiona Ivair.

No dia 26 de maio, o Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas (IFSC-USP) ficou lotado para ouvir este pesquisador.

(Foto 3: Curiosity’s Twin Under Test – NASA Image)

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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