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27 de junho de 2016

Pesquisa é premiada em maior congresso americano de microbiologia

No final do mês de junho, o Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) novamente ganhou destaque internacional em nada menos do que no maior congresso estadunidense de microbiologia, o AMS Microbe 2016, organizado pela Sociedade Americana de Microbiologia.

Ilana-_ASM_Microbe_2016Através de um trabalho realizado no Laboratório de Epidemiologia e Microbiologia Molecular (LEMiMo), que é coordenado pela docente Ilana Lopes Baratella da Cunha Camargo, o IFSC foi prestigiado com o prêmio ICAAC Program Comittee Award na área de Resistência: Mecanismos e Consequências.

Para Ilana, o prêmio é mais uma prova de que o Brasil tem condições de executar pesquisas de ponta e extremamente relevantes. “Fizemos uma descoberta muito específica que, em princípio, pode não afetar diretamente a vida das pessoas, mas que é muito importante, especialmente para o desenvolvimento de novos fármacos”, afirma. “Esse é um projeto totalmente brasileiro, porém de grande relevância internacional”.

Ela ainda destaca que a troca constante de conhecimentos entre instituições de pesquisa parceiras do LEMiMo teve papel fundamental para que os resultados fossem obtidos, e cita a Harvard Medical School, uma das instituições parceiras do laboratório, através do professor Michael S. Gilmore e da pesquisadora Daria Van Tyne. Além disso, as pesquisas conduzidas no LEMiMo estão alinhadas com os objetivos do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), coordenado pelo docente do IFSC Glaucius Oliva, que visa explorar, entre outras coisas, novos alvos terapêuticos bacterianos.

Sobre a pesquisa premiada

Orientada no doutorado por Ilana, a pesquisadora Andrei Nicoli Gebieluca Dabul realizou estudos em epidemiologia molecular com foco na bactéria Staphylococcus aureus. As amostras bacterianas estudadas foram isoladas de um hospital de Belo Horizonte. A investigação da pesquisadora consistiu na observação da resistência de S. aureus a vários antibióticos, entre eles a tigeciclina, em princípio, um dos únicos capazes de agir contra essa superbactéria. “Através das amostras bacterianas colhidas em Belo Horizonte, Nicoli verificou que algumas das bactérias eram resistentes à tigeciclina, um dos únicos antibióticos capazes de combatê-la”, conta Ilana.

Tendo realizado parte de seu doutorado no laboratório da Harvard Medical School, Nicoli teve a oportunidade de estudar os mecanismos de defesa da S. aureus à tigeciclina, que agora é o foco de seu pós-doutorado, novamente realizado no LEMiMo, sob a supervisão de Ilana.

Nicoli e Ilana passaram a estudar o mecanismo de resistência de S. aureus, e fizeram o sequenciamento dos genomas das bactérias resistentes da linhagem ST105, comparando-os com um sequenciamento feito a partir de uma bactéria de uma linhagem diferente, sensível ao antibiótico em questão. “Ao comparar duas diferentes linhagens, observamos mais de duas mil mutações. Selecionamos, então, uma amostra resistente, a partir de uma amostra de S. aureus da linhagem ST5, e fizemos uma nova comparação com a linhagem sensível da bactéria”, elucida a docente.

Ilana-_ASM_Microbe_2016-1_cpiaAtravés dessa segunda comparação, as pesquisadoras observaram que houve a redução do número de mutações, que saltou para 500. Mas, ainda assim, ficou a dúvida a respeito do gene responsável pela mutação, que foi sanada através de novos experimentos in vitro, revelando que a mutação estava relacionada ao gene regulador de uma bomba de efluxo da bactéria. “Quando o antibiótico entra na célula bacteriana, a bomba de efluxo é capaz de retirá-lo da bactéria. Fizemos, então, diversos testes com inibidores de bomba de efluxo para comprovar esse argumento”, conta Ilana.

Para dar sequência a esse estudo, a pós-doutoranda do LEMiMo, Juliana Sposto Avasca Crusca, juntou-se ao grupo mais recentemente, e realizou experimentos de qPCR, demonstrando que a mutação encontrada no regulador da bomba de efluxo nas bactérias selecionadas in vitro aumentava a expressão desta bomba de efluxo.

Observando essa ocorrência nas amostras selecionadas in vitro, as pesquisadoras fizeram testes nas amostras clínicas, e o mesmo mecanismo não foi observado. “Esse resultado foi importante para demonstrar que não é somente através do mecanismo da bomba de efluxo que as S. aureus se tornam resistentes à tigeciclina, e que outros mecanismos podem estar envolvidos”, explica Ilana.

Mais recentemente, a doutoranda do programa de pós-graduação em Genética e Evolução da UFSCar, Suelen Scarpa de Mello*, também se juntou à equipe. Sob a orientação de Ilana´, ela tentará desvendar outros mecanismos da resistência de S. aureus à tigeciclina através de comparações genômicas das amostras clínicas já colhidas. Nesta nova fase do projeto, as pesquisadoras também contarão com a colaboração do docente do Grupo de Biofísica (BIO-IFSC/USP), Ricardo De Marco.

*Suelen já foi premiada no Outstanding Student Poster e ASM Student Travel Award no ASM General Meeting 2015, com o trabalho intitulado: “Daptomycin Resistance Emerges In Vancomycin resistant Enterococcus faecium of 4 Patients When Daptomycin Was Not In Used By The Hospital”. O trabalho contou também com outros colaboradores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e da Harvard Medical School

Imagem: Da esquerda, Juliana e Ilana, durante premiação no AMS Microbe 2016 

A pesquisa descrita nesta matéria de divulgação pode se encontrar em fase inicial de desenvolvimento. A eventualidade de sua aplicação para uso humano, animal, agrícola ou correlatos deverá ser previamente avaliada e receber aprovação oficial dos órgãos federais e estaduais competentes. As informações contidas na reportagem são de inteira responsabilidade do pesquisador responsável pelo estudo, que foram devidamente conferidas pelo mesmo, após editadas por jornalista responsável devidamente identificado, não implicando, por isso, em responsabilidade da instituição.

Assessoria de Comunicação- IFSC/USP


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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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