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22 de outubro de 2015

Conheça a protagonista de cinco prêmios

Há cerca de quatro anos, eu apareci com tudo! A maioria das pessoas mal tinha ouvido falar de mim e, de repente, ganhei todas as manchetes de jornais do mundo inteiro: seria eu a primeira partícula a ultrapassar a velocidade da luz! Mas minha fama durou pouco. Alguns meses depois, por erros de cálculo daqueles que me colocaram nos holofotes, verificou-se que os tais dos fótons (partículas de luz) ainda mantinham o reinado da rapidez. Ah, mas o mundo dá voltas e, em 2015, eu retornei a todo vapor! Graças a um pesquisador japonês e outro canadense, eu, neutrino, ou “partícula fantasma”, como também sou conhecida, ganhei destaque mundial novamente graças à comprovação de que, diferente do que pensavam, eu possuo massa. Qual a importância dessa informação (aparentemente) boba? Descubra logo adiante.

Prazer em conhecer-meLuiz_Vitor-_Nobel_2015-1

No atual modelo padrão da física de partículas, há um seleto grupo, o das partículas leves, do qual faz parte eu e mais seis outras partículas: os elétrons, os muons e o taus, e seus correspondentes, o neutrino eletrônico, o neutrino muônico e o neutrino tauônico.

Há mais de oito décadas, pesquisadores fizeram alguns experimentos com partículas fundamentais e perceberam que, após a interação entre elas, algo a mais estava presente ali, um tipo de energia que escapava nessas interações. Foi quando se deram conta de que eu realmente existia, e quando me batizaram com o nome que levo até hoje.

Em princípio, alguns estudiosos não me deram muita atenção, mas, anos depois, notou-se que sou um tijolo fundamental em minha família (a das partículas leves), já que diversas interações entre elas só acontecem se eu estou presente. Até o começo deste século, cientistas afirmavam que eu não tinha massa, e isso deixou muitos outros intrigados, pois não havia nenhuma partícula com massa zero, com exceção (e lá vêm eles de novo…) dos fótons.

Ah, mas você acha que os físicos, inquietos como são, contentaram-se com essa afirmação a meu respeito? É claro que não! E, por isso, começaram a fazer vários experimentos para ver se eu não tinha massa, mesmo.

Sim, tenho massa!

Antes de falar mais sobre os experimentos que comprovaram que tenho massa, acho relevante explicar meu carinhoso apelido. A alcunha “partícula fantasma” me foi dada, pois sou um pouco… antissocial: não interajo com praticamente nada desse mundo, embora bilhões de mim atravessem seu corpo o tempo inteiro. Mas, para que um detector de partículas possa me ver, é condição sine qua non que alguma interação aconteça.

Luiz_Vitor-_Nobel_2015Alguns pesquisadores imaginaram que, através de detectores de partículas muito grandes, seria possível medir alguma interação minha. Um deles, o físico da Universidade de Tóquio, Takaaki Kajita, montou um tanque de água com 40 metros de altura por 40 de largura, e o instrumentou com alguns sensores. Outro físico, o canadense Arthur McDonald, fez algo parecido, dois quilômetros abaixo da terra, em uma antiga mina de níquel em Ontário. Não só eles conseguiram medir minhas interações, como também conseguiram visualizar meus diferentes tipos: eletrônico, muônico e tausônico.

E eles não pararam por aí! As equipes canadense e japonesa conseguiram perceber que, ao sair do Sol, eu me transformava num tipo diferente de neutrino ao chegar na Terra. Eu “mudava de sabor”. Ou seja: no Sol, eu podia ser um neutrino eletrônico, mas, ao chegar na Terra, eu poderia ter me transformado num neutrino muônico.

E foi aí que a mais importante comprovação a meu respeito apareceu: para mudar de sabor, eu teria que ter massa necessariamente (informação já obtida a meu respeito há alguns anos, o que foi chamado tecnicamente de “oscilação de massa”).

Quinto Nobel no qual sou protagonista

Mesmo que só agora muitos vieram a me conhecer (e viva a Internet!), acho bom avisá-los que por outras quatro vezes já estive ligada a ganhadores do Nobel de Física. O austríaco Wolfgang Pauli ganhou o prêmio em 1945, por ter me proposto em 1930; o italiano Enrico Fermi, ganhador do prêmio em 1938, formulou a teoria que estabelecia a relação entre mim e outras partículas; em 1995, o estadunidense Frederick Reines ganhou o prêmio Nobel por ter me detectado em um experimento realizado em 1953 e; finalmente em 2002, Raymond Davis Jr. e Masatoshi Koshiba ganharam outro Nobel por me detectarem vindo de fontes cósmicas.

Premio_Nobel-_simboloVocê pode não entender muito bem por que sou tão importante assim. Confesso que, em princípio, sua vida não mudará muito mesmo após todas essas descobertas a meu respeito. Mas, em médio e longo prazo, poderei trazer informações muito relevantes sobre o planeta que você vive. E vou mais além: posso também trazer importantes dados a respeito de todo Universo.

Em primeiro lugar, sou a 2ª partícula mais abundante que existe- e lá vem o fóton tomar o 1º lugar, de novo… Em segundo lugar, posso fornecer importantes informações para se entender o balanço de distribuição de energia no Universo, já que sou abundante e estou espalhado em todo lugar dele.

Agora, o maior “bafão” de todos: você se lembra daquele “probleminha” que nem mesmo o genial Albert Einstein conseguiu resolver? A formulação de uma única equação capaz de explicar o funcionamento do mundo micro (mecânica quântica) e do mundo macro (Relatividade Geral)? Pois bem, eu sou mais um elemento que dá força para explicar esses dois mundos e, melhor do que isso, de talvez finalmente uni-los numa única fórmula. Como já me encaixei perfeitamente na família das partículas leves, posso ajudar a explicar o mundo micro. E como estou presente- e em abundância- em todo o Universo, posso também ajudar na compreensão da evolução do mundo macro.

No momento, muitos físicos continuam me estudando, afinal, para começo de conversa, sabem que tenho massa, mas desconhecem seu valor. Mas, se tudo o que dizem a meu respeito for realmente confirmado, tenho certeza que, logo, estarei novamente nas manchetes mundiais. E confesso: adoro todo esse assédio!

Parte das informações acima foram concedidas pelo docente do Grupo de Física Computacional e Instrumentação Aplicada do Instituto de Física de São Carlos (FCIA-IFSC/USP) Luiz Vitor de Souza Filho

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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