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28 de outubro de 2011

Um novo curso para quem gosta de novos desafios

Há seis anos, o Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) inaugurou um curso que tem chamado atenção por sua multidisciplinaridade, desafios e que tem aberto novas portas no mercado para aqueles que possuem grande afinidade com a área de exatas

DNASe a multidisciplinaridade tem sido protagonista em grades curriculares dos tradicionais cursos de graduação, não é preciso nem dizer que, em cursos criados mais recentemente, essa multidisciplinaridade seja uma premissa.

É o caso do curso de Ciências Físicas e Biomoleculares, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), criado no Instituto há seis anos, com o apoio e atual coordenação do docente, Otavio Henrique Thiemann.

Mas, para aqueles que se deixam confundir pelo nome, disciplinas da área de biológicas não fazem parte da grade. O alicerce do curso se assenta sobre as áreas de exatas e biologia molecular. Física, cálculo, bioquímica e biologia celular são algumas das matérias vistas, durante os dois primeiros anos, quando, gradativamente, vão abrindo mais espaço à disciplinas como microbiologia, química medicinal e tecnologia enzimática.

Aprovação de uma nova proposta

“A ideia nasceu entre os docentes do Grupo de Cristalografia do IFSC. Já existia no Instituto, desde 1997, a área da pós-graduação em física biomolecular dentro da área de Física. Com o passar do tempo, percebemos que os alunos que haviam concluído essa pós-graduação, e iam trabalhar em empresas de biotecnologia, queixavam-se da falta de base em alguns outros campos, exigidos por essas empresas”, explica Thiemann.

Ao mesmo tempo em que aumentavam os pedidos, por parte dos alunos, de uma melhor base em exatas na pós-graduação em física biomolecular, em paralelo, a Universidade de São Paulo (USP) era cobrada, pelo governo, para aumentar seu número de vagas, o que deu a chance, ao Instituto, de criar o curso em questão, com a primeira turma ingressando no vestibular de 2006. “Trouxemos 16 novos docentes ao Instituto, quando o curso foi criado. Havia muita coisa nova a ser implementada e o maior número de alunos, que viria preencher essas vagas, também exigia essa renovação”, conta o docente.

O que é o curso?

Fisiologia, anatomia, botânica e ecologia, disciplinas importants e tradicionais da área de Biologia não fazem parte da grade curricular. “A finalidade do curso foi voltada ao estudo de moléculas biológicas a nível atômico ou biomolecular, o que originou seu nome”, esclarece Otavio. Dessa forma, ferramentas físicas são, constantemente, utilizadas para validar esses estudos como, por exemplo, experiências onde tais moléculas são iluminadas com raios ultravioleta ou infravermelho, para que interações entre elas e as radiações às quais são submetidas possam ser observadas.

Cursos de biotecnologia não oferecem uma base tão forte em física, química e matemática como o de Ciências Físicas e Biomoleculares. “Um biotecnólogo tem uma visão muito mais voltada em como usar um micro-organismo para fins de produção biotecnológica, por exemplo. Estamos mais focados em estudar a interação das moléculas para, depois, pensar em como elas poderão transformar-se em um produto, seja de estudo ou de consumo”, explica o docente.

Já em relação à filosofia de ensino do recém-criado curso, conceitos como “educação em T”, discutido no mundo todo, é a alma do negócio: o traço horizontal representando disciplinas fundamentais, e o vertical o aprofundamento, que será buscado pelo aluno, individualmente. “Nossa ideia é fazer com que o estudante saia daqui com uma boa base nas disciplinas fundamentais, como matemática, física e bioquímica/biologia molecular. Acreditamos que com isso em mãos, por maiores que sejam as dificuldades encontradas no mercado de trabalho, ele terá ferramentas suficientes para resolver problemas mais facilmente”, elucida Otavio. “As disciplinas mais avançadas e específicas do curso serão o início do traço vertical do T. Procuramos dar o primeiro passo, o resto dependerá em grande parte do esforço e interesse de cada estudante”.

Durante os primeiros anos em que foi inaugurado o curso, Otavio confessa que o número de desistências foi significativo e justifica o fato, justamente, pela falta de atenção dos vestibulandos. “Uma leitura mais atenta poderia evitar equívocos. Em primeiro lugar, o curso é classificado como da área de exatas, então não poderia ter a biologia como base. Uma boa olhada na grade curricular também ajudaria”, diz. “Outro motivo responsável pela evasão é o grau de dificuldade do curso. As disciplinas são muito complexas e exigem muita dedicação e abstração por parte dos alunos”. A insegurança em relação ao mercado de trabalho, em parte ainda indefinido para esse profissional, também pode servir de desestímulo. “Por mais que divulguemos as oportunidades em aberto para essa carreira, ainda não conseguimos fazer isso concretamente”.

