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24 de outubro de 2016

Professores indígenas visitam o IFSC

Ao longo do dia 18 de outubro, cerca de vinte professores indígenas, oriundos das aldeias Guara PROFESSORES_1_250Pepó e Krukutu, localizadas no estado de São Paulo, visitaram o Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) onde, entre outras atividades, participaram do tradicional Show da Física que decorreu na Sala do Conhecimento do IFSC.

Cansados de uma viagem de ônibus que durou aproximadamente seis horas, os visitantes não esconderam sua curiosidade em conhecer todos os recantos do Instituto de Física de São Carlos, embora a natural timidez por estarem em um ambiente diferente do seu fosse bastante visível. O silêncio foi quase sempre uma constante durante os primeiros momentos de sua visita, mas, aos poucos, os docentes foram se integrando ao ambiente, à rotina e às características próprias da Unidade.

Geralmente apresentado durante o projeto Universitário por Um Dia (1Dia), que recebe alunos do ensino médio para visitas no Instituto, o Show de Física foi certamente um dos momentos mais altos desta visita, com o educador da Unidade, Herbert Alexandre João, a demonstrar de forma interativa e descontraída, alguns experimentos relacionados à física. Sua habilidade na comunicação contribuiu muito para que os visitantes, paulatinamente, começassem a se sentir num ambiente amigo.

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Após a demonstração, os visitantes assistiram a uma apresentação sobre as atividades de ensino, pesquisa e extensão do IFSC/USP e conversaram com o Diretor do Instituto, Prof. Dr. Tito José Bonagamba. “Nós observamos que as atividades do Universitário por Um Dia envolviam todas as classes sociais que pautam sua presença nas escolas públicas. Porém, notamos que ainda não tínhamos tido contato com jovens das aldeias indígenas brasileiras”, disse o Prof. Bonagamba, ao explicar o interesse em atrair ao IFSC/USP alunos e educadores das tribos indígenas existentes no estado de São Paulo, exatamente através do 1Dia. E a preocupação do diretor da Unidade, compartilhada pelo corpo docente, é que muitos professores das escolas indígenas não têm formação superior. “Por isso que, numa primeira interação com a Diretoria de Ensino de São Paulo, entendemos que o primeiro contato com as comunidades das aldeias, via Universitário por Um Dia, deveria ser com esses jovens, que são figuras importantíssimas dentro do processo de formação dos indígenas, para que pudéssemos criar um canal de contato com essas aldeias, da mesma forma como mantemos com escolas públicas. Afinal, as escolas indígenas também são públicas”, complementou.

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A Professora Coordenadora de Núcleo Pedagógico de Geografia da Diretoria de Ensino – Região Sul 3 (São Paulo) e responsável pela educação escolar indígena, Teresa Regina Azevedo, foi quem contatou os professores de ambas as aldeias para que viessem ao Instituto de Física de São Carlos. Para ela, todos os aspectos da visita foram positivos: “Pude perceber que, assim como nós da Diretoria de Ensino, os professores indígenas adoraram todo o conhecimento adquirido durante a visita”, disse ela, cuja expectativa é que essa vinda ao Instituto tenha contribuído para que os professores de ambas as aldeias consigam desenvolver uma formação de nível superior, já que grande parte deles concluiu apenas o ensino médio.

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Claudio Vera tem 35 anos e há seis dá aulas de artes e educação física para 60 crianças na escola da aldeia de Krukutu. À Assessoria de Comunicação do IFSC/USP, ele elogiou os experimentos demonstrados durante o Show da Física. “Isso foi importante, porque vivemos numa comunidade onde não há acesso ao conhecimento produzido pelo homem branco”. Ele explicou que as crianças que vivem na aldeia Krukutu – composta por cerca de 350 pessoas – são “livres”. Ou seja, estão acostumadas a nadar, a caminhar pela região de sua tribo, a fazer traçados, pintura corporal… Essa liberdade, segundo Claudio, demanda um esforço ainda maior dos professores, que tentam atraí-las para a sala de aula.

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Kerexu Mirin, de vinte anos, também vive na Krukutu e dá aulas há dois anos. Hoje, ela é professora de aproximadamente 40 alunos de sua aldeia. Ela explicou que há escolas municipais que levam as crianças da aldeia para nadar e montar armadilhas. Por isso, quando muitas crianças indígenas ingressam numa escola estadual, elas pensam que a dinâmica é semelhante, embora não seja, já que nas escolas estaduais elas devem acompanhar as disciplinas em sala de aula. Em razão do pai Olivio Jekupe (53 anos), escritor de poesias e de contos infantis que já participou de várias palestras e inclusive viajou à Itália, ela já imaginava o ambiente urbano que encontraria em São Carlos. “Mas não imaginava que a visita seria tão divertida”, confessou ela, se referindo ao modo como Herbert demonstrou os experimentos de física. Kerexu sempre teve o desejo de fazer faculdade, mas nunca o fez por sentir dificuldades de sair de sua aldeia. “Quando tinha dez anos, estudei fora de minha aldeia… Passei um tempo estudando na 5ª série de uma escola pública. No início, achei bem legal, mas lá ninguém falava em Guarani, por isso passava a maior parte do tempo sozinha, sonhando com a minha aldeia, com os meus amigos, com as trilhas e as cachoeiras, com os animais e as plantas. E isso fez muita falta para mim”. Os passeios noturnos que fazia descalça pela região de Krukutu e a saudade do povo de sua aldeia fizeram com que ela voltasse para sua região de origem. Hoje, com uma filha de onze meses, Kerexu Mirin não vê mais a possibilidade de sair de sua tribo. Mesmo assim, com o ensino médio completo, ela tem participado do Centro de Educação e Cultura Indígena (CECI), uma iniciativa que visa ao fortalecimento e à valorização da cultura dos Guaranis. “Gosto bastante de aprender e sei que é importante frequentar uma universidade, mas nossa aldeia está longe de tudo e de todos. Sair da aldeia para estudar em uma universidade provoca um desenraizamento, faz-nos perder o nosso ‘chão’. Quem sabe um dia a universidade possa ir até nossa aldeia…”, finalizou Kerexu.

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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