Riqueza disciplinar

Embora seja essencial que o aluno tenha conhecimento de que o curso de Ciências Físicas e Biomoleculares seja alicerçado sob disciplinas da área de exatas, as biomoleculares também tem seu lugar garantido.

No IFSC, o próprio corpo docente do curso em questão é formado por físicos, químicos, farmacêuticos e biólogos. “O biólogo faz os mesmos experimentos que fazemos aqui”, diz Otavio que, em seguida, elucida a diferença essencial entre os dois profissionais: o olhar e a maneira de realizar procedimentos. “O físico biomolecular, pela base que recebe, será capaz de medir forças físicas que interferem num experimento. O profissional da área de biológicas não possui essa ferramenta, não por incompetência, mas simplesmente porque não cabe à sua área fornecê-la. Através de um melhor entendimento no uso de ferramentas, é possível aprimorar técnicas e ser mais crítico. Assim, abrem-se mais possibilidades, como o desenvolvimento de novos equipamentos, apenas para dar um exemplo”.

Desde o primeiro ano de curso, as disciplinas da área de biológicas são inseridas na grade, no entanto, com o tempo, vão ganhando mais espaço. “Conseguimos reduzir a carga didática do aluno, para um melhor aproveitamento do curso. Ele, agora, tem mais tempo para refletir melhor sobre o que aprende. Por ser novo, esse curso é extremamente dinâmico e está sempre sendo revisto e remodelado”, conta Otavio.

O IFSC foi o primeiro a implementar o curso, no Brasil. De acordo com Otavio, depois de lançado no Instituto, outras universidades fundaram cursos similares, porém com nomenclatura distinta, como Engenharia Bioquímica, por exemplo. Mas, a filosofia é a mesma: oferecer um curso bem alicerçado em ciências exatas para, posteriormente, tomar uma vertente mais específica. “Não sei se essas iniciativas já estavam sendo pensadas, mas, ao longo desses seis anos, temos sido procurados para compartilhar experiências e trocar ideias a respeito do que temos feito em nosso curso”.

Da pesquisa ao mercado

OtavioNa década de 70, durante o governo Collor, em razão do acordo de Paris, o Brasil segue a lei internacional de propriedade intelectual*. Assim, muitas indústrias nacionais do ramo perceberam que uma solução para sua sobrevivência seria desenvolver pesquisas e produzir seus próprios produtos. Dessa forma, o físico biomolecular ganhou espaço significativo. “As empresas passaram a demonstrar maior interesse em profissionais polivalentes, que poderiam auxiliar em linhas de pesquisa que as interessasse”, conta Otavio.

Com o tempo, novos caminhos foram sendo abertos para esse profissional como, por exemplo, trabalhar em instituições que tenham, como principal atividade, a análise de pedidos de patentes. Indústrias químicas e farmoquímicas também visam à contratação dos físicos biomoleculares. “Percebemos outros nichos de mercado nos quais nossos alunos pudessem se inserir. Tudo dependerá de seu interesse e do que ele gosta de fazer”.

Mesmo com diversos caminhos abertos, a ponte entre empresa e universidade precisa ser mais bem alicerçada. “O industrial não sabe o que temos aqui e nós, também, não temos conhecimento do que ele possui e precisa. Aos poucos, estamos tentando convergir esses dois pólos. Temos a disciplina ‘Empreendedorismo’ que foi criada, justamente, com o intuito de mostrar, ao aluno, possibilidades que existem lá fora e como as empresas funcionam e o que consideram importante em um profissional”, explica.

E, se por muito tempo, a distância entre universidade e indústria era expressiva, a tendência é que esta seja cada vez menor. A falta de mão-de-obra especializada no Brasil é um fato, e aqueles tanto com ferramentas gerais, como especializadas em mãos, têm grandes chances de ser bem-sucedido no mercado. Certamente, o físico biomolecular já tem seu lugar garantido.

*Propriedade intelectual é o monopólio concedido pelo Estado, sendo a soma dos direitos relativos às obras literárias, artísticas e científicas, entre outras coisas. Pode ser dividida em duas categorias: direito autoral e propriedade intelectual, nesta última pertencendo patentes, marcas, desenho industrial, indicações gráficas e proteção de cultivares.

Fonte: Wikipedia

Assessoria de Comunicação

 

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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